Uma jovem jornalista muçulmana explica por que não se deve relacionar o terrorismo à religiãoConheci Amanda Figueras, jovem jornalista muçulmana que vive entre o Cairo e Madrid, durante um encontro inter-religioso em Viena, organizado pelo centro intercultural KAICIID. Seu espírito crítico e sua força em demonstrar o vínculo entre paz e religião me chamaram a atenção. Ela defende veementemente sua religião e nos relata sua visão de mãe jovem, diante do drama dos atentados de Barcelona. Figueras faz parte do Fórum Abraham de Diálogo Inter-Religioso e da Rede Muçulmanas.
Como evitar essas atrocidades em nome de uma religião sagrada?
Para mim está claro que nenhum atentado terrorista tem a ver com a religião, embora muitos tentem relacionar uma coisa com a outra. Creio que não devemos acreditar nesse discurso. As mortes de pessoas inocentes não têm nada a ver com o islã. O terrorismo não tem religião, e parece mentira, mas é preciso ficar repetindo isso. Não acreditemos no discurso dos terroristas.
Você é mãe. Pensa que as mães que têm um papel importante na detecção de comportamentos radicais em seus filhos?
Suponho que sim, que elas fazem parte das ferramentas da luta contra o radicalismo e o terrorismo. Mas penso que é uma responsabilidade compartilhada, não colocaria o peso nas famílias dos terroristas, que, muitas vezes, não conhecem a origem violenta de seus filhos. Depois de um atentado terrorista, como os mais recentes na Europa, para quase todas as famílias, é uma surpresa descobrir [que os filhos são envolvidos com o terrorismo]. Gostaria de lembrar que a maioria dos terroristas na Europa são pessoas ligados à marginalidade ou à delinquência, que, depois, recebem o que as autoridades chamam de “radicalização express”. Na minha opinião, não são muçulmanos radicais, são simplesmente “terroristas radicais”. O radicalismo islâmico nunca seria a violência, pelo contrário: seria a paz. Aceitar o radicalismo do islã é se converter em um terrorista, é aceitar que o islã tem a ver com a violência – e isso não é verdade.
O que você diz ao seu Deus quando você reza depois de uma notícia arrasadora como o do recente atentado em Barcelona?
Eu rezo a Alá, e outras pessoas lhe dão outro nome. Enfim, rezo ao criador. E como qualquer pessoa de bem, seja religiosa ou não, o primeiro pensamento é sempre em relação às vítimas e para que seus familiares encontrem consolo. Isso é o que eu peço e, claro, que o ocorrido não se repita.
Você pode nos deixar uma palavra de consolo para continuarmos acreditando que a coexistência é a única via de entendimento entre as pessoas?
Não há nenhuma outra solução. Creio que está claro que não devemos romper nossa unidade; se não mostrarmos uma resposta unânime, unidos e juntos, daremos razão aos terroristas que querem nos dividir. Não se pode encarar este assunto como uma guerra religiosa; não se trata disso. As pessoas que estiveram próximas ao autodenominado Estado Islâmico contam que eles são mercenários e não têm nem ideia de religião.
Somo 1 milhão e 700 mil muçulmanos no mundo. Por favor, não… islã não é terrorismo.