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O homem que cresceu com os elefantes e em breve será padre

Paul Kioko
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Opus Dei - publicado em 13/12/18
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Uma entrevista com um diácono que conviveu com cobras e leõesO site do Opus Dei publicou nesta semana uma entrevista com o diácono Paul Kioko, um homem que cresceu entre elefantes, rinocerontes, leões e cobras no Quênia e que, depois de vários anos trabalhando como médico, será ordenado presbítero em maio do próximo ano.

Reproduzimos a seguir o seu surpreendente testemunho:

 

Onde você nasceu?

Nasci em Nairóbi, a capital do Quênia, mas passei toda a minha infância nos diferentes parques nacionais do país, com os meus pais e irmãos. O meu pai trabalhou no Serviço de Vida Selvagem do Quênia como chefe dos guardas-florestais.

Qual era o trabalho do seu pai?

Proteger e cuidar da vida selvagem nesses parques. A minha infância foi itinerante: em cada parque vivíamos uma média de cinco anos, e depois mudávamos para outro, até percorrer quase todo o país. O Parque Nacional Nakuru, as Montanhas Aberdare, o Parque Amboseli no sopé do Monte Kilimanjaro ou o Parque Nacional Tsavo foram as minhas casas.

Como foi a sua infância na savana?

Todos crescemos brincando entre os arbustos. Embora sempre houvesse certo perigo de encontrar um leão ou outro animal, o que a minha mãe mais temia eram escorpiões e cobras, já que há muitos. Graças aos nossos Anjos da Guarda, nada de sério aconteceu.

Mas imagino que viveram muitas aventuras…

Sim, claro. Lembro-me, por exemplo que, numa ocasião, uma cobra cuspiu veneno nos olhos de um dos meus irmãos. Fomos correndo com ele para o hospital e ele não perdeu a visão. Em outra ocasião, outro irmão quase colidiu com a moto contra dois leões que estavam escondidos atrás de uma curva. Felizmente, os animais estavam naquele momento a dar boa conta de um javali que tinham caçado, pelo que o meu irmão pôde se retirar a salvo.

Como era a vida familiar nesse ambiente?

Se nos portávamos razoavelmente bem durante a semana, o meu pai levava-nos de jipe pelo parque ao domingo. O desafio era ver quem primeiro avistava um dos “Big Five” (elefante, rinoceronte, leão, búfalo ou leopardo). Quase sempre o meu pai ganhava porque tinha mais paciência para olhar para o mesmo ponto o tempo suficiente para identificar os animais que estavam escondidos.

A sua mãe gostava do mato?

Muito, embora sempre parecesse mais interessada nos pássaros – algo que nós, rapazes, nunca conseguíamos entender. Deixe-me explicar: a minha mãe nasceu nos Estados Unidos e veio para África no final dos anos 60 para ensinar matemática e ver o mundo. Talvez seja por isso que ela gostava dos pássaros – como eles, teve que voar para outro continente para construir uma casa. Enquanto morava na Tanzânia, conheceu o meu pai que estava terminando a especialidade na área de Ambiente e o resto é história, ou providência divina como a minha avó diria.

O que você aprendeu durante aqueles anos na natureza?

Muitas coisas. O amor pelo ar livre e a beleza da natureza certamente. Mas o que me marcou profundamente foi lembrar-me da paciência do meu pai para ver as coisas grandes e as simples alegrias da vida da minha mãe ao ver um passarinho.

Aprendeu a lidar com animais selvagens?

Crescer na selva era o paraíso para crianças. Embora nunca tivéssemos uma televisão ou Playstation em casa, não precisávamos delas. Os guardas-florestais traziam para nossa casa animais órfãos e muitas vezes tínhamos bebês impalas, gazelas, antílopes, filhotes de leão, elefantes e rinocerontes por lá. Os animais maiores, especialmente os elefantes, eram guardados à noite em casinhas atrás da nossa casa e os alimentávamos com mangas e laranjas podres. O jogo consistia em tentar atirar as frutas diretamente na boca deles para marcar 3 pontos.

Depois de crescer, que direção tomou a sua vida?

Mudamos de casa para Nairóbi e comecei o ensino médio. Foi precisamente em Lenana School que conheci alguns jovens universitários que vieram dar palestras sobre a doutrina cristã. Mais tarde soube que alguns deles pertenciam ao Opus Dei. Por meio deles, fiquei sabendo mais sobre essa parte da Igreja Católica e, no meu último ano em Lenana, pedi a admissão no Opus Dei.

Depois de terminar os meus estudos médicos na Universidade de Nairóbi, trabalhei no Hospital das Forças Armadas por um ano antes de me mudar para o Hospital Mater, onde trabalhei por quase 15 anos, primeiro em Emergência e depois na Unidade de Tratamento Intensivo, onde ajudei no programa de cirurgia de coração aberto e terminei uma especialização em Anestesiologia.

Quando você começou a considerar o caminho para o sacerdócio?

Como o livro da Sabedoria diz, há um tempo para tudo debaixo do céu. Percebi que, assim como Deus me tinha dado uma vocação de serviço aos doentes como médico, Ele agora estava me dando uma vocação de serviço a toda a Igreja como sacerdote. De certa forma, ser médico preparou o caminho para o sacerdócio.

E agora será padre?

Não, ainda não. Se Deus quiser, em maio do próximo ano, seremos ordenados sacerdotes.

Como você se preparou?

Estou em Roma há alguns anos, estudando na Universidade Pontifícia da Santa Cruz e recebendo formação adicional no Colégio Romano da Santa Cruz, junto com muitos outros do Opus Dei de todo o mundo. Nestes anos, passei a entender que a maior preparação para o sacerdócio é obra do Espírito Santo, mas que Deus faz uso daqueles que nos rodeiam para nos guiar e formar.

De que tema você mais gosta na Universidade?

Fiz a minha Licenciatura e Doutorado em Teologia Moral e, dada a minha formação médica, acho que não é surpreendente que realmente tenha gostado de todos os assuntos abordados pela bioética e dos fundamentos filosóficos da prática médica.

Qual é o tema da sua tese?

Dizem que o caminho mais rápido para adormecer é pedir a um estudante de doutorado que explique o tema da tese! Correndo o risco de fazer você dormir, atrevo-me a dizer que a minha tese é fundamentalmente sobre a virtude da prudência como elo indispensável entre o “tecnicamente correto” e o “moralmente bom” na tomada de decisões médicas. Como médico que trabalhava numa UTI, tinha enfrentado esse dilema muitas vezes: onde traçar a linha e quando dizer ao doente: “chega”.

As memórias da infância estão sempre conosco e nunca esquecerei as aventuras de crescer com os animais selvagens. Mas uma vida de serviço a Deus e ao próximo é uma aventura ainda maior. Acorda-se de manhã e nunca se tem a certeza de onde o final do dia nos vai encontrar. Antes, pura e simplesmente admirava a beleza da criação de Deus; agora, contemplo a mão amorosa da providência de Deus onde quer que Ele me conduza. Espero que, através do ministério do meu sacerdócio, muitos mais descubram a aventura de uma vocação divina. Reze por nós.

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Publicado pelo site do Opus Dei em 10 de dezembro de 2018

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