Amar-se de forma plena e consciente. Seria esse o mantra da moda ou uma prática sexual milenar?
Hoje em dia, existem várias terapias que nos recomendam viver “com consciência plena”. Para aproveitar o instante presente e amenizar as fontes de estresse, as pessoas são convidadas a meditar com a consciência plena, a comer com atenção plena, a fazer turismo com consciência plena, a dar à luz com atenção plena e até a amar com consciência plena.
Esta última ideia foi desenvolvida durante vinte anos por Diana e Michael Richardson, que a batizaram de slow sex. Trata-se de viver uma outra forma de sexualidade, que permite ao homem e à mulher unirem-se e esperarem-se, mas que comporta também uma série de limites.
Estar presente na experiência do momento
O slow sex é um convite à conexão com o próprio corpo e o da outra pessoa, é uma atenção a nossas sensações corporais interiores, com o objetivo de nos amarmos melhor. Essa forma de sexualidade “parte do princípio de que o desejo, a fantasia e a excitação com vistas ao orgasmo são projeções em um futuro ou em um passado que não nos permitem estarmos presentes inteiramente na experiência do momento”, explica Cécile de Williencourt, autora do livro em francês Trésors de femme (“Tesouros da mulher”).
A prática do slow sex permite a cada membro do casal conectar com seu próprio corpo, mas também ficar atento aos desejos do outro para que, juntos, cheguem ao prazer. Trata-se de focar nossa atenção no que o corpo está vivendo, renunciando o que a mente imagina, recorda ou espera.
A mente espera o orgasmo, que é tido como um objetivo a ser alcançado. Mas o amor com consciência plena não tem nenhum objetivo, além de se estar presente na relação. “A busca pelo orgasmo a qualquer preço nos afasta do que vivemos no instante”, explica Céclie De Williencourt.
Presença, lentidão e delicadeza são palavras-chave para entender essa forma de sexualidade compartilhada, vivida a dois, ao mesmo ritmo. O que importa é criar um vínculo, não chegar a um êxtase. Daí a importância das preliminares, das palavra e dos olhares, para transforma a experiência do momento em uma autêntica intimidade conjugal.
Uma resposta à maneira pela qual Deus criou o homem e à mulher?
O ritmo da sexualidade masculina nem sempre se ajusta ao da sexualidade feminina. Esse desajuste é tema da reflexão do casal de terapeutas cristãos John e Stasi Eldredge: “Deus criou a sexualidade da mulher de forma tal que seu prazer sexual exige geralmente – nem sempre, mas geralmente – mais tempo que o do homem. Por que Deus fez as coisas assim? O forte contraste entre nossos dois modos de desejo e de orgasmo deve ter um motivo. Deus pede ao homem que dedique tempo – para cortejar, amar, ser delicado previamente – para que a mulher possa conhecer o mesmo arrebatamento que ele. Isso exige uma ausência de egoísmo por parte dele”, escrevem no livro “Amor e guerra”. Seduzir, amar, ser delicado: essas são outras noções que voltaram à moda com o slow sex. No entanto, a harmonia dos corpos basta para a realização conjugal plena?
Os limites do slow sex
A primeira armadilha do slow sex estaria em fazer dele algo absoluto. Lutar contra toda forma de pressão se transforma em um pressão em si mesma. O resultado estaria em edificar as sensações corporais, a lentidão e a consciência plena como objetivos a alcançar – embora o slow sex seja encarado como uma prática distante da corrida pelo desempenho.
Outra questão é que o slow sex antepõe o fato de que, graças à intimidade dos corpos, o casal consegue uma certa intimidade espiritual. A perspectiva cristã, por outro lado, promete o contrário: é primeiramente a intimidade dos corações que permite chegar, de maneira livre, consentida e feliz, à intimidade corporal.
O pensamento de João Paulo II registrado em suas catequeses sobre a Teologia do Corpo precisa bem que a união sexual pressupõe a união dos corações. Quanto maior intimidade espiritual houver entre o casal, mais natural e fácil será a harmonia dos corpos.
Por isso, tendemos a uma sexualidade conjugal mais intensa, mas é preciso cuidar da relação conjugal em sua totalidade (coração, corpo e mente), ao invés de fazer treinamentos de slow sex!
Segundo a visão cristã, a sexualidade é, antes de tudo, uma questão de entrega mútua, através dos corpos. O ser humano “não pode encontrar sua própria plenitude se não for na entrega sincera de si mesmo ao outro”(Gaudium et Spes).
O que importa na união sexual do casal não é colocar em prática todo o possível para experimentar sensações corporais agradáveis, mas aflorar plena e totalmente o desejo de entregar-se gratuitamente um ao outro.
Por último, o slow sex, devido às suas origens tântricas e hinduístas, está distante de Deus. Segundo seus adeptos, o amor é gerado pela harmonia perfeita entre os corpos.
Portanto, pratiquemos a consciência plena, sem dúvida, mas principalmente a que coloca a sexualidade como um dom e um projeto de Deus para as pessoas.
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