O drama dos albinos da África: a doença é considerada uma maldição, e muitas crianças são torturadas e mortas
Na África, a chamada “tribo dos fantasmas”, sombras brancas não caminham, mas somem. É a história dramática dos albinos africanos, denunciada pelo arcebispo de Tabora, na Tanzânia, Dom Paul R. Ruzoka. Fala-se pouco do assunto, e a denúncia do bispo trouxe à tona uma tragédia esquecida.
O bispo usou palavras fortes: “É diabólico. O fato que um similar ‘holocausto’ se verifique nos anos da civilização, anos em que o homem chegou a muitos objetivos, faz com que a situação trágica, aos olhos dos ocidentais que não devem permitir tais sacrifícios (Il Sismografo, 27 de maio). Também o Papa Francisco nos meses passados quis que o drama dos albinos fosse discutido em um seminário de estudo da pontifícia Academia das Ciências, convidando a falar um funcionário da ONU, Cristiano Gentili, que escreveu um livro que denuncia a tragédia dos albinos.
A situação é particularmente grave na Tanzânia, onde também o governo decidiu se ocupar. Segundo o Today.it (10 de maio), “o drama de quem pertence à ‘tribo dos fantasmas’ se tornou uma verdadeira emergência nacional, tanto que o governo quis criar abrigos específicos para centenas de crianças albinas e criou uma força tarefa para investigar os homicídios”.
Na Tanzânia, a cada 1400 nascidos, um é albino. O albinismo é uma doença genética de origem cromossômica que impede a função da melatonina. São tantos porque, para se protegerem, se casam entre eles aumentando o número. Mas o racismo e a superstição, tornam-os verdadeiras presas. A pele deles é especial e o corpo vale uma fortuna. São assassinados e mutilados, às vezes mutilados ainda vivos, porque os feiticeiros acreditam que quanto mais fortes são os gritos de dor de um albino, mais têm valor as partes de seus corpos. Orelhas, narizes, línguas e genitais podem valer até 75 mil euros. A pele no mercado negro pode chegar a 7 mil euros, se for de uma criança. Alguns pensam que ter relações sexuais com um albino pode curar a AIDS, e isso muitas vezes se traduz em violências e estupros.
O bispo lembrou que, em 2007, foram registrados mais de 290 casos de crianças albinas brutalmente atacadas e vendidas a feiticeiros na Tanzânia e em outras partes da África: “Tradicionalmente o albinismo é considerado uma maldição ou um tabu na África – explica John Makumbe, professor albino de Ciência política da Universidade do Zimbábue e presidente da Zimbábue Albino Association (ZAA) -. Muitos crêem que ter um parente albino seja uma punição nas relações de família” (Il Sismografo, 27 de maio).
Até agora, algumas ONGs, nas quais a católica Cuamm (Colégio Universitário Assistentes Médicos Missionários), denunciou o drama dos albinos e se ocupa deles. Após as palavras do bispo de Tabora, também o governo da Tanzânia parece mover-se.