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O menino que só comunga o vinho consagrado

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Salvador Aragonés - publicado em 17/08/17
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O testemunho de um celíaco Sempre tive curiosidade de saber por que algumas pessoas se aproximam do altar na hora da Comunhão e bebem o vinho sagrado em um pequeno cálice. Por que elas não recebem a Hóstia Consagrada como os outros?

Por isso, fui estudar o problema dos celíacos, ou seja, das pessoas que não podem consumir glúten, que é um conjunto de proteínas presentes no grão de trigo. A intolerância ao glúten atinge 1% das pessoas.

Mas o que tem a ver o glúten com a Comunhão? A Comunhão é recebida sob as espécies do pão e/ou do vinho, que, depois da consagração na Santa Missa, se transformam, (transubstanciação) no Corpo e Sangue de Jesus Cristo, Filho de Deus. Além disso, no pão e vinho consagrados Jesus está presente em Corpo, Sangue, Alma e Divindade. Ou seja, Ele está presente por inteiro.

 E o que fazer quando a pessoa for intolerante ao pão de trigo ou ao vinho?

Com o passar dos anos, foram elaboradas hóstias sem glúten, para que os celíacos pudessem comungar. E o vinho foi substituído por substâncias líquidas que não são originárias da uva. Além disso, em alguns casos, foram acrescentados outros produtos à tradicional comunhão, como mel, açúcar e frutas. Mas isso tudo não adultera as Sagradas Espécies?

Com o objetivo de evitar a desnaturalização da Eucaristia, tal como foi instituída por Jesus na Última Ceia, o Papa Francisco decidiu deixar as coisas claras e enviar a todos os bispos uma Carta, para que eles pudessem “observar a qualidade do pão e do vinho destinados à Eucaristia e aqueles que os preparam”.

O documento lembra que o pão eucarístico deve ser de trigo (ou seja, com glúten, mesmo que seja só “um pouquinho”). As “hóstias sem nada de glúten são matérias inválidas para a Eucaristia”, o que significa que elas não devem ser consagradas. Melhor dizendo: Jesus não está ali, e, portanto, não há sacramento.

Da mesma forma, o vinho deve proceder da uva. A carta aos bispos diz: “deve ser natural, do fruto da videira, mas sem se corromper, sem ser misturado a outras substâncias” e que não esteja “avinagrado”.

Muitas pessoas criticaram o documento do Papa Francisco, dizendo: “como é possível que ‘este’ Papa diga uma coisa dessas?”

Antes de aprovar a carta, O Papa se certificou com estudiosos da bíblia, teólogos, biólogos e outros especialistas.

O caso de Miguel

Em Agosto, quando estava de férias nos Pirineus, vi um menino já crescidinho que ia comungar. Ele esperava no fim da fila para receber do sacerdote o vinho consagrado em um pequeno cálice.

Com a permissão dos pais dele, eu me aproximei. O nome dele é Miguel e ele tem 14 anos. Eu comecei a conversar com o garoto.

– Você é celíaco?

– Sim, desde os 10 anos.

– E tem que comungar só o vinho consagrado? É difícil?

– É normal, porque eu não posso ingerir glúten.

– Mas você não pode tomar outras formas consagradas sem glúten?

– Então, isso não seria pão.

 (A segurança da resposta me surpreendeu, e ele comentou que só se comunga o pão, o vinho ou as duas coisas. O garoto, no caso, só pode comungar o vinho. Por isso, antes de cada Missa, tem que entregar um pequeno cálice dourado na parte de dentro e dizer ao padre que comungará o vinho).

– Te dá um pouco de trabalho ir sempre com o cálice antes da Missa? Tem que ser pontual, né?

– Sim, claro, mas é o que temos. Tem gente que vai comungar de muletas ou de cadeira de rodas.

– Com certeza! E quanto custa este cálice?

– Não tenho certeza. Minha avó me deu de presente quando soube que eu não podia comungar o pão.

 (O cálice custou 50 euros, segundo me contou sua mãe).

– E se você esquecer o cálice?

– É um problema. Aí eu peço ao padre que deixe umas gotas de vinho consagrado no cálice dele.

– Já teve problema alguma vez?

– Não.

– E seus amigos? Eles não zombam de você porque só você vai com o cálice à Missa?

– Não… Bom, na realidade, sim. Mas eles logo entendem.

– O que você tem é uma doença?

– Eu não considero uma doença. Não me sinto doente, nem diferente, nem nada. Sou normal.

– O que você quer ser quando crescer?

– Gostaria de ser engenheiro. Mas vamos ver. Ainda tenho alguns anos para decidir.

Miguel estava muito atento às minhas perguntas. Ele nunca tinha sido entrevistado por um jornalista.

 

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