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Esposa com Covid-19 dá à luz enquanto marido médico fica no hospital salvando vidas

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Silvia Lucchetti - Reportagem local - publicado em 17/03/20
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Não param de surgir histórias arrepiantes de uma Itália repleta de guerreiros que não se cansam de lutar pela vida – a própria e a dos outrosEm plena trincheira de Bérgamo, nesta guerra total da Itália contra a Covid-19, um jovem pediatra não pôde testemunhar o nascimento da sua terceira filha, Anna:

“A minha esposa foi incrível. Dar à luz sozinha, e, além de tudo, ela mesma com a Covid-19, deve ter sido uma provação imensa! Eu estou orgulhoso dela!”

Na situação extrema que o país está enfrentando, os soldados da linha de frente são os médicos e as equipes de enfermagem, que, em especial no norte da Itália, estão fazendo um esforço sobre-humano para salvar milhares de vidas em perigo. Eles próprios correm riscos muito sérios – e alguns já pagaram com a vida pela sua entrega generosa aos pacientes infectados pelo coronavírus. Aqueles que lutam nos hospitais, em turnos extenuantes, sofrem ainda a distância dos membros da família e o medo de infectá-los quando voltam para casa – eles precisam continuar fisicamente distanciados de seus familiares inclusive dentro das paredes do próprio lar.

É neste cenário desafiador que se desenvolve a história vivida e contada por Lorenzo Norsa, pediatra milanês de 37 anos, e de Sara, sua esposa: enquanto ele estava nas trincheiras do Hospital Papa Giovanni XXIII, em Bérgamo, uma das províncias italianas mais devastadas pelo vírus, Sara dava à luz a terceira criança do casal, Anna, em Milão, na Clínica Mangiagalli.

Teste positivo

Em sua última consulta com a obstetra, Sara estava com um pouco de febre. O teste, imediatamente realizado, deu positivo: Covid-19.

Daí a decisão de fazer a cesariana, momento de que o marido não pôde participar porque a sua presença é absolutamente essencial na frente de batalha de Bérgamo. Lorenzo, que havia participado do parto dos outros dois filhos, está potencialmente infectado pelo coronavírus, porque não para de atender doentes na cidade mais atingida pela epidemia no país.

Amamentando com luvas e máscara

O médico recebeu dos colegas de Milão as primeiras fotos de Anna nos braços da mãe. Quando perguntado sobre o estado da bebê, em entrevista ao jornal La Repubblica, ele respondeu:

“Estão avaliando. O mais provável é que, nos últimos dias da gravidez, a mãe tenha transmitido os anticorpos a ela pelo cordão umbilical e, por isso, ela esteja imunizada. Agora a Sara e a Anna estão juntas, sempre próximas, num ambiente absolutamente protegido. Elas vão interagindo. A Sara amamenta com luvas e máscara, com extrema cautela”.

Lorenzo também testemunhou sobre a esposa e sua coragem:

“A minha esposa foi fortíssima! Eu testemunhei as duas primeiras gestações como marido, pai e neonatologista. E foi uma coisa linda. Desta vez, ela teve que fazer tudo sozinha, porque eu estava ocupado em outra batalha. A Sara foi incrível! Dar à luz sozinha, e, além de tudo, ela mesma com a Covid-19, deve ter sido uma provação imensa. Eu estou orgulhoso dela e fiquei calmo. Eu confiei na minha esposa e nos meus colegas de Milão”.

“Quando tudo acabar, vamos poder nos dar todo o carinho do mundo!”

A irmã maior de Anna tem quase 5 anos e o irmãozinho tem 2 anos e meio. Eles estão com os avós e, por enquanto, conheceram a caçula só pelas fotos que a mamãe lhes enviou. O pai, embora fisicamente distante, sente toda a sua proximidade:

“Como todo o mundo, eu tive que me acostumar com a ideia de que a proximidade, nestas últimas semanas, é uma questão de espírito, não de corpo. Quando tudo isso acabar, vamos poder nos dar todo o carinho do mundo, mais ainda que o normal. Acordo sozinho em casa em Milão, de manhã vou para Bérgamo, à noite volto. Os vovôs e os colegas da Clínica Mangiagalli me mandam fotos dos meus filhos o tempo todo. Eles me abraçam”.

A situação em Bérgamo

“Estamos num momento difícil (…) Mas a resposta que estamos dando nos deixa orgulhosos. Tenho orgulho de dizer que é difícil imaginar uma resposta melhor que essa que eu vejo todos os dias de colegas, enfermeiras, de todos os funcionários”.

Não à toa, o termo com que os italianos estão se referindo aos seus médicos, enfermeiros e a todo o pessoal da área de saúde é “Anjos da Guarda“.

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