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Com a Fratelli tutti, rumo a uma política melhor

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Francisco Borba Ribeiro Neto - publicado em 06/06/21
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Quando as instituições políticas são fracas, o Estado se torna ineficiente, os corruptos se dão bem, os autoritários se impõem, os fracos e os pobres sofrem ainda mais

Comentei no último artigo que o início precoce da campanha para as próximas eleições mostrou a força dos políticos personalistas e a fragilidade das nossas instituições políticas (os poderes executivo, legislativo e judiciário, bem como a máquina estatal que os aparelha). A força de líderes políticos com grande carisma pessoal e sensibilidade social não é obrigatoriamente ruim. Como o Papa Francisco observa, eles podem dar uma importante contribuição para a construção de uma sociedade melhor. Essa habilidade torna-se má quando esses líderes a utilizam para manipular e enganar o povo (cf. Fratelli tutti, FT 159).

Se a força desses políticos não é obrigatoriamente um defeito, a fragilidade das instituições sempre é problemática. Caberia a elas manter, ao longo do tempo, as boas políticas públicas e corrigir as más; garantir que os corruptos não usem o poder de forma criminosa e interesseira; manter o equilíbrio entre os diferentes atores políticos; evitar os autoritarismos. Quando as instituições políticas são fracas, o Estado se torna ineficiente, os corruptos se dão bem, os autoritários se impõem, os fracos e os pobres sofrem ainda mais. Por isso, é importante sempre procurar candidatos comprometidos com o fortalecimento das instituições.

O jogo no qual acontece esse fortalecimento das instituições e a construção do bem comum não é o da antipolítica, mas sim daquilo que o Papa Francisco chamou, na Fratelli tutti, de “política melhor” (FT 176-197). Existe um caminho para a construção dessa “política melhor”. Pode ser mais lento do que gostaríamos (FT 195-196), pois é feito de pequenas conquistas que vão se somando, mais do que de transformações súbitas (que frequentemente se revelam enganosas).

Esse caminho, na reflexão do Papa, se baseia numa aposta, pessoal e coletiva, na possibilidade do amor orientar a política. Nesse sentido, é uma proposta eminentemente ética. Imbuídas de uma verdadeira “caridade social e política”, nos colocando juntos, em busca do bem comum, tendo em vista sobretudo os que mais sofrem, os pobres e os últimos, ao longo do tempo faremos a diferença. No caminho proposto por Francisco, esse amor político tem duas passagens obrigatórias. A primeira é o compromisso com os últimos, com os que mais sofrem. É olhando para eles – e não para os nossos interesses e convicções – que descobrimos as formas de construir o bem comum e de realizarmos a nossa própria humanidade. A segunda passagem é a do diálogo. Acreditamos que o bem triunfa pela eliminação de nossos adversários, mas o bem só pode triunfar no diálogo e no encontro entre os bons.

Nosso problema é que as ideologias frequentemente nos cegam para o que acontece de bom e não percebemos que esse caminho já está sendo construído hoje. Primeiro julgamos a posição ideológica de uma pessoa, para depois olharmos seu compromisso ético com o bem e a verdade. Sempre é difícil encontrar quem pense exatamente como nós, então acabamos condenando também pessoas bem-intencionadas. Além disso, nos tornamos presas fáceis de manipulações por líderes que parecem pensar como nós, mas na verdade apenas se aproveitam de nosso ressentimento e de nossa frustração com os demais políticos.

Um dos instrumentos mais importantes para a construção, no Brasil, dessa “política melhor” são os movimentos de renovação e as escolas de formação de novos quadros políticos. Em sua maioria, não se filiam a um partido ou a outro e atraem jovens interessados em trabalhar na política de uma forma mais ética e voltada ao bem comum.

Não são secretos ou coisa parecida, mas costumam agir com discrição, justamente porque não querem se apresentar como forças políticas específicas, mas ajudar a criar políticos mais éticos e conscientes em várias frentes. Por isso, precisamos estar atentos para conhecer seu trabalho e os novos políticos que estão formando.

Alguns destes movimentos e escolas de formação têm forte influência católica ou cristã ecumênica, outros têm origem muita diversa – e podem até parecer em oposição a certos valores cristãos. O que os coloca, apesar da pluralidade de posições, em condições de dialogar é a confiança – nem sempre explicita – no compromisso ético dos jovens que desejam fazer um trabalho político.

A quem pedir, será dado; quem buscar, encontrará; quem bater terá a porta aberta (cf. Mt 7, 7). Muitas vezes não acreditamos nessa promessa evangélica – e por isso não procuramos com o necessário empenho. Existe sempre gente bem-intencionada procurando construir uma política melhor, mas temos que nos esforçar para encontrá-los. Se existem pessoas bem-intencionadas se jogando na política, é nossa tarefa apoiá-los.

Em alguns casos, a questão é simplesmente apoiar com o voto e acompanhar seu trabalho parlamentar. Em outros, existem pontos de desencontro e desentendimento – e aí o diálogo e o testemunho ganham importância. Quando políticos bem-intencionados pensam diferente de nós, não podemos simplesmente cancelá-los. Se fizermos isso, fortaleceremos os corruptos e os desleais. Temos, nesse caso, que tornar nosso testemunho de amor e compromisso com o bem comum ainda mais explícito, consciente e sábio, para que esses bons políticos também possam ver e compreender nossas propostas. A força dos maus se baseia, em grande parte, nas divisões que erroneamente separam os bons.

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