Peçamos que o Divino Espírito Santo conduza os trabalhos sinodais de modo total (não parcial) à luz do Santo Evangelho (não de ideologias estranhas)Há rumores a respeito do próximo Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia. Daí a oportunidade deste breve artigo.
O Sínodo é uma instituição permanente da Igreja criada pelo Papa São Paulo VI, por meio do Motu Proprio Apostolica Sollicitudo, de 15/09/1965, com o objetivo de ajudar o Papa no governo da Igreja com seus conselhos como uma das formas de melhor realizar a colegialidade episcopal. É, portanto, assembleia consultiva de bispos sem valor de Magistério: não muda, por si, a doutrina nem a disciplina da Igreja. Se houver nela algum poder deliberativo será – como em outras assembleias – apenas o concedido pelo Papa, a cabeça do Colégio Episcopal. O mais comum é que, recolhendo as ideias do Sínodo, o Santo Padre publique uma Exortação Apostólica a toda a Igreja (cf. VV. AA. Opção preferencial pela família. São Paulo: Supplica Filiale, 2015, p. 9).
Antes do Sínodo é elaborado o chamado Instrumentum laboris (instrumento de trabalho) a pautar os rumos sinodais. Ora, o Instrumentum laboris (IL) deste Sínodo tem sido criticado por clérigos (bispos e sacerdotes) e leigos como um texto parcial (não reflete bem a realidade amazônica) e ideologizado (nele ressoam teses que pouco ou nada têm de católicas). Detalhemos isso em dois pontos.
Primeiro: quem discorda de pontos do IL é contra o Papa e deveria ser taxado de cismático (separado da Igreja)? – Óbvio que não. O Sínodo é o tempo propício ao debate, conforme explica o próprio Papa Francisco ao dizer: “Depois do último Consistório (fevereiro de 2014), no qual se falou sobre a família, um Cardeal escreveu-me dizendo: ‘é uma lástima que alguns Purpurados não tenham tido a coragem de dizer certas coisas por respeito ao Papa, julgando, talvez, que o Papa pensasse de outra maneira’. Isto não está bem, isto não é sinodalidade, porque é necessário dizer tudo aquilo que, no Senhor, sentimos que devemos dizer: sem hesitações, sem medo” (Saudação aos Padres do Sínodo durante a Primeira Congregação Geral da Terceira Assembleia Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, 6 de outubro de 2014).
Segundo: é possível haver uma Assembleia Episcopal desta natureza que seja parcial e ideologizada? – Sim. Tudo o que é humano (e o Sínodo não é infalível) está sujeito a falhas. É parcial porque, segundo Dom José Luís Azcona, bispo emérito de Marajó, na Amazônia brasileira – mas não convidado para o Sínodo – a Rede Eclesial Pan-Amazônica, Repam, “não representa a variedade de cosmovisões, identidades diversas, pensamento teológico e pastoral aberto. É uma instituição de pensamento único e isto é ameaçador até por ser um perigo para a liberdade de pensamento na Igreja da Amazônia. É uma Amazônia imposta”. E conclui: “o pensamento um tanto estreito da Repam está criando a sensação de que, em vez de ser um ‘caminho sinodal’, de fato é um ‘caminho monodal’, monocorde, monocromático, perigoso, portanto, para a unidade eclesial” (ACI Digital, 26/08/19, online). Contra a sua declaração se levantaram o Cardeal Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, e Dom Erwin Kräutler, Bispo emérito do Xingu dizendo, em suma, que Dom Azcona estava enganado e não participou das reuniões em Roma. Ambos, porém, não negaram, mas, ao contrário, confirmaram que a Repam esteve, de fato, encarregada “de ouvir as vozes da Amazônia, sistematizar o conteúdo e entregá-lo para a Secretaria Geral para o Sínodo, em Roma” (idem).
E de onde viria a ideologização do Sínodo? – Da audição mal feita – com culpa ou sem culpa (Deus julgue!) – das vozes da Amazônia. Por isso, o IL “mais parece uma obra de ONGs ambientalistas” (Catolicismo n. 825, set. de 2019, p. 4). Dom Azcona, por sua vez, cita pontos deixados de lado no IL: “A onda pentecostal protestante que, em algumas regiões da Amazônia, chega a 80%”; a pedofilia com 100.000 crianças abusadas em um ano só no Pará; a falta de apoio ao anúncio do Evangelho e o retorno a religiões pré-cristãs; a ausência do clamor ao Espírito Santo por uma renovação da Igreja presente na Amazônia e, por fim, considera perigosa à disciplina da Igreja a ordenação de homens casados e experientes (cf. ACI Digital, 20/08/19, online).
Peçamos, pois, que o Divino Espírito Santo conduza os trabalhos sinodais de modo total (não parcial) à luz do Santo Evangelho (não de ideologias estranhas). Amém!