A Igreja Católica na França levantou US$ 22,6 milhões (o equivalente a R$ 133,5 milhões) para um fundo de compensação voltado a vítimas de abuso sexual.
A maior parte do dinheiro veio de doações privadas, segundo a AFP, a agência de notícias francesa.
“É um primeiro passo. A Igreja cumpriu seu compromisso”, disse à agência o presidente do fundo Selam, Gilles Vermot-Desroches.
“Cinco milhões iniciais serão reservados para pagar pedidos de indenização que estão sendo estudados por um conselho independente criado após o relatório de abusos divulgado em outubro”, disse a agência de notícias.
A Comissão Independente sobre Abuso Sexual na Igreja (conhecida por sua sigla em francês CIASE) encontrou milhares de casos de abuso sexual na Igreja da França nas últimas sete décadas. Em um relatório de 500 páginas, acompanhado por cerca de 2.000 páginas de documentos de apoio, relatou sua estimativa de 330.000 vítimas, das quais cerca de 216.000 foram vítimas de abusos por padres.
“A Igreja não viu nem ouviu, não captou os sinais fracos, não tomou as medidas rigorosas que eram necessárias”, disse Jean-Marc Sauvé, presidente da comissão, quando o relatório inicial foi divulgado. Durante anos, a Igreja mostrou uma “indiferença profunda, total e até cruel em relação às vítimas”, disse ele.
Segundo o relatório, pouco mais da metade dos casos de abuso ocorreu entre 1950 e 1969, caindo progressivamente entre 1970 e 1990. O chefe da Conferência Episcopal Francesa, o arcebispo Eric de Moulins-Beaufort, de Reims, chamou a escala do abuso de “terrível ”, e disse que a voz das vítimas “nos comove profundamente. O número deles nos supera. Vai além do que poderíamos ter imaginado.”
A comissão foi criada em 2018 pela Conferência Episcopal da França e pela Conferência de Religiosos e Religiosas da França, em resposta a um número crescente de reivindicações históricas de abuso sexual. Ela estudou arquivos da Igreja, dos tribunais e da polícia, além de reportagens da mídia. Foram ouvidas 6.500 pessoas – tanto vítimas quanto pessoas próximas a elas.
A comissão fez 45 recomendações para reforma, incluindo a revisão do Código de Direito Canônico, melhor discernimento e formação para os seminaristas e criação de mecanismos concretos de reconhecimento, como cerimônias públicas, celebrações litúrgicas comemorativas do sofrimento infligido e memoriais às vítimas e seu sofrimento.
De acordo com a AFP, a CIASE instou a Igreja a pagar as vítimas com seus próprios bens, em vez de pedir aos paroquianos que contribuam com isso. O arcebispo Moulins-Beaufort disse que a Igreja pagaria pelas alegações de abuso vendendo imóveis e utilizando suas participações financeiras. Mas a Igreja também não desencorajou os paroquianos de doarem para o fundo.