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Como posso amar um pai que nunca me amou?

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Orfa Astorga - publicado em 24/06/16
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Anote isso no seu coração: “Nunca é tarde!”Estávamos no enterro do meu avô. Meu pai olhava com tristeza e carinho para o caixão. E foi nesse momento que ele começou a me contar, com voz baixa, sua história:

Durante minha infância, juventude e boa parte da vida adulta, nunca conheci meu pai suficientemente nem confiei nele. Ele era um homem duro que não manifestava carinho aos seus filhos nem à minha mãe. Ainda muito jovem, fui embora de casa; evitei meu pai durante anos, pois ele me remetia a ressentimentos que eu desejava verdadeiramente superar.

Meu pai era para mim uma referência de medo, temperamento irracional e autoridade tirânica, que sempre exigiu de mim obediência forçada como a de um escravo, e não a obediência livre que nasce do amor de um filho. Demorei muitos anos para superar isso, contando especialmente com a ajuda da sua mãe.

Finalmente, decidi perdoá-lo, como um importante degrau em minha superação espiritual e psicológica. E foi a partir desta decisão que eu me surpreendi recordando vivências através das quais pude ver os traços de bondade que existiam nele. Senti muita paz quando percebi que honrar é uma forma de amar.

O tempo passou, minha mãe faleceu, meu pai foi se debilitando e eu decidi levá-lo para minha casa e cuidar dele. Saíamos para passear todas as tardes, conversávamos sobre temas cotidianos, sem nenhuma referência à nossa complicada relação do passado. Certa vez, ele encontrou um dos seus amigos e me apresentou sem disfarçar com seu orgulho.

Em um ambiente de amor, seu avô foi mudando pouco a pouco, e esta é a parte da história que você viveu, vendo-o como avô nobre e bondoso. Ele aprendeu que “amor com amor se paga”, e percebi que ele se esforçou bastante nesta tarefa. Isso curou minhas antigas feridas.

Um dia, com muita dificuldade, com voz quebrantada e frases curtas, ele me contou da sua vida, da dureza na qual havia crescido, de como havia repetido comportamentos errôneos e de qual arrependido estava. Compreendi que esse era o seu jeito de pedir perdão. Pouco tempo depois, ele faleceu.

Meu pai ficou em silêncio enquanto seu olhar percorria o caixão, até fixar-se no crucifixo que estava na parede, e se recolheu em oração.

Meu pai foi capaz de dar o que não havia recebido.

Abracei-o com amor e gratidão.

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