Uma das experiências mais fortes para o bispo Bolen foi justamente a de sentar-se com um gorro para pedir esmola
Por Giorgio Bernardelli
Ele pediu esmolas pelas ruas para poder comer. Viveu as dificuldades para encontrar um lugar para se lavar ou onde lhe prescrevessem um remédio. Passou uma noite em um catre de dormitório público. Todas estas são fadigas diárias na vida de uma pessoa sem teto; mas, são um pouco menos cotidianas se quem as realiza é o bispo de uma cidade. Mas, foi justamente isso o que viveu durante 36 horas dom Donald Bolen, que desde 2009 é bispo de Saskatton, no Canadá, e a quem justamente na segunda-feira passada o Papa Francisco nomeou arcebispo de Regina, na mesma Província de Saskatchewan.
Dom Bolen (de 55 anos, originário de Gravelbourg e com alguns meses de experiência no Vaticano como oficial do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos) aderiu a uma campanha de sensibilização sobre as pessoas sem teto promovida pela entidade local Sanctum Care Group, que se ocupa em oferecer ajuda aos doentes de aids.
Participaram 10 personalidades de Saskatoon: desde o coordenador da comunidade nativa até um professor universitário, passando pelo cantor “folk” o ex-policial e, efetivamente, o bispo (que, além disso, é membro do conselho do Sanctum Group). Todos eles tiveram que viver de maneira incógnita durante um dia e meio nas ruas, em uma espécie de “reality show”. Roupa de segunda mão e sem nada de dinheiro; carregavam somente um celular para poderem ser localizados a qualquer momento. Cada um dos participantes tinha uma tarefa, para que sentissem verdadeiramente nessas poucas horas como é a vida de uma pessoa sem teto.
Depois, terminadas as 36 horas, uma janta de gala. Ocasião para angariar fundos para um novo centro que se ocupará dos cuidados pré-natal para os filhos de mães com aids; mas também para ouvir as experiências de cada um dos participantes da iniciativa, para que contassem o que viveram nas 36 horas anteriores.
“A sensação mais forte – disse dom Bolen – é a de experimentar toda a vulnerabilidade das situações nas quais nos encontramos. No bairro onde moro há muitas situações que eu conhecia, tinha ouvido falar, mas aí tive a oportunidade de vivê-las na pele, de experimentar a dureza e o sofrimento que existe a poucos passos da minha casa, bem como a alegria das relações simples entre as pessoas”.
“Diminuir o passo e estar presente de verdade nas ruas do bairro me fez compreender muitas coisas – acrescentou. Quando você vai devagar, quando se torna vulnerável, quando a realidade leva você a enfrentar qualquer situação e entrar em uma relação para ter um diálogo, há tantas coisas que se aprende”.
Uma das experiências mais fortes para o bispo Bolen foi justamente a de sentar-se com um gorro para pedir esmola em uma esquina da Rua 20, no centro da cidade. “Eu estava com o Félix (o coordenador da comunidade nativa, ndr). Ficamos aí mais de uma hora. Além de seus parentes que passaram para saudá-lo e outra pessoa que lhe disse ‘Olá’, ninguém nos dirigiu sequer um olhar. Foi a experiência da invisibilidade das pessoas sem teto e de todos os que são pobres ou fracos”.
Um gesto concreto para compartilhar estas experiências, em sintonia com o estilo que desde o princípio marcou o ritmo do episcopado de dom Bolen. Em 2009, quando o Papa Bento o nomeou bispo, escolheu como lema uma frase de Thomas Merton, na qual a palavra “misericórdia” aparece três vezes: “Misericórdia na misericórdia na misericórdia”. Uma frase com a qual o monge estadunidense resumia seu olhar de Deus sobre o profeta Jonas.
É o estilo que acompanhará dom Bolen também em seu novo ministério na Arquidiocese de Regina, com um território enorme, mas em que vivem menos de 500 mil pessoas. Em uma entrevista ao canal de televisão inglesa da Rádio Vaticano, Bolen disse, após tomar conhecimento da nomeação como arcebispo de Regina, que continuará “servindo aos que vivem à margem e nas periferias”, com uma particular atenção pelas populações nativas.
“Vou procurar caminhar com eles – disse –, aprendendo deles e comprometendo-me na forma de diálogo que é possível agora”. E também seguirá como modelo a maneira que o Papa Francisco consegue manter juntos o pedido de justiça do ponto de vista das estruturas sociais e a disponibilidade de não perder de vista “o pobre ou aqueles que têm necessidades concretas e que se encontram na rua”. “Fazer estes dois aspectos dialogarem – concluiu – é encarnar de maneira confiável a Doutrina Social da Igreja”.