Papai e mamãe não podem jamais esquecer que, antes ainda de serem pais, já eram um casal – e continuam sendo!É verdade que há crise no casamento quando chega um filho?
Sempre há grandes mudanças, mas só algumas vezes há “crises” no sentido atual e turbulento desse termo (afinal, a palavra “crise”, em seu sentido original grego, significa “momento de julgar, de avaliar, de ter critério, de fazer uma crítica” – e esta postura de discernimento é necessária o tempo todo).
De qualquer modo, é importante prestar atenção a vários fatores para evitar o risco das turbulências.
O nascimento de um filho é um dos momentos mais sublimes que alguém pode chegar a viver! Naturalmente, um acontecimento tão transcendente envolve mudanças na relação do casal. O matrimônio vive um antes e um depois do nascimento dos filhos, porque a paternidade e a maternidade desafiam a vida de qualquer pessoa em todos os âmbitos – inclusive, é claro, no âmbito conjugal.
Em entrevista ao jornal espanhol ABC, a psicóloga clínica Olga Carmona comenta:
“Um casal é um sistema que tem seu equilíbrio próprio, um sistema que cobre as suas necessidades afetivas, diferentes para cada casal. Quando chega um filho, o binômio salta pelos ares e se transforma em um triângulo, com o casal agora a serviço das necessidades de um terceiro que exige muita energia em termos de afetividade e de presença. O casal transfere o olhar para alguém que não é mais o cônjuge, ou, pelo menos, que não é mais o cônjuge na mesma proporção de antes (…) Nós somos tremendamente resistentes às mudanças. Sentimos segurança na inércia, naquilo que já conhecemos, e a chegada de um filho é, provavelmente, uma das maiores mudanças vitais que um ser humano pode experimentar”.
Diferenças entre mãe e pai
Homens e mulheres não vivem a paternidade e a maternidade da mesma forma. A psicóloga explica:
“No caso das mulheres, a mudança vai desde o físico e bioquímico até o mundo emocional, que é ‘assaltado’ pela forma de amar mais intensa possível. Nós, mulheres, nos colocamos de corpo e alma a serviço das necessidades de todo tipo de um ser que percebemos que é, porque é mesmo, absolutamente vulnerável. Esse terremoto vital, somado ao cansaço físico e, em muitos casos, à sensação de transbordamento psíquico, nos desconecta temporariamente do mundo. Acontece que, no mundo ‘exterior’, também está o nosso marido”.
“Para os homens também é uma mudança brusca e, muitas vezes, desconcertante. Eles também podem chegar a se sentir esgotados, às vezes deslocados por essa fusão que acontece entre mãe e filho. Eles também têm que aprender um papel que até agora era desconhecido”.
Como evitar, então, a rotina e o “esquecimento” do cônjuge?
Olga Carmona recomenda: “É importante que o casal se reconecte, não se desconecte”.
Reconectar-se é voltar a dirigir o olhar para o cônjuge, buscar momentos e espaços que favoreçam aquele afeto que deu origem aos filhos; espaços e momentos para afastar-se da rotina exigente, abrir parênteses em que o casal volta a ser protagonista, fortalecer o vínculo.
“É tão fácil quanto frequente que as demandas imprescindíveis dos filhos nos arrastem ao quase esquecimento de que também somos homens e mulheres, não exclusivamente pais e mães, e de que ser pais e mães e ao mesmo tempo homens e mulheres não só não é incompatível, mas fundamental. Nossos filhos precisam de uma referência de solidez que é preciso esforçar-se para garantir. E isto demanda um planejamento que, antes da chegada dos filhos, era bem mais simples, mas que continua sendo imprescindível”.
5 dicas para os novos papais e mamães
O nascimento de um filho tem o poder extraordinário de unir o casal, além de torná-lo mais maduro e sólido: mas não se trata de um “efeito automático” – ele exige esforço e compromisso de ambos os cônjuges, que devem levar em conta o seguinte:
- As mulheres precisam dos maridos mais do que nunca, e não para repreendê-las, mas para apoiá-las. Elas não estão fazendo o papel de vítimas, e sim passando uma montanha-russa emocional que demanda paciência e todo o seu amor.
- Procurem ser a fortaleza um do outro nas horas difíceis, como naquela noite mal dormida, na eventual doença do bebê, nos problemas do trabalho… Esta nova etapa do matrimônio precisa vir acompanhada de altos níveis de compreensão, sacrifício e muito, muito amor verdadeiro – que não é feito só de palavras, embora também exija, como sempre, palavras de carinho.
- Conversem! Digam um para o outro o que sentem, especialmente os homens, que costumam ser menos expressivos. Não há nada de errado em dizer à esposa que sente a sua falta, que tem saudades dos momentos a dois. Com carinho, tudo é bem recebido.
- Não abandonem a sua aparência física. O cansaço e a falta de tempo podem fazer com que os cuidados pessoais fiquem em segundo plano; porém, cuidar-se é um quesito básico na relação de casal.
- Pequenos “encontros” são uma prioridade. Se vocês querem dar ao seu filho o maior dos presentes, dediquem-se tempo de casal! Deixar o bebê aos cuidados de familiares ou pessoas próximas e de grande confiança durante uma hora ou duas a cada certos dias não transformará a mamãe em “monstra irresponsável”: muito pelo contrário, poderá ajudá-la a ser sempre, além de ótima mamãe, também uma ótima esposa. É claro que o mesmo vale para o papai.
Um filho é o fruto sublime de um vínculo único entre pai e mãe. Pai e mãe, portanto, não podem jamais esquecer que, antes ainda de serem pais, já eram um casal. E continuam sendo!
______________
Artigo publicado originalmente por Lafamília.info