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Possessão diabólica se confunde com epilepsia? A medicina diz que não

exorcismo
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Vitor Roberto Pugliesi Marques - publicado em 02/11/21
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Estejamos em comunhão com a Igreja. Saibamos que existem, é óbvio, doenças neurológicas e psiquiátricas, mas que também há a ação do demônio neste mundo de vários modos

A existência real do demônio é verdade de fé católica desde os tempos bíblicos. Conforme nos ensina o Magistério da Igreja, ele é um anjo criado bom por Deus, todavia perverteu-se pelo pecado. Nos tempos modernos de antropocentrismo e de tendências a se negar os princípios cristãos de sempre, há quem afirme que, na verdade, as possessões demoníacas são manifestações de diversas doenças psiquiátricas e/ou neurológicas, tais como a epilepsia. Ora, baseado nos conceitos atuais da medicina, pretendemos demostrar que não há como sustentar que esses fenômenos espirituais são manifestações epilépticas.

Epilepsia

Conceitualmente, a epilepsia é “um transtorno do encéfalo caracterizado por predisposição persistente de gerar crises epilépticas, e pelas consequências neurobiológicas, cognitivas, psicológicas e sociais dessa condição” (cf. Conceito de epilepsia da International League Against Epilepsy e da International Bureau for Epilepsy). Quando tem início em uma região cerebral específica e, depois, propaga-se, é denominada epilepsia focal; quando iniciada em determinada região cerebral, mas há uma propagação imediata das descargas por todo o circuito cerebral (de modo a parecer que ocorre em todo o encéfalo ao mesmo tempo) é denominada epilepsia generalizada. Desse modo, conforme seu local de início e sua propagação, a atividade epileptiforme (nome que recebe a atividade cerebral anormal que ocasionam as crises epilépticas) gera no indivíduo uma variada quantidade de manifestações clínicas, sejam elas motoras, sensitivas ou autonômicas, com consequências cognitivas, sociais e psicológicas a estes.

Manifestações

As manifestações epilépticas - que são mais retumbantes e que causam maior impacto social – são as que ocasionam intensos abalos musculares, sendo denominados movimentos tônico-clônicos. Estas podem ser decorrentes tanto de epilepsias focais quanto generalizadas e exigem que se preste socorro imediato ao indivíduo, pois podem ocasionar traumatismos diversos, tais como traumatismos cranianos e fraturas ósseas. Atualmente, há um arsenal técnico sofisticado para se estudar as epilepsias, com especial destaque ao exame de eletroencefalograma e de ressonância magnética de encéfalo. Por meio da correlação vídeo-eletroencefalográfica, pode-se estabelecer, com precisão, como é o quadro clínico de cada tipo de epilepsia, bem como documentar que, de fato, há uma atividade elétrica encefálica anormal concomitante ao evento. Essas manifestações são de certo modo “estereotipadas”, pois se sabe que, conforme cada zona epileptogênica (ou seja, cada região do encéfalo na qual se iniciam as crises), há manifestações clínicas que já são esperadas. 

Possessões demoníacas

Quando os transtornos sob estudo não estão associados a uma atividade epileptiforme, deve-se seguir a investigação com a finalidade de esclarecer outros diagnósticos possíveis para o quadro, tais como transtornos do movimento e transtornos do sono, ou verificar se se trata de uma manifestação psiquiátrica, que é denominada crise não epileptogênica psicogênica (CNEP). Esta, vale destacar, perfaz um número apreciável dos diagnósticos nos serviços especializados. Ora, quando se fala em possessões demoníacas, descrevem-se fenômenos de alterações somáticas (como mudanças da cor dos olhos, surgimento de estigmas ou outras “inscrições” cutâneas, alteração de voz), força incompatível com o físico da pessoa (titanismo), levitação, falar em línguas desconhecidas pela pessoa, ler pensamentos alheios etc. (cf. Possessão demoníaca: os sinais que a medicina não consegue explicar). Por mais que se perscrute a semiologia da epilepsia, nenhum desses fenômenos podem ser atribuídos a manifestações epilépticas. Da mesma forma, as crises não epileptogênicas psicogênicas são claramente justificadas por um transtorno psiquiátrico subjacente do indivíduo, pelo seu contexto sociocultural, ou pelo seu porte físico (por exemplo, o titanismo é algo que não é documentado nesses transtornos). 

Situações totalmente distintas

É verdade que há epilepsias que são por demais interessantes, tais como as denominadas epilepsias com automatismo religioso. Nessas epilepsias, iniciadas no hemisfério cerebral direito, o indivíduo inicia a crise convulsiva com repetidos movimentos religiosos automáticos, tais como benzer-se com o sinal da cruz de forma sequencial. Curiosamente, ao contrário das possessões demoníacas, em que se tem aversão aos símbolos religiosos, essa epilepsia parece ser bem católica! Assim, tendo um estudo básico de epileptologia, pode-se concluir que não há como atribuir às manifestações epilépticas a etiologia das possessões demoníacas; são situações totalmente distintas. Ao que nos parece, esse “forçar a barra” para dizer que as possessões não existem tem origem em uma má formação católica ou em uma intenção de colocar no homem na origem de tudo, de modo a delegar o plano transcendental aos bastidores da humanidade ou, então, à sua inexistência. 

Estejamos em comunhão com a Igreja. Saibamos que existem, é óbvio, doenças neurológicas e psiquiátricas, mas que também há a ação do demônio neste mundo de vários modos, inclusive por meio de possessões. Sabendo discernir as diversas situações (de preferência com a ajuda de um padre exorcista, que é o sacerdote especializado na área) poderemos, de fato, exercer a caridade de corpo e de alma para com o nosso próximo. 

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