Elas são sacramentais que reúnem milhares de testemunhos de bênçãos e graças de DeusAs medalhas devocionais, na Igreja, são exemplos de sacramentais, ou seja, extensões dos sete sacramentos que, como sinais visíveis, nos ajudam a enxergar e acolher a graça de Deus no nosso dia-a-dia.
Embora muita gente os veja de forma errônea como uma espécie de “superstição”, os sacramentais fazem parte da vida na Igreja desde o início do cristianismo e servem para enriquecer a nossa vida espiritual, não para prejudicá-la. Foram instituídos pela Igreja para incentivar em nós um relacionamento cada vez mais profundo com Cristo e para nos ajudar a focar na santificação de cada parte da nossa vida, inclusive nas mais singelas e cotidianas.
Entre os sacramentais mais conhecidos estão o o Crucifixo, o Rosário, o Escapulário, a Água Benta, o Sal Abençoado… Outros sacramentais muito populares são as medalhas devocionais, em especial as três que destacamos a seguir:
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1 – A Medalha Milagrosa
Em 1830, durante aparição a Santa Catarina Labouré na Capela das Filhas da Caridade de São Vicente de Paulo, na Rue du Bac, em Paris, Nossa Senhora se mostrou de pé sobre uma esfera branca, esmagando com os pés uma serpente e trazendo nas mãos um globo. De repente, o globo desapareceu e os braços da Virgem se estenderam para a terra. Seus dedos estavam ornados com anéis de pedrarias, dos quais emanavam raios de luz simbolizando as graças concedidas a quem as pede. Porém, algumas pedras não emitiam luminosidade alguma: elas simbolizavam as pessoas que nunca pedem nenhuma graça a Maria. Em seguida, em formato oval, apareceu esta inscrição:
“Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós”.
Na visão de Catarina, o verso dessa imagem mostrava a letra “M”, encimada por uma cruz, e, abaixo, dois corações: o Sagrado Coração de Jesus, coroado de espinhos, e o Imaculado Coração de Maria, cercado por rosas e trespassado por uma espada. O verso da medalha é circundado por doze estrelas, seis a cada lado. Além de instruir Catarina a fazer a medalha baseada nessa visão, Nossa Senhora promete abundantes graças para todos os que a usarem com confiança.
Os relatos de milagres de curas e conversões começaram quase imediatamente na própria Paris, como no caso da avassaladora epidemia de cólera que arrancou a vida de mais de 20.000 parisienses naquela mesma década. Quando as religiosas começaram a distribuir a medalha milagrosa, iniciaram-se os relatos de cura e de proteção contra a doença. Quanto às conversões, a mais famosa é a do banqueiro francês Alphonse Ratisbonne, de rica família judaica, mas ateu: em 1842, após usar por brincadeira a Medalha Milagrosa, ele testemunhou pessoalmente uma aparição de Maria em Roma, se converteu ao catolicismo e se ordenou sacerdote.
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2 – A Medalha de São Bento
São Bento nasceu em 480 na Úmbria, região da Itália central, filho de uma nobre família romana, e, desde pequeno, manifestou gosto especial pela oração. Depois de estudar filosofia e retórica e viver uma vida de eremita, fundou doze mosteiros e começou a organizar a vida monástica comunitária mediante a Regra dos Mosteiros, depois conhecida, até hoje, como a Regra de São Bento.
Foi sob esta regra que nasceu e tomou forma a Ordem dos Beneditinos, ou Ordem de São Bento, viva e atuante até os nossos dias e seguidora da mesma regra escrita pelo santo fundador há mais de 1500 anos. Ao longo da história, várias outras ordens de monges do Ocidente adotaram, com adaptações, a Regra de São Bento. Após a sua morte, em 547, a devoção a São Bento se espalhou solidamente pelo mundo todo, fazendo dele um dos padroeiros da Europa.
Um dos símbolos dessa devoção é a Medalha de São Bento.
Num dos seus lados, vemos São Bento segurando o livro da Regra monástica e a Cruz. Ao redor, a prece EIUS IN OBITU NRO PRAESENTIA MUNIAMUR (“Sejamos confortados pela presença de São Bento na hora de nossa morte“). O corvo com pão no bico e cálice do qual sai uma serpente lembram as tentativas de envenenamento sofridas por São Bento, das quais ele saiu ileso.
No outro lado da medalha, destacam-se diversas siglas:
- Entre os braços da cruz, as letras CSPB: “Crux Sancti Patris Benedicti” (“Cruz do Santo Padre Bento“).
- Na haste vertical da cruz, CSSML: “Crux Sacra Sit Mihi Lux” (“A cruz sagrada seja minha luz“).
- Na horizontal, NDSMD: “Non Draco Sit Mihi Dux” (“Não seja o dragão meu guia“).
- No alto, a palavra “PAX” (“Paz”) ou o monograma de Cristo, IHS (“Iesus hominum Salvator“, “Jesus Salvador dos homens“).
- À direita de PAX, as iniciais VRSNSMV: “Vade Retro Sátana Nunquam Suade Mihi Vana” (“Retira-te, satanás, nunca me aconselhes coisas vãs“).
- Continuando o círculo, SMQLIVB: “Sunt Mala Quae Libas Ipse Venena Bibas” (“É mau o que me ofereces, bebe tu mesmo os teus venenos“).
Como sacramental, o uso habitual da medalha tem por efeito colocar-nos sob a especial proteção de São Bento, principalmente quando se tem confiança nos méritos de tão grande santo e nas grandes virtudes da Cruz de Nosso Senhor Jesus Cristo. São numerosos os fatos miraculosos atribuídos a esta medalha, que evoca socorro contra as ciladas do demônio e impulso para alcançar graças espirituais como a conversão e a vitória contra as tentações.
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3 – A Medalha de São Cristóvão
O nome Cristóvão deriva do grego “Christóphoros”, formado pelas palavras “Christós”, Cristo, e “phoros”, que quer dizer “portador”, “aquele que leva“. O nome, portanto, significa “aquele que leva Cristo”.
Trata-se, originalmente, de uma espécie de “título” atribuído a partir do século XII a um homem de robustez extraordinária que, segundo as narrativas populares medievais, durante uma aparição do Menino Jesus, O teria carregado aos ombros para ajudá-Lo a atravessar um rio. Esse homem grande e forte, segundo as histórias piedosas, se converteu e veio a ser conhecido como São Cristóforo. Em português, o nome acabou sendo transformado aos poucos, no linguajar popular, em São Cristóvão, o santo padroeiro dos viajantes, costumeiramente representado com o Menino Jesus sobre seus ombros.
Praticamente não há informações históricas sobre a vida e a morte do mártir São Cristóvão, mas os relatos lendários a seu respeito vêm da Legenda Áurea, uma célebre compilação de histórias de santos popularizada no século XIII.
A intercessão de São Cristóvão é frequentemente invocada quando se viaja de carro, motivo pelo qual é comum manter no veículo a medalha dedicada a ele. Mas a mesma intercessão pode ser pedida em qualquer tipo de viagem, não apenas de carro.
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