Critérios médicos e teológicos rígidos: de mais de 7.200 alegações de cura milagrosa, apenas 70 casos são oficialmente reconhecidos pela IgrejaAs rígidas normas adotadas pela Igreja para identificar milagres foram estabelecidas em 1734 pelo então cardeal Prospero Lambertini, que se tornaria poucos anos depois o Papa Bento XIV.
São 7 critérios para o reconhecimento de uma cura extraordinária ou inexplicável, detalhados na “De servorum beatificatione et beatorum canonizatione” (“A beatificação dos servos de Deus e a canonização dos beatos”), livro IV, capítulo VIII, 2:
- A doença deve ter características de gravidade, com prognóstico negativo.
- O diagnóstico real da doença deve ser certo e preciso.
- A doença deve ser apenas orgânica.
- Eventual tratamento não pode ter favorecido o processo de cura.
- A cura deve ser repentina, inesperada e instantânea.
- A retomada da normalidade deve ser completa (e sem convalescença).
- A cura deve ser duradoura (sem recaída).
Seriedade reconhecida por ganhadores do Prêmio Nobel
A seriedade das avaliações de supostos milagres, aliás, pode ser percebida nos números relacionados ao santuário mariano de Lourdes, na França, que é o mais visitado do mundo por peregrinos em busca de cura física. Desde 1858, foram registrados só nesse santuário mais de 7.200 alegações de cura milagrosa, mas apenas 70 casos foram declarados efetivamente inexplicáveis do ponto de vista médico-científico até hoje.
Este rigor da Igreja na avaliação de supostos milagres é reconhecido até por cientistas agnósticos, como o médico francês Luc Montagnier, Prêmio Nobel de Medicina, que, entre outras relevantes contribuições à ciência, ficou famoso pela descoberta do vírus HIV. Ele afirma que os milagres de Lourdes são realmente inexplicáveis e elogia a grandiosa contribuição católica ao cuidado dos enfermos.
Outro ganhador do Prêmio Nobel de Medicina que testemunhou milagres em Lourdes foi o então ateu Dr. Alexis Carrel, que aceitou ir até o santuário pensando em comprovar pessoalmente a falsidade dos supostos milagres – mas acabou presenciando um deles e se converteu a Cristo.
Veja nos artigos recomendados ao final desta matéria os testemunhos dos doutores Luc Montagnier e Alexis Carrel.
Revisão de milagres ocorridos desde 1734 não desmentiu nenhum
A Congregação para as Causas dos Santos oferece cursos de dois meses, no Vaticano, para formar postuladores de causas de beatificação e canonização. Esses cursos são abertos a todas as pessoas que participam desse tipo de processo: leigos, sacerdotes, religiosas, advogados civis e canônicos… Todos recebem formação aprofundada no tocante a um processo pautado por critérios muito estritos, que, indo bem além da mera formalidade, garantem ao máximo a seriedade dos procedimentos que levam alguém a ser declarado santo. Uma parte fundamental do processo são os milagres, requisito para todas as causas de beatificação e canonização, com exceção das causas dos mártires. Em sua esmagadora maioria, os milagres consistem em curas inexplicáveis.
E foi justamente a propósito dos milagres de curas inexplicáveis que, no curso realizado em 2011, um fato de grande importância foi revelado pelo Dr. Patrizio Polisca, presidente da comissão médica da Congregação para as Causas dos Santos e médico pessoal do papa. Após explicar que os cientistas que participam dos processos testemunham, quando procede, que determinado fato “não tem explicação natural”, o doutor Polisca contou que dois pesquisadores haviam recentemente estudado a fundo todos os arquivos da Congregação.
A tarefa deles era grande: revisar casos antigos que os médicos da época tinham considerado inexplicáveis e que haviam servido como base para beatificar ou canonizar alguma pessoa. O objetivo desse trabalho era averiguar se, no estado atual da medicina, aqueles casos teriam encontrado hoje alguma explicação científica.
E a conclusão foi impactante: a revisão dos milagres reconhecidos desde 1734 não encontrou simplesmente nenhum caso que seja possível desmentir atualmente com os avanços da medicina ao longo dos últimos três séculos.
“Não se encontrou nenhum caso que tenha sido considerado inexplicável em outros tempos e que hoje tenha explicação médica“.
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