Os comentários do Papa Francisco sobre os elementos constitutivos da vida
Na coluna “Principio y Fundamento” da revista “Ediciones Mensajero” de Bilbao, o Papa Francisco, repetindo um texto editado em Buenos Aires, publicou “Reflexões espirituais sobre a vida apostólica”.
Trata-se sobretudo de meditações que aproveitam a sugestão do comentário dos Exercícios Espirituais de Santo Inácio de Loyola, explicou Claudio Magris, em um artigo no jornal italiano Corriere della Sera. O Papa vai a fundo nos elementos constitutivos da fé, mas antes ainda da vida, como a culpa, a misericórdia, o desejo, a magnanimidade, a mesquinharia, o conhecimento e a turva acusação de si mesmo, a dúvida e a incerteza, o amor, a força de vontade e a graça.
O artigo apresenta três citações, três frases de outros escritores, que o autor parece confiar suas palavras; três pontos de referência e de orientação.
A primeira é de um padre jesuíta, Alonso de Barzana, que fala do desejo de se dividir em mil para poder estar com todas as pessoas amadas nos mais diversos países da Terra.
A segunda é uma estrofe de uma poesia de Nino Costa – provavelmente homenagem à própria origem e aos próprios pais e avós, aos quais é dedicado o artigo – que fala da melancolia de uma paisagem, do silencioso cansaço do trabalho e de um túmulo em um cemitério estrangeiro, com a ousadia da canção popular que mistura as coisas próximas e distantes.
A terceira citação foi colocada significativamente no meio da página. São duas linhas, dois versos: “O último pedaço para as montanhas/que o floresça de rosas e flores”. Dois versos da canção alpina “O capitão da companhia que se feriu e está para morrer”, chama os outros para que, depois de morto, cortem o seu corpo em cinco pedaços dando um para a pátria (ao Rei, dizia a versão original), um para a companhia, um para a mãe para se lembrar do seu filho, um para sua bela para se lembrar de seu primeiro amor e o último para as montanhas, que o floresça de rosas e flores.
O texto fundamental de um grande santo, uma grande figura histórica e o seu comentário escrito por um Papa são confiados à superior verdade humana de uma canção que fala, com uma simplicidade inconsciente e não necessitada de literatura, de amor e amizade. Concluindo, pão e vinho na comunhão, como uma taberna com os amigos.
Talvez este Papa que, fiel à advertência evangélica de ser simples como os pássaros e astuto como as serpentes, está mudando a Igreja com o ar tranquilo da vida diária normal que desarma pela raiz qualquer reação e está também ensinando novamente os homens a rezar.