Quase tudo o que sabemos sobre Deus, encarnado em Jesus Cristo, é paradoxalSeja a Ascensão celebrada no domingo ou na quinta-feira (como acontece em alguns locais), as leituras deste domingo têm uma aplicação direta na vida real.
Elas nos lembram que nossa vida cristã tem duas dimensões: a parte em que estamos na presença real de Jesus Cristo, na Igreja, e a parte em que estamos apenas nós.
Jesus ensina essa lição da maneira mais dramática que se possa imaginar.
Nas leituras da Ascensão, Jesus diz aos Apóstolos: sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria, e até os confins da terra. Então “foi levantado e uma nuvem o tirou de seus olhos.
É, na verdade, uma situação similar à que os jovens se encontram quando seus pais os ajudam a se mudar para o primeiro apartamento e depois vão embora.
Em ambos os casos, nosso primeiro instinto é olhar para o teto e dizer: “E agora?”
Foi isso que os apóstolos fizeram, até que uma voz os levou de volta à realidade.
Homens da Galileia, por que ficam aí olhando para o céu?, perguntam dois anjos que aparecem em cena. Este Jesus, que foi levado para o céu, retornará da mesma forma como vocês o viram entrar no céu.
Isso torna a tarefa muito mais aceitável para os apóstolos. Eles têm de testemunhar até os confins da terra por conta própria, mas Ele retornará.
Não vou deixá-los órfãos, diz Jesus no Evangelho, eu voltarei e seus corações se regozijarão.
Jesus não apenas voltará, mas fará algo que nenhum ser humano pode fazer.
A coisa que temos de lembrar sobre Deus é que ele é Deus. Ele é eterno e onipresente; estamos limitados pelo tempo e espaço. Isso significa que quase tudo o que sabemos sobre Deus, encarnado em Jesus Cristo, é paradoxal: Ele é o Deus Todo-Poderoso e uma pessoa; a fonte de toda a vida e a morte em uma cruz.
Ele tem de agir de maneira paradoxal para que nossa compreensão limitada possa sondar sua enorme magnitude. Nós, seres humanos, nunca assumiríamos a responsabilidade se Ele ficasse por perto, então Ele sai. Mas nós, seres humanos, nunca teríamos sucesso sem Ele, então Ele fica.
Como? Antes de ascender, Jesus deu aos apóstolos a sua presença real na Eucaristia e disse-lhes que esperassem “a promessa do Pai” que “dentro de poucos dias, sereis batizados com o Espírito Santo”.
Isso significa que temos toda a Trindade aqui conosco: a promessa do Pai, o Espírito Santo, e o próprio Jesus Cristo, que o Salmo e a Segunda Leitura nos asseguram, “se assentam em seu trono sagrado” com “todas as coisas sob seus pés.”
Deus está conosco; Deus está oculto. Nós somos impotentes; Seu poder conosco é total. Este é sempre o estilo de ensino de Deus, desde a beleza que Ele pintou no céu noturno até o ordenamento que Ele escreveu no universo.
As últimas palavras da leitura do Evangelho revelam a chave de como esse sistema funciona.
As últimas palavras do Evangelho da Ascensão são também as últimas palavras de todo o Evangelho de Lucas: eles o homenagearam e depois voltaram a Jerusalém com grande alegria, e eles estavam continuamente no templo louvando a Deus.
Assim, o Evangelho de Lucas termina onde começou: No Templo. Lá em Lucas 1, a primeira cena que Lucas compartilha é Zacarias no Templo, ouvindo a promessa de Deus de que sua salvação está a caminho. Zacarias duvida disso.
Aqui, os apóstolos ouvem a promessa de Deus e acreditam.
Para eles, o Templo é o lugar onde eles recebem a graça do alto para levar Jesus ao resto do mundo.
Para nós, a Igreja é o lugar onde nós permanecemos com Deus e reunimos as graças de que precisamos para levar nossa fé ao resto de nossas vidas.
Nós vivenciamos a presença real de Jesus em nossas igrejas para que possamos enfrentar a ausência real de Jesus no mundo exterior.
Sereis minhas testemunhas em Jerusalém, por toda a Judeia e Samaria e até os confins da terra, diz Jesus aos apóstolos.
Vocês serão minhas testemunhas em seus lares, em sua vizinhança e em seu local de trabalho – até nos confins da terra, Ele nos diz.
Depende de nós. Com Ele.