Alguns sonham em se aposentar na praia. Outros, nas montanhas. Já para o casal de produtores rurais japoneses Takeo e Nobue Kimura, ambos com 87 anos, o plano de aposentadoria consistia em percorrer 2.730 km em uma caminhonete, de Taubaté (SP), região onde se estabeleceram em 1956 ao chegarem no Brasil, até Tabuleiro do Norte, no sertão do Ceará, para plantar figo. Como relata reportagem do Diário do Nordeste, antes mesmo de deixar sua Okayama natal, Takeo estabeleceu a meta de um dia poder retribuir o acolhimento trazendo prosperidade ao Brasil. Por isso o casal escolheu cultivar um fruto comum em territórios secos do Japão em meio ao semiárido nordestino.
Antes de embarcar para o Brasil, Takeo escutou o conselho de um veterano da Associação Rikkouka, que na época cuidava dos trâmites para emigração. Ele teria dito: "Vocês, japoneses, busquem no Brasil um ideal muito maior do que fazer dinheiro, busquem o ideal de mudar, transformar, lugares e pessoas". Fernando Yutaka, o filho caçula do casal, diz que por anos Takeo e Nobue "ouviram relatos de que o Nordeste era uma região onde havia muita desigualdade e muitas pessoas pobres, então eles queriam fazer algo para, de alguma forma, mudar essa realidade". Após décadas de viagens e pesquisas, em 2000 eles optaram pelo sertão do Ceará e só em 2019, três viagens depois e com seus oito filhos já independentes, encontraram a terra que compraram para realizar seu sonho.
Também graças à Associação Rikkouka, Takeo e Nobue se uniram. Antes de emigrar, os jovens japoneses passavam alguns meses em uma espécie de alojamento onde tinham aulas sobre o idioma, a cultura e a vida no Brasil. Nobue ainda era solteira, e foi informada de que só mulheres casadas poderiam ingressar no programa. Ela insistiu, argumentando que os homens solteiros precisariam de mulheres para fazer-lhes companhia e dar-lhes força, e acabou sendo aceita. Lá ela conheceu Takeo, eles começaram a namorar, e antes de embarcar, quando decidiram que iriam se casar aqui chegando, levaram seus respectivos para conhecer suas famílias, a dele em Okayama, a dela em Tóquio. Takeo aportou no Brasil em março de 1956, Nobue dois meses depois e eles se casaram ainda em dezembro daquele ano, de modo que em 2021 completam bodas de platina.
Takeo e Nobue completam 65 anos de casados com seu sonho já bem avançado. Menos de dois anos após terem se estabelecido na propriedade em Tabuleiro do Norte, a terra já rendeu 15 mil pés de figo. Comprovando uma constatação de Takeo: "No Brasil não há terra ruim. O que há é terra sem cuidado adequado e falta de dedicação". No ano que vem, já esperam expandir esses postos de trabalho para 45 mil pés. Cristina, a sexta filha, diz que os planos do casal não param por aí: "Minha mãe visualiza a criação de uma pequena escola para as crianças da região. Já meu pai, quer servir de exemplo para que venham outros empreendedores e unam forças para montarem uma cooperativa de modo a atraírem investimentos e transformarem a região num grande polo de produção de figos e frutas para exportação. Eles sempre reforçam o desejo de retribuir tudo que receberam do Brasil. Querem deixar um legado e ajudar no desenvolvimento da região onde escolheram morar".