Nesta entrevista com María Teresa Compte, conheça melhor este âmbito do catolicismo, necessário para “dar razões da própria fé” na sociedade atualMaría Teresa Compte, professora e colaboradora em diversos meios de comunicação, defende que a doutrina social da Igreja (DSI) opera na área econômica com a lógica da gratuidade, mas não de fora, e sim a partir de dentro da economia.
Aos católicos que valorizam apenas os aspectos sociais da Igreja, ela recorda, com palavras do Papa Francisco, que a Igreja "não é uma ONG" e não podemos renunciar aos seus fundamentos.
A respeito das questões doutrinais, às vezes desprezadas inclusive dentro da instituição eclesial, María Teresa sublinha que elas servem para fundamentar a racionabilidade da nossa fé, que precisa ser formulada para ser comunicada.
O Papa Francisco insiste em envolver todos no trabalho com quem sofre. Você acha que ele está nos dizendo que esquecemos da caridade e, por conseguinte, da doutrina social da Igreja?
É evidente que a doutrina social ainda não está incorporada ao DNA de muitos católicos; em muitos seminários, inclusive, ela nem é estudada. Existem aqueles que a confundem e identificam, intencionalmente ou não, com um inventário ou uma análise sociológica.
De João XXIII até nossos dias, os papas sempre insistiram em sua eficácia e em sua natureza evangélica e evangelizadora. Foi Bento XVI quem, em sintonia com o Concílio Vaticano II, dedicou uma encíclica à caridade, como caminho da DSI.
O Papa Francisco se vincula a esta tradição com uma linguagem mais analógica, através do que a realidade torna mais evidente. Talvez isso esteja nos ajudando a enxergar melhor, mas não podemos renunciar às convicções e razões que nos levam a isso; o Papa Francisco nos lembra deste aspecto cada vez que afirma que a Igreja não é uma ONG.
Muitas vezes, o Papa tem um enfoque econômico mais humano, aludindo à responsabilidade na utilização dos bens e contra a "ditadura da economia, inspirada em formas neoliberais", que aumentam a pobreza. Em que aspectos da DSI se enquadram estas palavras?
A expressão "ditadura econômica" foi utilizada pela primeira vez em 1931 por Pio XI, na "Quadragesimo Anno", referindo-se aos processos de concentração da riqueza e do poder econômico naqueles que conduziam o capitalismo industrial.
Bento XVI voltou ao tema, ao pedir, mediante o termo "democracia econômica", a participação efetiva na ordem econômica das empresas, com fins diferentes dos que a mera lógica mercantilista propõe.
Em Lampedusa, o Papa Francisco insistiu no dever dos católicos de conscientizar-se de uma ordem que exclui e marginaliza quem não tem nada a oferecer. A resposta, proposta pela "Caritas in veritate", é introduzir a lógica do dom na ordem econômica, com a clara vontade de produzir valor.
A pobreza tem suas causas, entre elas um sistema econômico que só funciona se os bens da oferta e da demanda têm um preço que se possa pagar, pois o mercado não está interessado na benevolência. A DSI, como nos explica a "Caritas in veritate", opera a partir de outra lógica: a da gratuidade – mas não fora da ordem econômica, e sim dentro dela.
Que aspectos um político cristão deveria viver com relação à sociedade e dentro de suas próprias formações políticas?
Ser fiel à sua consciência, ser virtuoso no exercício da sua profissão, ser livre e não se esquecer jamais de que ele tem uma grande responsabilidade, e está obrigado a prestar contas das suas ações e omissões.
Ao dizer que "a Igreja não é babá dos cristãos", o Papa apela à responsabilidade dos católicos, para que tenham critérios claros sobre as questões atuais e não dependam unicamente das diretrizes eclesiais. Que aspectos da DSI os católicos deveriam conhecer melhor?
Acho que deveriam conhecer todos os aspectos, pois a DSI é uma desconhecida. Quanto à primeira parte da pergunta, nego a maior: o discernimento e a liberdade de consciência não são livre arbítrio. Não podemos esquecer que o sujeito da DSI não são só os leigos, mas a Igreja inteira.
Com sua linguagem direta e simples, o Papa pediu que todos nós sejamos protetores da criação. O que a DSI diz sobre o cuidado do meio ambiente?
A Criação não é o meio ambiente, mas o mundo visível, do qual a natureza é apenas um elemento. Deus colocou a vida e o mundo nas mãos do ser humano, e somos chamados por Ele a fazer da vida e do mundo lugares dignos do homem.
A doutrina social da Igreja já faz parte do seu DNA católico?
Enrique Chuvieco - publicado em 12/09/13
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