Parece ser impossível conseguir superar tantos desafios e surpresas. Mas, no fim, tudo acaba bem Ser mãe é algo grande demais, não é mesmo? Mal conseguimos dar conta de nossas próprias emoções e agora temos que dar conta da vida e dos sentimentos de outro ser.
Muitas reportagens e grupos de internet têm desmistificado o que poderíamos chamar de uma visão romântica da maternidade, mas, sempre tenho medo das visões opostas. Tirar o romantismo da maternidade não significa transformá-la num filme de horror, onde a maquiagem da “atriz mãe” mostrará olheiras pretas de noites no meio de choros, cabelos emaranhados e pijama cheirando a leite azedo. Diria que a maternidade é um “mega” filme de aventura. Sentimos medo e insegurança diante do desconhecido, e isso é normal. Parece ser impossível conseguir superar tantos desafios, surpresas, mas tudo acaba bem no final.
O mistério da maternidade
Alguns mitos e desejos talvez sejam destruídos. Conheço uma mãe que sempre sonhou em amamentar, porém as rachaduras eram tão profundas que sangravam muito. Amamentar tornava-se um pesadelo e foi necessário admitir que ela não aguentava tanta dor. Ela não era igual às outras mães da família. Frustração para ela, para a sogra, para a avó e tias, mas depois descobriu que o bebê, o maior interessado nessa história, cresceu saudável sendo amamentado na mamadeira. O afeto e o carinho ao dar o leite na mamadeira superaram qualquer sonho frustrado. A realidade não é tão má assim.
Por vezes, precisaremos quebrar nossa autossuficiência, pedindo ajuda. Isso é difícil para algumas pessoas. Mas, se o filho realmente sofre com cólicas ou chora muito à noite, além do marido, parentes e amigos poderão ajudar. Mesmo sabendo que isso passa logo, é necessário cuidar para que não se chegue a um esgotamento físico, levando a mãe a adoecer. Vale lembrar que consultas ao pediatra ou especialistas são sempre importantes. Bebês com refluxo, por exemplo, tendem a chorar muito, mas, se tratados, a qualidade da vida e do sono do bebê melhoram.
Período de adaptação
Adaptação é uma palavra bastante usada; dizem que os pais precisam se adaptar. Se alguém vai ter que se adaptar, também, é o bebê. Sim, adaptar-se à vida desses pais. Sabemos o quanto o sono é importantíssimo para o bebê, mas, se houver uma festa de família ou de amigos, não haverá problema se o bebê ficar acordado até mais tarde nessas ocasiões especiais. O baile pode continuar, a vida precisa continuar, o casal pode dançar até amanhecer. Familiares podem ajudar, o bebê pode dormir no carrinho e, assim, os bebês acostumam-se aos eventos em família.
Certa vez, antes de ser mãe, estávamos na cidade de Bonito, em Mato Grosso do Sul, vivendo fortes aventuras naqueles rios (peixes, aranhas, cobras etc.). Um casal estava com uma filha pequena (uns 2 anos) vivendo tudo isso juntos. A princípio confesso que olhei com olhar crítico, pensando comigo: “Eu não traria um filho tão pequeno num lugar desses”. Num momento, aproximei-me deles dizendo que eles eram corajosos por levá-la, e o pai respondeu que aquilo não era nada, disse que aos 6 meses de vida estavam no Alaska com ela. Isso serviu de lição para mim. Resolvi ser “tão louca” quanto eles quando tivesse um filho. Com 2 meses de vida, meu filho já estava em missão comigo, numa comunidade em Caçador-SC. Quando ele tinha 3 anos, fomos para os EUA em missão por 20 dias, do sul ao norte do país.
Não deve ter sido fácil para meu filho ter-me como mãe. Porém: “filho, essa é sua mãe, ‘te vira!’”. No fim, eles se adaptam, curtem e amam quem somos. Não podemos deixar de ser quem somos! Continuamos sendo profissionais, esposas, amigas, aventureiras, missionárias, musicista, mulheres. Espero que nossos filhos nos admirem e que, em alguns aspectos, queiram ser parecidos conosco. Somos seu primeiro referencial. Caso contrário, buscarão outros modelos.
Ser mãe e mulher
Muitas mulheres se esquecem de ser mulheres ao tornarem-se mães. Que um bebê não carregue a culpa de uma futura separação entre o casal. Um filho vem para unir ainda mais o casal. Sabemos que a prolactina e várias alterações hormonais podem diminuir a libido, e em algumas mulheres, até a lubrificação. Se isso acontecer, um ginecologista receitará cremes e, se necessário, remédios para ajudar. Quase tudo tem solução. O amor, o afeto eo carinho entre o casal,são a base da estrutura de um filho.
