"A Bíblia diz que Deus não existe". Esta afirmação é desonesta não porque a Bíblia não contenha essa frase, mas sim porque a contém como parte de um texto mais amplo. Qualquer pessoa minimamente séria levará em consideração a integralidade do texto e não um fragmento descontextualizado de modo tendencioso.
De fato, há mesmo um versículo da Bíblia em que se lê com todas as letras: "Deus não existe". Trata-se do Salmo 52,2b. Acontece que esta é apenas a segunda metade do versículo. A declaração completa afirma: "Diz o ímpio no seu coração: Deus não existe" (Salmo 52,2).
Não é mentira dizer que está escrito na Bíblia que Deus não existe. A frase, afinal, está lá para quem quiser ler. A questão é que o resto da frase também está lá para quem quiser ler. Quem ler o texto completo não precisará de grandes malabarismos intelectuais para concluir que a Bíblia passou longe de afirmar a inexistência de Deus.
Uma coisa, portanto, é afirmar que a frase "Deus não existe" aparece na Bíblia, porque certamente aparece; outra coisa, muito diferente, é sustentar que "a Bíblia afirma que Deus não existe", porque não o afirma: apenas registra que esta é uma afirmação que o descrente faz para si mesmo.
É relativamente fácil mentir dizendo pedaços de verdades. Podemos testemunhá-lo, por exemplo, em número considerável de afirmações proclamadas durante campanhas eleitorais.
Mais fácil ainda, porém, é perguntar-se: "Esta informação está completa?".
O bom hábito de fazer-se tal pergunta, no mínimo, pouparia muitas vergonhas à espécie humana.