Por Luis Badilla
O rei do Marrocos convida muçulmanos, cristãos e judeus para enfrentar juntos o “fanatismo e o ódio”. São palavras significativas ditas pelo soberano Mohamed VI ao país, dirigindo-se especialmente aos cinco milhões de marroquinos que vivem no exterior. “Diante da proliferação da difusão do obscurantismo em nome da religião, todos os muçulmanos, cristãos e judeus devem construir uma frente comum para enfrentar o fanatismo, o ódio e o isolamento em todas as formas”, disse o rei.
Mohamed VI pediu aos seus concidadãos para serem pacientes, apoiarem a paz e viverem em harmonia com os outros. Pediu, além disso, para “manter o empenho sobre os valores de sua religião, assim como em suas antigas tradições”: esta é a melhor resposta para o fenômeno jihadista “alheio a eles”.
“Condenamos com veemência o assassinato de pessoas inocentes”, disse o rei do Marrocos, fazendo alusão à morte do idoso padre francês decapitado em sua igreja, qualificando como uma “loucura imperdoável” o assassinato “de um padre em uma igreja”. “Aqueles que incitam ao homicídio e à agressão” servindo-se do Corão “não são muçulmanos”, disse Mohamed. “Os terroristas que agem em nome do Islã são indivíduos equivocados, condenados ao inferno para sempre”.
O rei observou que o jihadismo “explora alguns jovens muçulmanos, especialmente na Europa, aproveitando-se de sua ignorância da língua árabe e do verdadeiro Islã, para transmitir-lhes mensagens e promessas falsas e equivocadas”. O monarca do Marrocosnão esqueceu as responsabilidades de “muitos grupos e instituições islâmicas” que pretendem representar “o verdadeiro Islã” promovendo a “difusão de uma ideologia extremista”.
O discurso do soberano marroquino é feito pouco depois da divulgação do texto de uma carta dirigida a Francisco pelo Grão Aiatolá iraniano Makarem Shirazi di Qom, com a qual o expoente islâmico xiita agradece ao Pontífice as palavras usadas durante a sua recente viagem à Polônia a propósito do terrorismo. O Papa negou-se a identificar a violência fundamentalista com a religião islâmica.
É interessante destacar como Shirazi, na carta, considera importante a tomada de posição dos líderes religiosos de todo o mundo contra qualquer violação da dignidade das pessoas, em especial aquelas levadas a cabo em nome da religião. E recorda ter condenado o assassinato do padre Hamel definindo-o como “um violento ataque terrorista” utilizando a palavra “takfir”, que para o Islã é sinônimo de máxima falta de piedade. Com realismo, o aiatolá Makarem Shirazi recorda que os grupos jihadistas ainda não foram destruídos porque são apoiados por “potências arrogantes”. Uma maneira para recordar o papel daqueles que financiaram e apoiaram os grupos terroristas com finalidades políticas e econômicas, explorando-os como aliados úteis nas guerras, para depois dar-se conta de ter criado monstros incontroláveis.
E, novamente, hoje, durante o Meeting de Rímini, o grande mufti da Croácia, Aziz Hasanovic, observou que quem mata inocentes, sobretudo judeus e cristãos, porque pertencem às três grandes religiões monoteístas, “não é muçulmano”, porque o Corão diz que se deve fazer o contrário.
O verdadeiro problema para Hasanovic, que recentemente se reuniu com o Papa Francisco, “é a ignorância e a generalização”. Porque, explica, “o terrorismo é a consequência da ignorância e da manipulação do ensinamento do Corão, do doutrinamento sectário. O Corão diz que matar um inocente é como matar o mundo inteiro”.
Três tomadas de posição que se somam à expressada por Al Azhar e à iniciativa dos muçulmanos que, na França e na Itália, manifestaram sua solidariedade com os cristãos após o bárbaro homicídio do padre Hamel.