Denuncia o bispo de Pemba, D. Luiz Fernando Lisboa, à Fundação AISA situação humanitária em Cabo Delgado, no norte de Moçambique, “está cada vez mais dramática”, denuncia o Bispo de Pemba à Fundação AIS, precisamente duas semanas depois de a região de Macomia ter sido palco de um violento ataque por parte de grupos jihadistas.
Por causa dos ataques, que têm vindo a aumentar de frequência nos últimos tempos, está a registar-se a fuga das populações, calculando-se que haverá já mais de 200 mil deslocados nos principais centros urbanos da província, nomeadamente na cidade de Pemba.
“O alojamento não é suficiente para todos, porque aqui em Pemba, por exemplo – explica D. Luiz Fernando Lisboa –, as famílias estão a receber [os desalojados], mas há também grandes acampamentos sem as condições necessárias. Não há tendas suficientes, não há comida que chegue, porque é muita gente.” A agravar esta situação, e porque agora “é a época do frio”, como sublinha o Bispo, faltam “mantas, e cobertores” para distribuir a todas as pessoas.
Falando ao telefone com a Fundação AIS, o Bispo de Pemba adiantou que espera reunir com a Alta Comissária das Nações Unidas para abordar este assunto, embora reconheça que a ONU já está a ajudar: “Queremos ver uma maneira de melhorar ainda essa ajuda”.
Esta crise humanitária está a acontecer numa altura particularmente difícil por causa da pandemia do Covid19, que está a afectar também, e muito, a província de Cabo Delgado.
“O Covid 19 agravou [esta situação] com toda a certeza”, reconhece D. Luiz Fernando Lisboa. “Nos acampamentos, as pessoas estão muito juntas e nas famílias é a mesma coisa. As casinhas são pequenas, com vinte, trinta pessoas, imagine… Nós distribuímos milhares e milhares de máscaras… As pessoas estão a usar máscaras mas não há distanciamento. É uma situação potencialmente perigosa.”
Sobre os mais recentes ataques a Macomia, nos dias 28, 29 e 30 de Maio, o Bispo de Pemba sublinha a dimensão dos estragos: a cidade “está toda destruída”. Para já, regista-se uma certa acalmia. Nos últimos dias não tem havido movimentações de grupos armados, mas isso é normal, garante o prelado. “Eles têm estado em silêncio mas isso tem acontecido das outras vezes. Ficam alguns dias em silêncio e depois vêm com algum tipo de assalto. Então, nós estamos todos na expectativa. Depois do ataque a Macomia, ficaram em silêncio.”
Sobre o ataque a Macomia e a fuga das Irmãs de São José, como a Fundação AIS noticiou então, D. Luiz Fernando Lisboa confirma que as religiosas estiveram posteriormente no local para avaliarem os estragos. Mas foi uma visita muito rápida.
“Elas foram lá [à missão] aí meia hora, e voltaram. Está toda destruída a cidade. Não há clima nenhum para ficar lá.” Algo de semelhante aconteceu com os Monges Beneditinos. O ataque a esta missão, situada na aldeia de Auasse, ocorreu no dia 12 de Maio levando à fuga dos religiosos para o mato onde se esconderam até terem conseguido abandonar a região rumo à Tanzânia, onde se encontra um convento da congregação.
Os quatro monges ainda estão nesse país que faz fronteira com o norte de Moçambique, e, como explicou o Bispo de Pemba à Fundação AIS, “só vão voltar quando nós dissermos que podem e devem voltar”. “Por enquanto, ainda não há segurança. Não há possibilidade disso, não.”
Consequência também da onda de violência e dos ataques dos grupos jihadistas às comunidades religiosas, pelo menos “sete ou oito paróquias” estão como que encerradas, ou pelo menos sem actividade há já algum tempo. Uma situação que se agravou também por causa da pandemia do coronavírus.
“Estamos num compasso de espera. São cerca de sete, oito paróquias. Não diria fechadas mas sem actividades porque não há condições para isso. Não há celebrações, não há catequese, nada. E já há vários meses. Há algumas comunidades que há alguns meses não têm nada.”
(Departamento de Informação da Fundação AIS)