As principais falas do Papa na entrevista concedida nesse domingo ao jornalista italiano Eugenio Scalfari, do jornal La RepubblicaEducação
“A educação como nós a entendemos parece quase ter desertado as famílias. Cada um é tomado pelas próprias incumbências pessoais, muitas vezes para assegurar à família um padrão de vida suportável, às vezes para buscar o seu próprio sucesso pessoal, outras vezes por amizades e amores alternativos. A educação como tarefa principal em relação aos filhos parece ter fugido das casas. Esse fenômeno é uma gravíssima omissão, mas ainda não estamos no mal absoluto.”
Práticas torpes impostas às crianças
“Não apenas a educação inexistente, mas também a corrupção, o vício, as práticas torpes impostas à criança e, depois, praticadas e atualizadas cada vez mais gravemente, assim que ela cresce e se torna moço e, depois, adolescente. Essa situação é frequente nas famílias, praticada por parentes, avós, tios, amigos da família. Muitas vezes, os outros membros da família estão conscientes disso, mas não intervêm, enredados por interesse ou por outras formas de corrupção.”
Pedofilia
“A Igreja luta para que o vício seja debelado e a educação, recuperada. Mas nós também temos essa lepra em casa. Muitos dos meus colaboradores que lutam comigo me tranquilizam com dados confiáveis que avaliam a pedofilia dentro da Igreja em nível de 2%. Esse dado deveria me tranquilizar, mas devo lhe dizer que realmente não me tranquiliza. Ao contrário, eu o considero gravíssimo. Os 2% de pedófilos são sacerdotes e até bispos e cardeais. E outros, ainda mais numerosos, sabem, mas se calam, punem, mas sem dizer o motivo. Eu acho insustentável esse estado de coisas, e a minha intenção é enfrentá-lo com a severidade que exige.
Inspiração em Jesus para combater esses criminosos
“Jesus amava a todos, até mesmo os pecadores que ele queria redimir, dispensando o perdão e a misericórdia, mas, quando usava o bastão, empunhava-o para expulsar o demônio que tinha se apossado daquela alma.”
Arrependimento e misericórdia divina
"Nós não julgamos, mas o Senhor sabe e julga. A sua misericórdia é infinita, mas nunca cairá em uma armadilha. Se o arrependimento não é autêntico, a misericórdia não pode exercer o seu papel de redenção."
Escolha do mal
"A consciência é livre. Se escolher o mal, porque está segura de que dele derivará um bem do alto dos céus, essas intenções e as suas consequências serão avaliadas. Nós não podemos dizer mais, porque não sabemos mais. A lei do Senhor é o Senhor que estabelece, e não as criaturas. Nós sabemos somente porque foi Cristo que nos disse que o Pai conhece as criaturas que criou, e nada para ele é misterioso. Além disso, o livro de Jó examina a fundo esse tema. Seria preciso examinar a fundo os livros sapienciais da Bíblia e o Evangelho quando fala de Judas Iscariotes. São temas de fundo da nossa teologia subjacente."
Máfias
"Não conheço a fundo o problema das máfias. Sei, infelizmente, o que elas fazem, os crimes que são cometidos, os enormes lucros que as máfias administram. Mas me escapa o modo de pensar dos mafiosos, os chefes, os gregários. Na Argentina, como em todos os lugares, há os delinquentes, os ladrões, os assassinos, mas não as máfias. É esse aspecto que eu gostaria examinar, e vou fazer isso lendo os tantas livros que foram escritos a respeito e os muitos testemunhos. Devo acrescentar que alguns sacerdotes tendem a passar por cima do fenômeno mafioso. Naturalmente, condenam os crimes individuais, honram as vítimas, ajudam como podem as suas famílias, mas a denúncia pública e constante das máfias é rara. O primeiro grande papa que a fez, justamente falando nestas terras, foi Wojtyla. Devo dizer que o seu discurso foi aplaudido por uma multidão imensa."
Celibato sacerdotal
"Talvez você não saiba que o celibato foi estabelecido no século X, isto é, 900 anos depois da morte de nosso Senhor. A Igreja católica oriental tem a faculdade, desde já, de que os seus presbíteros se casem. O problema certamente existe, mas não é de grande entidade. É preciso tempo, mas as soluções existem, e eu as encontrarei.
Cf. ”Como Jesus, vou usar o bastão contra os padres pedófilos", diz Papa Francisco