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Manifestação contra racismo vandaliza estátua do Pe. António Vieira em Lisboa

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Reportagem local - publicado em 12/06/20
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O missionário, no entanto, criticou duramente a escravidão e os maus tratos contra indígenasDe acordo com a agência católica portuguesa Ecclesia, foi vandalizada em Lisboa, na noite desta quinta, 11, uma estátua que representa o missionário jesuíta pe. António Vieira segurando uma cruz junto a três crianças indígenas do Brasil. A escultura, situada no Largo Trindade Coelho, no Bairro Alto, foi pichada com a palavra “Descoloniza”, durante a onda de manifestações contra o racismo que tem se propagado por dezenas de países. O ataque teria acontecido porque o catequista vem sendo indevidamente vinculado à escravidão de africanos por colonizadores portugueses no período colonial.

A mesma estátua já tinha sido vandalizada há cerca de dois anos. Na ocasião, os jesuítas de Portugal descreveram o pe. Vieira como um “profeta sempre incômodo”. De fato, ele se tornou conhecido justamente por denunciar a crueldade com que os colonos portugueses no Brasil tratavam os índios e os escravos.

António Vieira nasceu em Lisboa em 6 de fevereiro de 1608 e, aos 6 anos de idade, veio para o Brasil com a família. Tornou-se religioso jesuíta e foi missionário e diplomata. Seus “Sermões”, que compõem nada menos que 16 volumes, estão entre as obras clássicas da literatura portuguesa. O sacerdote morreu em 18 de julho de 1697, aos 89 anos, na Bahia.

Enquanto a polícia portuguesa está à procura dos vândalos, o historiador António Borges Coelho declarou à rede estatal RTP que associar o pe. Vieira à escravidão é “absurdo”, dada uma de suas cartas mais conhecidas e admiradas, remetida ao rei Afonso VI, em que o missionário abomina essa prática e os maus tratos contra os índios.

O pe. Bruno Nobre, jesuíta que leciona filosofia na Universidade Católica Portuguesa, teve uma declaração citada pela agência Ecclesia:

“Vieira foi, inevitavelmente, um homem do seu tempo. Mas foi, também, um homem à frente do seu tempo, porque capaz de se elevar acima da mentalidade dominante, encarnando o papel de consciência crítica do Portugal setecentista. Por isso, Vieira não pode ser condenado por grupos que querem apagar a nossa história”.



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