Pede-se aos pastores que estimulem o encontro das pessoas com Deus, disse Bergoglio no dia 9 de novembro de 2009
No dia 9 de novembro de 2009, durante a Missa de abertura da 98° Assembleia Geral da Conferência Episcopal Argentina, o cardeal Jorge Mario Bergoglio SJ, arcebispo de Buenos Aires e presidente da Conferência, pronunciou uma homilia que já antecipa algumas grandes linhas de seu pontificado.
A homilia, após recordar as leituras do dia – Ezequiel 47, 1-2, 8-9,12 e João 2, 13-22 –, introduz os temas da contemplação do Templo como lugar da presença de Deus e o da necessidade de purificar o templo da mundanidade.
“Jesus os retira (os cambistas) porque profanam o Templo e impedem, com sua clerical hipocrisia, o encontro do povo com seu Senhor. Não são homens de Deus, simplesmente são mundanos”, disse o cardeal Bergoglio.
Mais adiante acrescentou, em referência aos bispos argentinos presentes no ato: “A nós, pastores, é pedido alentar e custodiar este encontro. Pede-se que sejamos homens de oração e penitência para que nosso povo fiel possa se encontrar com Deus; homens de convocatória, com atitudes de humildade e serviço”.
A Missa de abertura daquela Assembleia serviu para o agora Papa Francisco afirmar a necessidade de que o povo tenha pastores “dedicados a esta tarefa de alentar e cuidar do encontro com Deus, e bem sabemos que, neste trabalho pelo Reino, estamos assediados por tantas tentações de mundanidade”.
Ao trazer para a homilia uma anedota de autocrítica de São Gregório Magno falando do ministério pastoral, o cardeal Bergoglio convidava o clero a “abrir o coração à misericórdia do Senhor para servir melhor e ajudar no encontro de Deus com seu povo”, convidando a um esforço para manter abertas as portas do Templo, do qual flui a água vivificante e salvadora.
Dois anos e meio antes, na Conferência de Aparecida, Bergoglio havia protagonizado, junto com os bispos do continente e do Caribe, uma nova presença da Igreja na história do “continente da esperança”. Nesta homilia, tanto como nos encontros no Brasil, o Papa Francisco se preocupou em reafirmar as linhas de Aparecida.
Naquele novembro de 2009, o cardeal de Buenos Aires recordava que “Aparecida nos pede que nos encontremos com Jesus Cristo e sirvamos nosso povo fiel neste encontro. Esta há de ser fundamentalmente nossa conversão pastoral que nos leva a afastar de nós atitudes velhas que impedem a entrada no Templo”.
Recordando que um dos temas de Aparecida foi justamente a conversão pastoral da Igreja na América Latina, o arcebispo Bergoglio sublinhou que “Jesus nos chama a ser pastores do povo e, se pedirmos a Ele, nos libertará da tentação de nos convertermos em mundanos, em clérigos de estado. Ele caminha conosco, entra no Templo conosco; em sua companhia temos a certeza de que não nos vai abandonar”.
E junto a Ele está sua mãe. Com o texto de Aparecida na mão, ele confirmava sua profunda devoção mariana, tanto dele como de todo o continente americano, pedindo a Ela “que nos ensine a sair de nós mesmos em caminho de sacrifício, amor e serviço, como o fez na visitação a sua prima Isabel, para que, peregrinos a caminho, cantemos as maravilhas que Deus fez em nós conforme sua promessa”.