Por Domenico Agasso Jr
O Papa à Cáritas: o mundo está dominado pela “cultura do descarte”, pela indiferença e pelo egoísmo (problemas “do coração”); por isso, necessitamos de uma “rebelião” com a solidariedade.
Em um mundo dominado pela “cultura do descarte” temos necessidade de uma espécie de “rebelião”. A “grande doença de hoje é a ‘cardioesclerose’”; por isso, necessitamos de “uma revolução da ternura”, disse o Papa Francisco ao falar, sem ler o discurso que tinha preparado, aos dirigentes da Caritas Internationalis. Porque a ternura “é proximidade, é o grande gesto do Pai para nós: Deus se fez próximo, se fez como nós, ele é a condescendência do Pai”.
Depois da saudação do presidente da Cáritas, o cardeal filipino Luis Antonio Tagle, o Pontífice fez uma revelação: “Eu lhe fiz uma proposta: eu estou com o discurso pronto, e ele também me disse que vocês vão ter uma cópia… uma possibilidade é que eu o leia todo, todos educados e vou embora; a segunda possibilidade é que fiquem à vontade, escutemos algumas das reflexões de vocês e façamos uma pequena conversa no restante do tempo que temos; escolhemos a segunda”. A ideia de Francisco foi recebida com um aplauso: “que comece o mais corajoso”, exortou Bergoglio.
Na conversa com os membros do conselho de representação da Caritas Internationalis, que foi recebido na Sala Clementina, o Pontífice recordou a observação de uma das representantes para o Oriente Médio e da África do Norte, uma senhora que indicou que a “consigna da ternura” que o Papa Francisco deu à Cáritas em seu primeiro encontro após sua chegada à cátedra de Pedro, mudou a perspectiva do seu serviço.
O Papa, respondendo à mulher, disse que “hoje temos necessidade de uma revolução da ternura, em um mundo no qual domina a cultura do descarte, e se eu descarto não sei o que é a ternura”. A ternura “é revolucionária, a ternura é proximidade, é o grande gesto do Pai para nós: a proximidade do seu Filho, que se fez próximo e se fez um de nós: esta – exclamou – é a ternura do Pai!”
Hoje, “na missa – prosseguiu referindo-se à homilia que fez algumas horas antes na Capela da Casa Santa Marta –, li a passagem do Evangelho de Deus que chora, chora porque se lembra do amor que tem por seu povo e que o povo não reconhece, não quer corresponder. E este momento da ternura – explicou – não é uma ideia, é a essência. Nosso Deus é Pai e também Mãe, no sentido de que Ele mesmo disse ‘que mesmo que uma mãe se esquecesse dos seus filhos, eu não me esqueceria de ti’. O maior amor é o da mãe”.
O Papa insistiu: “Ternura é proximidade, e proximidade é tocar, abraçar, consolar, não ter medo da carne, porque Deus tomou a carne humana, e a carne de Cristo são hoje os descartados, os deslocados, as vítimas das guerras”. Por isso, “as propostas de espiritualidade são muito teóricas, são formas de gnosticismo”. Hoje, “nesta “cultura do descarte”, nesta ideologia do deus dinheiro, penso que a grande doença é a ‘cardioesclerose’”.
O Bispo de Roma convidou para pensar “na Síria: ali entram muitos, os poderosos, de fora e pessoas da Síria, mas cada um persegue seu interesse. Ninguém busca a liberdade de um povo, não há amor, não há ternura, há crueldade. Onde não há ternura sempre há crueldade e o que acontece hoje na Síria é crueldade, um laboratório de crueldade”. O Papa também falou sobre a guerra na Síria durante a audiência que concedeu esta manhã ao Patriarca da Igreja assíria do Oriente, Gewargis III.
No discurso que o Papa escreveu para a ocasião se pode ler: “Na abertura do Sínodo sobre a Nova Evangelização, o Papa Bento XVI recordou que os dois pilares da evangelização são “confesio et caritas”; e eu mesmo dediquei um capítulo da Exortação Apostólica Evangelii Gaudium à dimensão social da evangelização, reafirmando a opção preferencial da Igreja pelos pobres”.
É por isso que “somos chamados a agir contra a exclusão social dos mais fracos e trabalhar por sua integração. As nossas sociedades, de fato, muitas vezes são dominadas pela cultura do ‘descarte’; necessitam superar a indiferença e a involução para aprender a arte da solidariedade. Posto que ‘nós somos fortes – disse São Paulo – temos o dever de carregar as doenças dos fracos, sem nos comprazermos a nós mesmos’”.