Pode não parecer, mas viver ocupados demais é uma escolha
Você pergunta a um amigo como ele está. Resposta: "ocupado".
É um fenômeno difundido por todos os lugares. Mas os jovens (e os seus empregadores) podem mudar isso.
Foi uma alegria, para mim, ver que Brigid Schulte escreveu um livro chamado “Overwhelmed: Work, Love and Play When No One Has the Time” [Sobrecarregados: trabalho, amor e lazer quando ninguém tem tempo].
Schulte explica: "Eu estava me sentindo desesperadamente ocupada todos os dias, tentando trabalhar em horas loucas e não me contentando em ser apenas boa no que eu faço, mas ótima e surpreendente; depois, em casa, ainda tentava ser uma supermãe".
Eu acho que os jovens de vinte e poucos anos têm a chance de mudar essa dinâmica, se eles se rebelarem um pouquinho contra essa cultura que os circunda.
Por que vivemos tão ocupados?
Somos pressionados a pensar que a vida é algo a ser agendado: ficar sentados numa sala de aula durante três, quatro ou cinco horas, depois academia ou futebol ou vôlei ou natação ou artes marciais, depois aula de música ou de inglês ou de balé ou de reforço acadêmico, depois a lição de casa, depois um jantar apressado e insosso, depois uma curta noite de sono. Os pais de muitos de nós, é claro, nos modelaram desse jeito, trabalhando em tempo integral durante oito horas todo dia e agendando com quatro semanas de antecedência aquele espacinho da tarde de domingo para tentar encontrar o amigo fulano ou beltrano, que também não podia encontrá-los em nenhum outro momento.
Bom, vamos ser justos: podemos argumentar que os nossos pais estavam apenas tentando nos preparar adequadamente para as realidades competitivas da nossa sociedade focada no sucesso material. Mas não podemos deixar de reconhecer a tensão cotidiana entre trabalhar pelo futuro sucesso financeiro e aproveitar a vida agora mesmo. Um artigo de Adam Grant no The New York Times, amplamente compartilhado há algumas semanas, dizia que criar um filho materialmente bem sucedido e criar uma criança carinhosa e emocionalmente madura são tarefas que pedem estilos radicalmente diferentes de paternidade. A corrida pelo sucesso e a felicidade entram muitas vezes em conflito uma com a outra.
Quando a vida é pura preparação para o futuro e não sabemos apreciar o tempo de lazer de hoje, mais cedo ou mais tarde “chegaremos lá”, mas não saberemos fazer mais nada a não ser tentar “chegar mais longe ainda”. Joseph Cunningham observou que o nosso modo de viver de hoje vai influenciar a nossa vida de amanhã. Se permitirmos que a exaustão dite os nossos hábitos e delimite o nosso lazer, vamos estar sempre cansados. Vamos ficar estagnados. Nós e aqueles que vierem depois de nós.
Todos juramos que vamos ser diferentes dos nossos pais. O pêndulo geracional oscila dos pais ausentes aos pais onipresentes e volta. Sabemos que a paternidade ao estilo “corrida pelo sucesso” não é nova. Nas Confissões, Santo Agostinho já lamentava que o pai tivesse investido enormes quantias de dinheiro para lhe dar a "melhor" educação (ou seja, informações e habilidades), mas não se importava em saber como o coração do jovem Agostinho estava sendo moldado: "Fui deixado como um deserto, sem cultivo para ti, ó Deus" (Confissões 2,3). Soa familiar?
A maioria dos meus jovens conhecidos segue um estilo de vida agitado na vida adulta, com o excesso de ocupações e o estresse que vem com ele. Eles não sabem como parar essa espiral. Não sabem ser espontaneamente disponíveis para as coisas não programadas, para as interações da vida real. E, certamente, não têm uma visão clara do que significa “chegar lá”.
O que fazer?
Schulte sugere coisas que os locais de
trabalho poderiam fazer para ajudar os funcionários. Afinal, as pessoas realmente trabalham melhor quando têm mais tempo para respirar: lazer = melhores resultados (Platão poderia ter dito isso).
Mas a chamada “geração do milênio” também vai precisar fazer algumas escolhas. Aqui vão algumas perguntas para você mesmo se fazer:
O que importa mais para você, o trabalho ou outras coisas? Se a resposta é o trabalho, as outras coisas vão sempre sofrer. E, mais cedo ou mais tarde, você mesmo vai ser apenas mais uma das "outras coisas".
Quais são as outras coisas? O que realmente faz a sua vida valer a pena? Quaisquer que sejam as opções, duas delas deveriam ser estas: "relacionamentos" (ou "comunidade", se você preferir) e “lazer”.
Por “lazer”, eu não quero dizer apenas jogos e afins. Quero dizer atividades (ou o descanso delas) em que você tenha tempo livre para pensar e imaginar. Exemplos: ontem à noite, eu dediquei um pouco de tempo a ler um romance de Dorothy Sayers acompanhado de um vinho. Hoje, numa pausa ligeiramente alargada para o almoço, fui dar um passeio. No domingo, minha esposa e eu recebemos um par de amigos e ficamos conversando durante várias horas. Se você acha que a presença de filhos torna essas atividades impossíveis, sugiro ler “Bringing Up Bébé: One American Mother Discovers the Wisdom of French Parenting” [Uma mãe americana descobre a sabedoria dos pais franceses], de Pamela Druckerman, e “Ten Ways to Destroy the Imagination of Your Child” [Dez maneiras de destruir a imaginação do seu filho], de Anthony Esolen.
Invista organicamente nessas coisas. Nosso instinto pode ser o de programar o tempo livre. Mas as coisas programadas raramente são voltadas ao lazer e ao investimento em relacionamentos reais. Não quero dizer que você nunca deva agendar nada. Mas as pessoas que optam na vida por priorizar “as outras coisas” parecem conquistá-las mais facilmente, em especial quando convencem os amigos a fazer o mesmo.
Estou bem consciente de que isto é muito mais difícil do que parece. Liz Horst estava certa ao dizer que a vida moderna é estruturada para tornar tudo isso quase impossível, como se “O Sistema” quisesse ter a certeza de que nunca viveremos uma vida que faça sentido.
Se estivermos construindo a nossa vida em cima de coisas que não queremos priorizar, é hora de fazermos alguma coisa para mudar este quadro.
Como deixar de estar sempre tão ocupados?
Chris Smith
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