O arcebispo Najeeb Michaeel ajudou os cristãos a fugir de Mosul quando os terroristas do Estado Islâmico estavam invadindo a cidadeUm bispo iraquiano que protegeu cristãos em Mosul e ainda salvou mais de 800 manuscritos inestimáveis quando o Estado Islâmico invadiu a cidade é finalista do Prêmio Sakharov de 2020.
O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento (em homenagem ao físico e dissidente político soviético Andrei Sakharov), é atribuído anualmente pelo Parlamento Europeu. Nasceu em 1988 para homenagear indivíduos e organizações que defendem os direitos humanos e as liberdades fundamentais.
Terroristas
De fato, quando o ISIS chegou a Mosul no verão de 2014, o então padre dominicano Najeeb Michaeel (também conhecido como Najib Mikhael Moussa) garantiu a evacuação de cristãos siríacos e caldeus para o Curdistão iraquiano.
Além disso, ele protegeu mais de 800 manuscritos que datam do século 13 ao 19. Esses manuscritos foram posteriormente digitalizados e exibidos na França e na Itália. Depois, em dezembro de 2018, padre Michaeel, 65, foi eleito arcebispo caldeu de Mosul.
Dom Michaeel nasceu em Mosul e estudou para trabalhar na indústria do petróleo. Mas ele entrou para a Ordem dos Pregadores e seguiu para a França para fazer o noviciado. Posteriormente, ele foi ordenado sacerdote (16 de maio de 1987). Depois retornou a Mosul, onde fundou e dirigiu o Centro Digital para Manuscritos Orientais de Mosul (CNMO).
Também foi professor de teologia pastoral e comunicação no Babel College (Seminário Caldeu), primeiro em Bagdá e depois em Erbil. Enfim, ele passou vários meses nos Estados Unidos para continuar sua formação, depois voltou para Ankawa, o bairro cristão de Erbil.
Paz entre as comunidades
Quando foi ordenado bispo há dois anos, ele disse à agência de notícias francesa AFP: “Nossa mensagem para o mundo inteiro, e para o povo de Mosul, é de coexistência, amor e paz entre todas as diferentes comunidades de Mosul; e o fim do a ideologia que o Daesh (Estado Islâmico) trouxe aqui.”
A reportagem da AFP explica como o bispo iraquiano conseguiu a preservação de quase 850 manuscritos antigos em aramaico, árabe e outras línguas. De fato, ele também salvou cartas de 300 anos e cerca de 50.000 livros durante os anos em que serviu na Igreja de Al-Saa (Nossa Senhora dos Hora) em Mosul.
Em 2007, ele transferiu os arquivos para Qaraqosh, que já foi a maior cidade cristã do Iraque, para protegê-los durante uma insurgência islâmica que viu milhares de cristãos fugirem de Mosul.
Jihadistas
Depois, quando o Estado Islâmico – que era famoso por desfigurar igrejas e destruir quaisquer artefatos considerados contrários à sua interpretação do Islã – varreu o Iraque, em 2014, Michaeel novamente entrou em ação.
Enquanto os jihadistas avançavam em direção a Qaraqosh, o frade dominicano encheu seu carro com manuscritos raros, livros do século 16 e registros insubstituíveis. Então ele fugiu para o leste para a relativa segurança da região curda autônoma do Iraque.
Com dois outros frades de sua ordem dominicana, Michaeel também mudou o Centro de Digitalização de Manuscritos Orientais (OMDC), que escaneia manuscritos danificados recuperados de igrejas e vilarejos no norte do Iraque.
Da capital curda, Arbil, ele e uma equipe de especialistas cristãos e muçulmanos copiaram digitalmente milhares de manuscritos caldeus, sírios, armênios e nestorianos.
Depois que as forças iraquianas recapturaram Mosul no verão de 2017, o bispo iraquiano Michaeel voltou à cidade. Na verdade, ele encontrou sua igreja em ruínas, “com salas transformadas em oficinas de bombas e cintos explosivos e forcas no altar da igreja”.
Finalistas
Também nomeados para o Prêmio Sakharov estão a oposição democrática na Bielorrússia, que inclui a principal candidata da oposição, Sviatlana Tsikhanouskaya. E os ativistas ambientais do Guapinol e Berta Cáceres, de Honduras. Cáceres foi assassinada em 2016.
O Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento, deve o seu nome ao físico e dissidente político soviético Andrei Sakharov. Atualmente, é atribuído todos os anos pelo Parlamento Europeu. Esta distinção foi criada em 1988
A Conferência dos Presidentes, composta pelo Presidente do Parlamento Europeu, David Sassoli e pelos líderes dos grupos políticos, vai selecionar o laureado a 22 de outubro. Enfim, o prêmio será entregue numa cerimónia no Parlamento Europeu a 16 de dezembro.
Leia também:
“Fratelli tutti”, sobreviventes e refugiados da pandemia