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Entrevista com o autor do relatório sobre abusos sexuais na Igreja na França

JEAN-MARC SAUVÉ

Jean-Marc Sauvé, président d'Apprentis d'Auteuil.

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I. Media - publicado em 06/10/21
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"Não há dúvida sobre a vontade da Santa Sé de enfrentar o problema", disse Jean-Marc Sauvé a I.MEDIA

Após três anos de investigação, a Comissão Independente sobre Abuso Sexual na Igreja (Ciase) apresentou em 5 de outubro de 2021 um relatório no qual estima que 216.000 pessoas podem ter sido vítimas de abusos sexuais por clérigos ou religiosos desde 1950 na França.

A agência I.MEDIA entrevistou Jean-Marc Sauvé, presidente do Ciase, sobre as relações entre a Igreja na França e a Santa Sé na luta contra os abusos sexuais. Segundo ele, embora o Papa Francisco esteja claramente envolvido nessa luta, a falta de firmeza de Roma nessas questões até o início dos anos 2000 pode ter tido consequências para a extensão da crise na França.

É uma possibilidade que está em cima da mesa. Estamos à disposição do Santo Padre para encontrá-lo. Veremos o que a Santa Sé pode fazer. É possível que haja uma viagem a Roma dentro de um período que não foi determinado até agora.

Minha impressão é que o Papa Francisco disse e fez coisas importantes na luta contra os abusos sexuais na Igreja. Penso especificamente na Carta ao Povo de Deus de agosto de 2018 e no encontro que ele organizou em fevereiro de 2019 com os presidentes das conferências episcopais em todo o mundo. Existem outros exemplos, como a reforma do direito canônico que entra em vigor em 8 de dezembro e é o culminar de um longo trabalho.

Na comissão que presidi, não há dúvidas sobre a vontade da Santa Sé de enfrentar este problema ou sobre o compromisso do Papa Francisco com essas questões. O Papa está em linha com o pontificado de Bento XVI, que tomou muitas medidas a esse respeito.

Devemos entender o fato de que as vítimas expressam um grande radicalismo e uma forma de impaciência que pode levá-las a acusações que, da minha parte, eu não compartilho.

Acho que sim. Até o início dos anos 2000, a Santa Sé não estava extremamente atenta a essas questões. As primeiras medidas apareceram em 2001 sob o pontificado de João Paulo II. Então, houve uma virada com o novo século. Na França, foi nessa época que despertou uma maior sensibilidade perante essas questões.

No entanto, notamos que as instituições civis também evoluíram neste período. Na França, foi somente em 1998 que o Ministério da Educação nacional decidiu agir com tolerância zero. Então essas duas mudanças de postura ocorreram ao mesmo tempo. O problema é que a mudança de postura na educação nacional foi feita muito rapidamente, sem hesitação, enquanto, na Igreja, as coisas são feitas com muito mais dificuldades, o que levou ao atraso no processo de atualização dos procedimentos de combate ao abuso infantil.

Estamos bem cientes de que uma reforma do direito canônico é uma decisão que pertence ao Papa e que tem um escopo universal. Para este tipo de recomendação, estamos cientes de que a Conferência Episcopal Francesa não pode fazer nada. É responsabilidade do Papa e da Santa Sé. Como já disse, a reforma do direito canônico que entra em vigor em 8 de dezembro está no caminho certo.

Na comissão a que presido há um certo número de advogados. Eu mesmo fui vice-presidente do Conselho de Estado da França. Somos sensíveis ao fato de que o procedimento perante jurisdições canônicas em matéria penal não é atualmente um procedimento justo. Não é no sentido que entendemos, por exemplo, na Convenção Europeia dos Direitos Humanos. Seria extremamente útil para a Igreja se esse procedimento fosse reformado.

O simples fato de ter criado um tribunal penal interdiocesano ajudará a regular muitos problemas. É uma medida que também está no caminho certo.

Sobre a questão do direito canônico, gostaria de destacar um ponto muito importante, o do acesso das vítimas ao processo. Na comissão, todos nós ficamos extremamente impressionados com isso, especialmente quando você olha para a situação das mulheres, religiosas que apresentaram queixas na Igreja. Os processos se desenvolveram sem que as vítimas fossem ouvidas. No final, elas viram com espanto que o processo havia terminado, que uma sentença havia sido emitida e que elas nem haviam sido informadas.

Sobre essas questões, estou disposto a mobilizar tudo o que é necessário em termos de convencimento para destacar que temos que nos mover.

A Comissão considera que viria bem ao governo da Igreja Católica uma revisão da cabeça aos pés. Entre as diretrizes que achamos úteis e prioritárias, haveria a busca por uma melhor articulação entre a dimensão vertical e a dimensão horizontal, ou seja, entre hierarquia e sinodalidade. Acreditamos que mais deliberações dariam segurança à Igreja Católica e permitiriam que ela respondesse de forma mais eficaz e pertinente ao problema dos abusos.

Quando uma decisão é tomada sozinha, o risco de cometer erros é maior do que quando a decisão é colegiada. Isso se aplica a todos os aspectos do governo. Dentro da comissão, se eu tomar decisões sozinho, é algo rápido e prático. Mas se discuti-las em conjunto, tomaremos decisões mais bem fundamentadas.

Acreditamos, portanto, que o desenvolvimento da sinodalidade e a associação de leigos, homens e mulheres, no poder de decisão da Igreja pode ser uma resposta, entre outras, para um tratamento mais adequado do problema dos abusos.

Para dar um exemplo, trabalhando no exame dos arquivos da Igreja Católica, descobrimos que, na década de 1990, havia um trabalho inicial que foi realizado. Percebemos que foram as mulheres que refletiram sobre essas questões, que fizeram as perguntas apropriadas e que pressionaram os bispos a agir.

Ter pessoas iluminadas que percebem coisas que, por exemplo, os homens não percebem e fazê-las participar do processo de tomada de decisão significa tomar melhores decisões.

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