Uma conselheira matrimonial cristã na França respondeDevemos dizer tudo ao nosso cônjuge? A questão é frequentemente levantada em revistas femininas, mas as respostas são muitas vezes decepcionantes e desanimadoras.
Aleteia foi perguntar a Emmanuelle Bosvet, conselheira matrimonial há mais de 20 anos, cuja vocação é atender ao chamado cada vez mais explícito da Igreja de cuidar dos casais e de suas famílias.
Duas atitudes extremas: dizer tudo e não dizer nada
Em primeiro lugar, Bosvet nos convida a identificar os dois extremos de um relacionamento conjugal, que são também suas armadilhas: a fusão completa e o mistério cuidadosamente mantido.
O primeiro cria transparência e a garantia do amor verdadeiro. Mas a fusão tende à “hiper” comunicação – cada pedaço da vida é compartilhado, revelado ao cônjuge, que se torna o confidente exclusivo. Embora esse tipo de comunicação seja frequente e normal no início de um relacionamento, na medida em que corresponde a um passo necessário para a construção do casal, ele não deve durar. Corre o risco de levar a uma sensação de sufocamento e à perda do desejo, pois “o desejo alimenta-se parcialmente do mistério”, aponta Bosvet.
O outro é solo sagrado
Por trás da tentação de dizer tudo, de compartilhar tudo, está o desejo de conhecer o outro perfeitamente. Mas “o outro sempre permanecerá um mistério”, Bosvet nos lembra. Nós nunca podemos conhecer outra pessoa perfeitamente. Não podemos dizer que conhecemos nosso cônjuge “de dentro para fora” – não é possível porque a outra pessoa muda, evolui, tem outros desejos e outras prioridades. Além disso, dizer que conhecemos alguém de cor realmente os aprisiona em uma camisa de força e tira qualquer chance deles evoluírem.
A delicada definição do jardim secreto
“Estou longe de contar tudo ao meu marido, mas não faria nada que não pudesse lhe contar”, confidencia uma esposa à conselheira matrimonial.
Isso é o que poderia designar os limites do que poderíamos chamar de “jardim secreto”. Não se trata de esconder ou mentir, mas de guardar para nós certas impressões, sentimentos, desejos ou dores que não estamos prontos para compartilhar ou que não trazem nada ao relacionamento.
O jardim secreto também é um lugar para atividades pessoais, onde cada pessoa existe independentemente do outro. Se não contarmos tudo ao nosso cônjuge, esses momentos “sozinhos” podem alimentar o “nós” porque “o que eu vivo na minha individualidade alimenta o relacionamento do casal”, diz Bosvet.
Não diga tudo, mas “fale um com o outro”
Ter um jardim secreto não impede realmente um diálogo entre o casal. Segundo Bosvet, é vital “falar um com o outro” – isto é, reservar algum tempo para nos abrirmos com nosso cônjuge, revelar nossas necessidades, nossas profundas aspirações, nossas emoções. Isso diz algo de nós mesmos, algo real, e é um momento necessário para a intimidade conjugal.
“Ao falar”, diz ela, “nos aproximamos do mistério do outro, tomamos consciência de seus desejos, descobrimos pequenos pedaços de seu jardim secreto”. O diálogo semeia a intimidade conjugal e enriquece o relacionamento. “Falar um com o outro” significa que um casal está vivo.
Mantendo-se quieto deliberadamente, uma mentira ou um jardim secreto?
Às vezes ficamos quietos voluntariamente, porque a verdade é muito difícil de dizer ou porque não queremos criar tempestades.
Bosvet sugere que nos conscientizemos de nosso desejo de encobrir e nos questionar sobre o significado profundo dessa reticência. Como essa revelação questiona a ordem estabelecida? Quais são minhas restrições?
Ela dá o exemplo de uma jovem que compra um vestido por um preço astronômico e esconde isso do marido porque acha que quebrou as regras. Esse encobrimento aponta um mal-entendido dentro do casal: a esposa acha o marido rígido em sua maneira de gastar, ou ela precisa de mais moderação? Uma conversa simples ajudaria a modificar as regras. Falar, dialogar, expressar nossos desejos e nossa insatisfação ajudam a fazer ajustes e a evitar mentiras acobertamentos.