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Padre com câncer terminal: perde os olhos, mas não perde a fé

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Jesús V. Picón - publicado em 25/11/20
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Emmanuelle Cueto Ramos é padre. Devido à Covid, um câncer não foi detectado e agora ele vive seus últimos dias com féO padre Emmanuelle era membro de uma gangue e grafiteiro. Hoje ele tem 30 anos e pertence aos Missionários Apóstolos da Palavra. Também é um defensor da liturgia e tem sido um influenciador na mídia social nos últimos tempos.

Mas a pandemia fez com que um câncer, detectado em um olho em fevereiro, não pudesse ser tratado até agosto, sendo então tarde demais para ser curado humanamente. Mas ele sabe que o sofrimento é o caminho mais curto para chegar aos Céus. Um padre com câncer e sem cura, que nos oferece esperança e testemunho.

Sua vocação ao sacerdócio surgiu no Ensino Médio. Ele conta: “meu pai perguntou em um seminário quanto custava a mensalidade. Quando ele descobriu quanto custava, disse: ‘Não posso pagar esse valor’. E eu respondi: ‘Calma, pai; então eu não entro no seminário’. Ou seja, as portas estavam fechadas para mim devido à situação econômica”.

Tumor no crânio e só tratavam Covid

O padre Emmanuelle, mexicano de origem e missionário no Peru, nos contou sobre o seu estado de saúde:

“Há um ano e meio, comecei a sentir um desconforto no meu olho direito. Pensei que fosse por cansaço, porque era no momento em que me pediam para colaborar no Seminário como vice-reitor do Introdutório, e ensinar ao mesmo tempo. A pressão era grande, pois ao mesmo tempo eu era capelão das freiras de nossa comunidade.

Mas no final de janeiro de 2020 fui para os Estados Unidos, a Oklahoma, e em uma das missas senti que meu olho direito estava fechando, estava inflamado. Então, quando voltei ao Peru, fui para o hospital, eles fizeram um ultrassom e encontraram um tumor no meu olho. Fizeram então a tomografia, e descobri que o tumor não estava só no olho, mas nas áreas chamadas etmóide e esfenoide, de forma que o tumor era parte do crânio para dentro, e parte do olho.

Quando eles começaram a me tratar, a pandemia veio e todos os hospitais fecharam. Apenas casos de Covid eram atendidos. Aí fiquei sem atendimento, e meu olho começou a inchar muito, e tive dores intensas, muito fortes, a ponto de ter que usar morfina.

Esperei março, abril, maio e até junho na esperança de me tratar. Mas em julho eu já havia perdido a visão do meu olho direito e, no hospital, tive de esperar até 19 de agosto. Cinco meses para ser operado! Também tive problemas porque não tinha uma residência no Peru e não tinha seguro de saúde no Peru. Mas eu não queria ser tratado num hospital privado, mas sim no hospital dos pobres, no hospital dos meus irmãos peruanos, porque fiz voto de pobreza, e como seria tratado num hospital de ricos? Isso seria incoerência!

Eles me trataram no Hospital Nacional Arzobispo Loayza. No Instituto Nacional de Doenças Neoplásicas me falaram que meu tumor era benigno mas muito agressivo, que crescia muito rápido e que eu precisava ser tratada no Hospital Loayza, porque lá tratavam casos de tumores benignos.

Então eles me operaram lá. A primeira operação foi no dia 5 de setembro, depois fiz outra operação maior, que durou cerca de 13 horas, porque o médico disse que o tumor já havia atingido uma área muito perigosa, e que o tumor estava pressionando um veia importante, a carótida interna direita, e por isso até hoje o sangue não está subindo pelo lado direito da cabeça. E nada mais pode ser feito sobre isso.

Minha carótida esquerda está fazendo todo o trabalho. O médico diz que não está explicado como minha carótida esquerda assumiu automaticamente todo o trabalho. E eu fiz uma terceira cirurgia, reconstrutiva.

Eles me deram alta e me disseram que eu tinha de passar por controle médico. Mas o médico me disse: ‘Eu tenho uma pequena dúvida, vou mandar você fazer um estudo histoquímico para descartar que sua inflamação seja decorrente de uma infecção’. O resultado do teste mostrou que o tumor que pensávamos ser benigno era maligno.

Portanto, fui diagnosticado com ‘câncer radio facial de terceiro grau’.”

Como será o tratamento?

“O que o médico sugere é que me dêem qualidade de vida. Então, a única coisa que vou conseguir são cuidados paliativos.

Basicamente, não há cura para mim. Os médicos dizem que talvez por causa da maneira como meu tumor está progredindo novamente, eu provavelmente tenho 7 ou 8 meses de vida. Falando em termos médicos. Mas, falando de maneira cristã, quem sabe?

Que o Senhor me permite oferecer isso a Ele. Eu ofereço antes de tudo para minha própria salvação. E ofereço pela consolidação da Fraternidade Apóstolos Missionários da Palavra. E ofereço pela Igreja, pelo que está acontecendo na Igreja hoje.”

Você sentiu o amor de Deus neste calvário?

Totalmente. Sinto-me confortado, pois algo me é tirado, mas é substituído por outra coisa; tenho a experiência da paz ao celebrar a missa. O maior sinal da presença de Deus é a paz! ‘Como são belos os pés do mensageiro que anuncia a paz’. Jesus diz: ‘Quando você vier a uma casa, deseje a paz’. Jesus aparece aos seus discípulos dizendo: ‘A paz esteja convosco’. O sinal da presença de Deus em um lugar é a paz. Onde há paz, está o Senhor.”

Você sente esses meses de vida como uma sentença?

Não. Eu prefiro sentir como um curto ministério de santidade. E enquanto Deus me permitir, vou vivê-lo ao máximo. Vou tentar vivê-lo feliz, com um sorriso no rosto. Vou tentar viver em santidade e quero chegar ao céu assim.


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