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Como encontrar Deus a partir da razão humana

Croix du Lac d'Allos

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Vitor Roberto Pugliesi Marques - publicado em 10/03/21
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O Papa Bento XVI expressou uma premissa da sociedade humana ocidental: ela tem como um dos grandes alicerces a razãoNo ano de 2011, por ocasião de uma viagem apostólica à Alemanha, de 22 a 25 de setembro, o papa Bento XVI foi convidado a proferir um discurso no parlamento alemão, o palácio Reichstag de Berlim. 

O que foi apresentado pelo sumo pontífice constitui-se um verdadeiro tratado sobre a razão humana, de modo que ele o conclui com uma sentença altamente esclarecedora sobre a civilização ocidental. Assim discursou: “Estes conhecimentos da razão constituem a nossa memória cultural. Ignorá-la ou considerá-la como mero passado seria uma amputação da nossa cultura no seu todo e privá-la-ia da sua integralidade”. Completou ainda: “A cultura da Europa nasceu do encontro entre Jerusalém, Atenas e Roma, do encontro entre a fé no Deus de Israel, a razão filosófica dos gregos e o pensamento jurídico de Roma”. 

Por meio de palavras tão bem elaboradas, o papa Bento XVI expressou uma premissa da sociedade humana ocidental: ela tem como um dos grandes alicerces a razão. E faz todo sentido ser assim, porque dela o homem tira muitos frutos. Por exemplo, nenhuma pessoa vai ao médico e toma um remédio se não houver uma base racional para isso; do mesmo modo, ninguém, em sã consciência, vai defender uma ideia se ela não fizer ao menos um pouco de sentido. Quando se fala em termos científicos, o próprio nome ao qual nos denominamos leva a esse entendimento: chamamo-nos, Homo Sapiens Sapiens, nome este que deriva do latim “homem sábio” ou “homem que sabe”.  A razão nos diferencia dos demais animais, de modo que, enquanto os animais agem por programações cerebrais instintivas, o homem é capaz de ir além do pensamento e da ação programacional, alçando voos no abstrato, em campos filosóficos ou metafísicos. 

Entretanto, a grande acusação que muitos fazem é a de que os homens que têm fé na existência de Deus pautam seus argumentos na irracionalidade. Muitos vão dizer que o homem tem medo da morte, portanto ele inventa Deus para abrandar sua angústia diante de um fim definitivo. Outros vão alegar ainda que como nada neste mundo dá certo, ou nada é confiável, o homem inventa Deus para ter algo eterno em que se apoiar. Nessa linha de análise, na medida em que o homem mergulha na razão, tende a gradativamente afastar-se mais e mais de Deus. Tal acusação, obviamente, é falsa, e podemos elencar pelo menos três pontos nos quais, racionalmente, Deus se mostra real e vivo, e não somente fruto do devaneio da mente humana.

O primeiro ponto é reconhecer que as coisas no mundo não são aleatórias: existe uma lógica em tudo. Ao se soltar um objeto onde há força da gravidade, ele vai sempre cair ao chão; os tigres (para parafrasear uma citação do escrito inglês G. K. Chesterton) nascem do ventre de suas mães e não em árvores pendurados pelo rabo. O conjunto harmônico de leis que comandam o universo mostra uma onipresença transcendente na qual encontramos Deus. Além de haver lógica no mundo, essa lógica sustenta-se ao longo dos séculos, sendo este um segundo ponto a ser levantado. Tanto hoje, como há 2.000 anos, as coisas sempre existiram, a despeito de nosso entendimento sobre elas virem se aprimorando ao longo dos séculos. A vida sempre foi um nascer, crescer, multiplicar-se e morrer, por exemplo; há uma harmonia realmente admirável entre as leis da natureza entre si, sejam elas de lógica física, química ou biológica, e isso mantém-se de modo contínuo e ininterrupto. 

O terceiro ponto de destaque sobre a questão, e talvez o que mais nos leve a reconhecer a existência de Deus, é que, além de lógicas, as realidades do mundo são tão complexas que não permitem admitirmos uma simples aleatoriedade. Seria semelhante a admitir que uma pessoa ganhou milhares e milhares de vezes em um jogo de loteria altamente concorrido sem que houvesse algum tipo de fraude. Esse ponto levou o geneticista estadunidense Francis Collins, importante colaborador nos estudo sobre o genoma humano, a abandonar o seu ateísmo e a admitir que Deus existe. Em seu livro “A Linguagem de Deus: um cientista apresenta evidências de que Ele existe”, o renomado cientista descreve sua caminhada de ateu convicto a crente quando se deparou com a complexidade sobre a qual a genética tem seus fundamentos. 

Para ver a Deus à luz da razão, basta termos honestidade filosófica e refletir de forma desligada de pensamentos político-partidários, pois Ele se faz encontrar a todo tempo e em todos os lugares. 


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