Precisamos lembrar que o bebê sente tudo o que sentimos. Se começamos a ver a maternidade como um peso, olhando-nos no espelho e nos sentindo horríveis e gordas, o bebê poderá pensar que ele é uma coisa ruim, que veio fazer a mãe sofrer. Assim ele reagirá, podendo ficar doente ou chorando ainda mais.
Testemunho
E quando a vida nos apresenta, ao mesmo tempo em que a maternidade chega, outros problemas? Isso pode mexer até com nossa fé. Conversando com minha paciente Marcela Cristina Reis Gumiero (40 anos), pedi a ela que escrevesse um pouco para vocês, contando sua história:
“Casei-me aos 27 anos (…), eu e minhas três irmãs fomos criadas para estudarmos e sermos independentes. Fui para o casamento certa em estar cumprindo a vontade de Deus em minha vida, e com o melhor marido do mundo. Realmente! Assim seguimos por dois anos só nós dois, curtindo tudo aquilo que esperávamos ser o melhor para um casal que se ama, até decidirmos ter o nosso primeiro filho! Utilizamos o Método Billings, desde o início do casamento, nos programamos e, assim, engravidamos na primeira tentativa. Ficamos muito felizes, juntamente com toda a nossa família, que de minha parte recebia o primeiro “neto-homem”. A gestação vinha correndo perfeitamente e com a maior alegria do mundo, até que aos 7 meses, recebi a notícia da demissão do meu marido. O medo e a insegurança tomaram conta de mim e dele também. O que fazer agora? Eu não estava trabalhando e meu marido não ganharia o mesmo salário em qualquer outro lugar. A nossa fé abalou-se, pois, agora não éramos apenas nós dois, tínhamos um bebê para prover! Confiávamos em Deus, porém, em meio ao ocorrido surgiu uma pergunta: “Porque Deus permitiu um filho nessa situação?”. A vida seguiu seu ciclo com toda sua força e na data certa nosso filho nasceu de parto natural, o que para mim foi uma experiência muito dolorosa, já que, ele teve que ser retirado a fórceps. Dali em diante, as dores, as noites mal dormidas e o desafio de cuidar de mim, do meu marido e de um bebê que só chorava, fizeram com que um grande desespero tomasse conta do meu coração. Certamente, meu filho, sentia toda a minha angústia.
Mas eu? Uma mulher de fé? De caminhada na igreja e que não tomava nenhuma decisão sem antes perguntar a Deus!! Minha razão dizia que Deus estava cuidando de nós, mas, os meus sentimentos eram outros: tristeza, angústia, desespero; e eu só chorava. Mesmo vivendo aquela situação, eu tentava demonstrar às pessoas que nada daquilo estava acontecendo, porque, eu não podia admitir estar mal diante de tamanha dádiva! Assim, eu vivi por 3 anos, cuidando do meu filho, mas sem alegria. Até que, um dia fui indicada para fazer meu processo terapêutico. Enfrentei uma certa resistência, pois, aprendi desde a minha adolescência que ‘Deus cuida de mim’; ‘Deus me cura de todo o sofrimento’; ‘Eu posso resolver tudo com Deus’; mas ali vi que, além da minha espiritualidade, tenho que cuidar do meu corpo e do meu psicológico. Depois do tratamento psicológico e da superação das marcas que ficaram, o cheiro do meu filho mudou pra mim. Agora sim, seu cheiro tem cheiro de filho!”
Agradeço à Marcela por ter se colocado tão abertamente para vocês. Por vezes, não conseguimos sozinhas, e precisamos buscar ajuda de profissionais. Quando nasce um filho, muitas coisas que estavam escondidas embaixo do tapete vêm à tona. Um passado com feridas que pensávamos estarem cicatrizadas pode se abrir novamente, e é hora de se curar. Para quê? Para que nada de ruim que venha do nosso passado passe para os nossos filhos. Não aprofundaremos nesse artigo sobre a depressão pós-parto, mas a ajuda psicológica e psiquiátrica, em casos mais severos é fundamental.
Na verdade, ser mãe é uma das coisas mais lindas que pode acontecer a uma mulher. É sim maravilhoso! Sublime! E quando você recebe um sorriso todo banguelo, o cansaço, a dor vão embora e a gente vê que TUDO vale a pena.
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Por Adriana Potexki, via Canção Nova