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Mentiras no casamento, passaporte para o fracasso

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Orfa Astorga - publicado em 24/09/15
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Mentir é uma forma de infidelidade muito comum, mas pode se transformar em uma doença fatalMinha esposa e eu passamos por uma fase na qual deixamos de levar a sério nosso trato pessoal, comprometendo gravemente nosso casamento. Começamos sendo cúmplices do que considerávamos ser desculpas práticas, desde a forma de evitar atender o telefone ou a porta, até todos aqueles problemas ou compromissos dos quais queríamos fugir, recorrendo sempre ao “diremos que…” – de comum acordo e conscientes, ambos, de que mentíamos.

Éramos jovens e realmente tínhamos acentuados traços de imaturidade e insegurança que deveríamos resolver em suas causas, para evitar mentir. Primeiro, reconhecendo a negatividade da mentira e, depois, colocando os meios, esforçando-nos por adquirir as virtudes necessárias a partir da humildade, para conseguir ser verazes. Mas, ao invés disso, decidimos dar carta de neutralidade ao que não era verdade.

Mesmo sem reconhecer, pouco a pouco fomos perdendo a confiança, pois, mentindo a terceiros, acabamos mentindo entre nós mesmos, e não só com palavras; aprendemos também a mentir com o tom, os gestos e muitas expressões corporais, em hábil manipulação de um com o outro.

Assim, nós nos instalamos em uma forma de relação na qual a linguagem se tornou um inumano falatório, que não manifestava a nossa intimidade pessoal, a fonte do nosso amor. Um amor que começou a minguar, pois o amor, sendo pessoal, precisa, por sua vez, da humildade pessoal para retificar os erros e reconstruir-se nessa humildade volta ao outro.

Ao nos negarmos a isso, acabamos também mentindo com nossas ações, desprestigiando-nos, humilhando-nos mutuamente. Quando, por períodos cada vez mais longo, deixávamos de nos falar, causávamos um grande dano um ao outro, pois o silêncio é a maior falsidade.

Minha esposa e eu recebemos ajuda profissional, aprendemos gradualmente e com esforço a vencer a inércia deste mal moral. Voltamos à tarefa de comunicar-nos sobre a verdade das promessas feitas no consentimento do nosso matrimônio e de evitar nossa maior mentira: ser um mal esposo ou esposa.

Em nosso casamento, escutamos o sacerdote perguntar: “você promete ser fiel na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-a(o) e respeitando-a(o) todos os dias da sua vida…?”. E a mentira não cabe em absoluto nesta promessa de amor pleno e total.

Muitos casais não sabem disso ou não admitem, mas mentir, ainda que seja por motivos graves, é uma forma de infidelidade bem comum, que pode chegar a se tornar uma doença fatal.

As causas mais comuns da mentira no casamento têm solução, se, com humildade, trabalha-se isso, evitando que se propaguem em matérias cada vez mais graves.

Alguns exemplos dessas mentiras que parecem pequenas, mas que podem gerar grandes problemas no futuro:

– Por trabalhar mal e justificar um incumprimento: pedir ao cônjuge que ligue para o trabalho e diga que está doente, quando na realidade passou a noite toda assistindo televisão.

– Para evitar compromissos: não desejar participar de uma comissão na sociedade de pais de família da escola do filho, ou ir ao casamento de um parente etc.

– Por falhar a um compromisso: o esquecimento do aniversário de casamento, o jantar na casa dos sogros etc.

– Por aceitar um compromisso que você sabe que não vai cumprir: uma dívida, a visita a algum doente, a ajuda na coleta para vítimas de alguma catástrofe natural etc.

– Por desconfiança e medo da reação do outro: um acidente de carro ou uma infração de trânsito.

– Para evitar incompreensões: dizer que não se está preocupado, que é só uma dor de cabeça etc.

– Para evitar incômodos: encobrir a má conduta de um filho ou o custo de uma reparação doméstica.

– Por ter tomado uma má decisão e não reconhecer um erro ou um fracasso: um mau investimento, uma mudança de trabalho.

– Por tentar não ficar mal na frente dos outros: diante da pergunta do filho que faz a tarefa, ou do esquecimento de uma compra na volta do trabalho.

– Por não aceitar uma limitação pessoal: um trabalho difícil ou excessivo, que se aceitou com o objetivo de ganhar mais dinheiro.

– Para manipular ou impor-se de forma egoísta: dizer que se sente muito doente para desviar a atenção de um mau comportamento.

– Para evitar dar maiores explicações sobre onde se esteve e com quem: ligar e dizer que está no escritório com muito trabalho, quando na verdade está em outro lugar com os amigos.

– Para não ter de prestar contas sobre o gasto de dinheiro: argumentar sobre um problema mecânico ou um gasto em uma área que o outro cônjuge não domina.

– Para impressionar ou construir um falso prestígio: exagerar sobre as conquistas do passado que não podem ser comprovadas.

– Por mágoa contra alguém, buscando compartilhar ou impor o sentimento no cônjuge: o clássico problema com os vizinhos.

– Por ironia, rindo de alguém buscando que o cônjuge participe: por inveja de alguém que tem sucesso profissional.

A linguagem convencional não deve ser usada de qualquer maneira, mas empregada com virtude, ou seja, com veracidade. Não existem mentiras “brancas”, úteis, inocentes, piedosas: todas são mentiras, um câncer da linguagem e do espírito.

As mentiras se transformam em escola de ambiguidade, dissimulação, fraude, vida dupla, e desembocam finalmente na perda da confiança, destruindo as relações entre as pessoas.

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