Francisco visitou um país que tem 10% de católicos e que a cada ano celebra 100.000 batizados
O Papa Francisco concluiu nesta segunda-feira, em Seul, a primeira viagem de um pontífice ao continente asiático em 15 anos com um apelo emocionante pela união entre os coreanos do Norte e do Sul, que, em suas palavras, "são uma família".
A súplica, pronunciada em uma missa pela paz e a reconciliação na catedral Myeongdong de Seul, coincidiu com o início dos exercícios militares anuais dos exércitos sul-coreano e americano, condenados mais uma vez pelo regime de Pyongyang.
Com sua retórica habitual, o Norte, que na quinta-feira lançou mísseis táticos ao mar em uma coincidência com o desembarque do papa, advertiu que os exercícios podem levar a península "à beira da guerra".
Na homilia, pronunciada na presença da presidente Park Geun-Hye, batizada como católica, Francisco se dirigiu aos coreanos, divididos em dois Estados desde o fim da guerra de 1950-1953.
O papa os convidou "como cristãos e como coreanos a rejeitar com força uma mentalidade fundada na suspeita, divisão e competitividade".
Como fez durante toda a visita de cinco dias, em nenhum momento o pontífice citou os dirigentes comunistas de Pyongyang, nem se dirigiu a eles.
O Vaticano não mantém relações diplomáticas com o Norte, onde uma pequena comunidade católica é reconhecida, mas ao mesmo tempo severamente controlada. O regime norte-coreano chegou a ironizar a visita do que chamou de "pseudopapa" ao Sul capitalista.
Diante do altar foi instalado um rolo de arame farpado em recordação a uma ferida provocada por uma divisão herdada da Guerra Fria e que ainda afeta 70.000 famílias.
"A missa de hoje é sobretudo uma oração pela reconciliação desta família coreana", disse o chefe da Igreja Católica.
"É todo um povo que dirige sua dolorosa súplica ao céu", disse.
Estabilidade da região
"O perdão é a porta que leva à reconciliação e, portanto, rezamos para que surjam novas oportunidades de diálogo, de encontro e de superação das diferenças", completou, antes de pedir "generosidade na entrega de assistência humanitária".
Francisco também saudou oito idosas que estavam entre o público e que foram "confort women", coreanas recrutadas à força e levadas para os bordéis do exército japonês durante a Segunda Guerra Mundial.
"Um gesto pastoral e não político", explicou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.
Segundo os historiadores, quase 200.000 mulheres de diferentes países ocupados serviram nos bordéis japoneses. Em 1993, o Japão apresentou um pedido de desculpas oficial à Coreia, mas o tema continua sendo muito delicado.
O ‘câncer da desesperança
Na primeira visita de um papa ao continente asiático desde a viagem de João Paulo II em 1999 à Índia, Francisco escolheu um país que tem 10% de católicos e que a cada ano celebra 100.000 batizados.
Apesar da expansão no continente, os católicos não representam mais que 3,2% da população asiática.
Na China, entre cinco e 12 milhões de católicos estão divididos entre uma Igreja oficial que não reconhece a autoridade papal e uma Igreja clandestina fiel ao Vaticano.
Ao longo da visita à Coreia do Sul, onde milhões de pessoas acompanharam suas missas com fervor, Francisco criticou em vários momentos a corrupção moral provocada pelo materialismo.
Diante dos cardeais e dos jovens, o bispo de Roma exaltou "a esperança do Evangelho" ante "o espírito de desesperança que parece crescer como um câncer" em uma sociedade submetida a "modelos econômicos desumanos".
As mesmas causas, segundo ele, "alimentam uma cultura da morte que desvaloriza a imagem de Deus, o Deus da vida", em uma referência ao suicídio, ao aborto e à eutanásia.
(AFP)