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O Papa Francisco incomoda a máfia?

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Lucandrea Massaro - publicado em 18/12/13
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As palavras e ações do Papa Francisco são claras: luta contra armas, drogas e pobreza – terreno em que as máfias proliferamAs organizações criminosas que se desenvolvem junto às formas de corrupção, hoje tão estendidas, “ofendem gravemente Deus, prejudicam os irmãos e atentam contra a criação, mais ainda quando têm conotações religiosas”: estas são palavras do Papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz. Segundo ele, a política deve agir de maneira transparente e responsável, para favorecer uma fraternidade que gere paz social.
 
Obviamente, dizer isso em um país como a Itália tem suas repercussões. Segundo o juiz Nicola Gratteri, há líderes da máfia que estão ficando nervosos. A luta contra a lavagem de dinheiro nas estruturas financeiras da Santa Sé, a denúncia do narcotráfico, da prostituição, do tráfico de pessoas, da adoração do “deus suborno” são contínuas no discurso do Papa Francisco, durante estes nove meses de pontificado – mas também o eram antes, em seu ministério em Buenos Aires.
 
Isso estaria gerando cólera entre os “poderosos chefões” (e grande esperança entre os que lutam contra a máfia), ainda que, segundo um sacerdote como Giacomo Panizza, denunciante ativo da “Ndrangheta” (a máfia de Calábria, no sul da Itália), não há, pelo menos até agora, um perigo direto para o Papa (Linkiesta, 12 de dezembro).
 
Para Dom Vincenzo Bertolone, arcebispo de Catanzaro e postulador da causa do Pe. Puglisi, o famoso padre assassinado pela máfia, o Papa, com sua ação curativa na Igreja, é um exemplo concreto de luta contra as máfias, e explica como mudou a atitude da Igreja com relação aos clãs: “A Igreja nunca ignorou totalmente o fenômeno mafioso, desde o pós-guerra. No entanto, sua compreensão e avaliação amadureceram gradualmente. A publicação, em 1991, do belíssimo e significativo documento dos bispos italianos “Educar na legalidade”, a visita de João Paulo II à Sicília e a morte de Puglisi marcam uma mudança de rumo”.
 
Desde então, explica o prelado ao Vatican Insider (12 de dezembro), “a denúncia civil é normativa, e sempre se acompanha de uma incisiva ação pastoral dirigida à reafirmação dos princípios evangélicos em sua dimensão humana e social. Já foi feita muita coisa, mas ainda resta muito por fazer na conscientização do fenômeno mafioso, não só na Sicília, mas na Igreja inteira. Sem exceções nem dúvidas”.
 
A edição italiana da Aleteia conversou sobre isso com Maurizio Patriciello, pároco de São Paulo Apóstolo, na província de Nápoles. Este padre é muito ativo na denúncia da catástrofe provocada pelo enterro de detritos tóxicos por parte da Camorra, na tristemente conhecida como “terra dos fogos”, com o conseguinte envenenamento da população.
 
Na mensagem para o Dia Mundial da Paz, o Papa condena abertamente o fenômeno mafioso. Você acha que ele está incomodando os mafiosos?
 
O Papa sempre vai incomodar quem tem a consciência suja, e os mafiosos são assim; então, não é de se estranhar que haja alguns “chefões” ressentidos pela ação do Papa Francisco.
 
Como combater a “omertà” (lei do silêncio entre os mafiosos)?
 
Aqui na minha paróquia, eu sempre pergunto: vocês percebem o que significa “omertà”? É “omertà” ou medo? O Estado aqui é fraco e os mafiosos estão muito presentes na vida das pessoas. Infelizmente, aqui acontece que o desejo de normalidade precisa se tornar heroísmo. Aqui, o desejo de normalidade passa por atos de heroísmo e pelo sangue, tristemente.
 
A isso se une uma crise econômica duríssima: quando não se pode fazer mais do que uma refeição por dia, como pretender não ceder a certas tentações? A máfia se torna forte onde o Estado é fraco. É preciso esmagar a cabeça desta serpente, mas é necessário um compromisso forte de todos, começando pelas instituições.

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