“Ser profeta é emprestar a nossa voz humana à Palavra eterna, esquecendo-nos de nós mesmos para que seja Deus que manifesta sua onipotência”“É verdade, há muito a recordar e nos faz bem recordar”, disse o Papa no discurso pronunciado em espanhol aos membros desta Ordem de frades que na Idade Média se substituíam em resgate de escravos e prisioneiros. “Mas, esta memória não deveria limitar-se a uma exposição do passado, mas deve ser um ato sereno e consciente que nos permita valorizar os nossos sucessos sem esquecer os nossos limites e, sobretudo, enfrentar os desafios que a humanidade coloca. Este capítulo pode ser uma ocasião privilegiada para um diálogo sincero e profícuo que não se satisfaz com um passado glorioso, mas examina as dificuldades encontradas neste caminho, as vacilações e também os erros. A verdadeira vida da Ordem seja procurada no contínuo esforço de adequar-se e renovar-se, a fim de dar uma resposta generosa às reais exigências do mundo e da Igreja, permanecendo fiéis ao patrimônio perene do qual sois depositários”.
“Com este espírito – prosseguiu o Papa – podemos realmente falar de profecia, sendo que de outra forma não podemos. Porque ser profeta é emprestar a nossa voz humana à Palavra eterna, esquecendo-nos de nós mesmos para que seja Deus que manifesta sua onipotência na nossa fraqueza. O profeta é um enviado, um ungido que recebeu o dom Espírito para o serviço do santo povo fiel de Deus. Também vós tendes recebido um dom e tendes sido consagrados para uma missão que é uma obra de misericórdia: seguir Cristo que leva a boa nova do Evangelho aos pobres e a libertação aos prisioneiros. Caros irmãos, a nossa profissão religiosa é um dom e uma grande responsabilidade, porque a carregamos em vasos de argila. Não nos fiemos de nossa própria força, mas confiemo-nos sempre à misericórdia de Deus. Vigilância, perseverança na prece, no cultivo da vida interior são os pilares que nos sustentam. Se Deus está presente na vossa vida, a alegria de levar o Evangelho será a vossa força e a vossa alegria. Deus nos chamou para servi-lo na Igreja e na comunidade. Apoiai-vos neste percurso comum, porque a comunhão fraterna e a concórdia em boas ações dão testemunho, antes das palavras, da mensagem de Jesus e do seu amora pela Igreja”.
O profeta, disse ainda o Papa, “sabe ir às periferias, das quais se aproxima livre de bagagens. O Espírito é um vento suave que nos impele em frente. Evocar o que moveu os vossos Pais e aonde os dirigiu, nos empenha a seguir os seus passos. Eles estiveram em condições de ficar como reféns junto aos pobres, aos marginalizados, aos excluídos da sociedade, para consolá-los, sofrer com eles, completando com a própria carne o que falta à paixão de Cristo. E isto um dia após o outro, na perseverança e no silêncio de uma vida livre e generosamente doada. Seguir estes predecessores é compreender que, para resgatar, devemos tornar-nos pequenos, unir-nos ao prisioneiro, na certeza de que assim não só satisfaremos o nosso objetivo de redimir, mas encontraremos também nós mesmos a verdadeira liberdade, porque no pobre e no prisioneiro reconhecemos presente o nosso Redentor”
Por isso, no octingentésimo aniversário da ordem, é oportuno “proclamar o ano da graça do Senhor” a todos aqueles aos quais vos enviou: “Os perseguidos por causa da fé e os prisioneiros, as vítimas de tráfico e os jovens nas escolas, quem espera pelas obras de misericórdia, os fiéis das paróquias e das missões que lhes foram confiados pela Igreja”.
Por Iacopo Scaramuzzi, publicada no Vatican Insider, 02-05-2016
(Com IHU)