A questão do orgasmo no ato sexual é, muitas vezes, um tabu para o casal. Os cônjuges não falam sobre isso e acabam sofrendo uma dupla pressão: conseguir atingir o orgasmo e ter o orgasmo segundo os ditames impostos pela sociedade.
Isso, de fato, é um requisito de desempenho bidirecional que pode conter o desejo masculino, por medo do fracasso, ou até mesmo levar a pretextos, como simulação feminina. “O lugar decisivo dado ao orgasmo no sucesso sexual do casal abrandaria a liberdade de expressão sobre o assunto, em particular entre os sujeitos em fase de construção da sua sexualidade e/ou no início de uma relação”, explica François Kraus, diretor do departamento de Política/Notícias do Instituto Francês de Opinião Púlica (Ifop) à luz dos resultados de um estudo conduzido pelo departamento de “Gênero, sexualidades e saúde sexual” em fevereiro de 2019.
Mas com o devido respeito aos sexólogos, a harmonia sexual perfeita é uma ilusão. "Trinta por cento das mulheres que estão em um relacionamento não têm orgasmo", especifica o terapeuta sexual Olivier Florant.
Essa estatística, de fato, é corroborada pelos números do estudo Ifop: 26% das mulheres afirmam não ter sentido prazer na última relação sexual, o mesmo para 14% dos homens. E 58% das mulheres admitem já ter simulado o prazer sexual.
Por outro lado, a conselheira matrimonial Bénédicte Lucereau quer tranquilizar os casais, especialmente os jovens: “Durante a primeira relação sexual, é raro que as mulheres jovens tenham prazer. O prazer na mulher se constrói com o tempo”, explica.
É bom, em momentos de graça como os reservados à sexualidade entre um homem e uma mulher, expressar o que se sente. Trata-se de uma forma de construir a sexualidade do casal, de entrar em sintonia, de contar um ao outro os gestos de que eles gostam. “O ajuste do amor deve ser contínuo”, enfatiza Olivier Florant.
Portanto, é importante falar sobre desejos e frustrações, além de tomar consciência de feridas passadas ou primeiros momentos vividos em más condições. Assim, o casal vai construindo sua própria sexualidade na qual cada cônjuge se satisfaça com a relação que está vivendo - com ou sem orgasmo. “Construir a sua sexualidade é encontrar esse equilíbrio entre os desejos e medos de cada pessoa”, explica o terapeuta sexual.
É por isso que a sexualidade do casal só pode resultar do diálogo íntimo entre os cônjuges. E um dos momentos mais apropriados é o que os terapeutas sexuais chamam de “fase de desenvolvimento”. Os especialistas distinguem oito fases do encontro sexual: interesse, desejo, excitação, platô orgástico, orgasmo, resolução, período refratário, e elaboração. “O último ciclo, chamado de elaboração, é o momento em que a pessoa dá um passo para trás: ela faz um juízo sobre o que experimentou, o fogo do desejo passou. Não deve ser subestimado: vai condicionar o início do próximo ciclo sexual ”, aconselha Olivier Florant. Os casais podem perguntar nesse momento: "Era isso que eu queria? Era isso que meu parceiro queria?".
Certamente, as respostas a essas perguntas ajudarão os cônjuges a se ajustarem aos desejos e freios um do outro durante o próximo abraço romântico. Para alcançar gradualmente a alegria da harmonia sexual.
"O fato de não alcançar o prazer sexual não deve incomodar os parceiros, nem obrigá-los a se esgotarem em esforços inúteis”, assegura Olivier Florant. Se o orgasmo vier, tanto melhor. "Homens e mulheres são feitos para ter orgasmos, mas ele deve ser recebido como um presente, um bônus. Não deve ser procurado", resume o especialista.
O orgasmo também não é "prova" de boa harmonia conjugal. “Os orgasmos podem dar a ilusão de um florescimento da intimidade conjugal, enquanto o diálogo é interrompido ou inexistente”, observa a conselheira matrimonial Bénédicte Lucereau.
Por outro lado, uma relação sexual pode ser satisfatória sem necessariamente ter um orgasmo. É o lugar da ternura, carícias eróticas, beijos. Para a especialista, o mundo ocidental assimilou a ideia de que o homem deve ser dominador e que as relações sexuais entre homem e mulher devem ter conotação de violência. Mas essa visão dá uma falsa imagem da sexualidade. “A sexualidade é, antes de mais nada, uma linguagem”, lembra Bénédicte Lucereau.
Enfim, a sexualidade é uma forma de expressar o amor, de viver no corpo a comunhão dos esposos, de se dar inteiramente um ao outro. É o culminar de uma relação amorosa vivida diariamente. E é isso, e não a presença ou não de um orgasmo, que lhe dá todo o sentido.