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Luta contra o machismo avança no Dia Internacional das Mulheres

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Octavio Messias - publicado em 08/03/22
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Reações a falas misóginas de um deputado brasileiro demonstram como esse tipo de comportamento não é mais tolerado em nossa sociedade

Um dos assuntos mais comentados do fim de semana foram os áudios que vazaram do deputado estadual Arthur do Val (São Paulo), nos quais ele fazia comentários machistas, misóginos, sexistas e xenófobos a respeito de mulheres ucranianas. O conteúdo viralizou na internet quando o parlamentar, mais conhecido como Mamãe Falei, voltava de uma missão supostamente humanitária, financiada por apoiadores em sistema de vaquinha virtual, em socorro às vítimas da invasão russa. 

Embora a fala de Val seja incontestavelmente repugnante, chega a causar surpresa tamanha repercussão em torno de um discurso machista em um país onde, em muitos lugares, esse tipo de comportamento é culturalmente aceito e até estimulado. Uma visão de mundo sexista, que objetifica as mulheres roubando-lhes sua humanidade, não condiz com os princípios de um cristão. 

Normalização do erro

Durante audiência geral na Praça de São Pedro, no Vaticano, em 2015, Papa Francisco condenou "os excessos do machismo, que considera a mulher de segunda classe" e denunciou as "variadas formas de sedução enganosa e prepotência humilhante que são exercidas sobre as mulheres''.

Entre tantos movimentos dos últimos anos que se revelam legítimos e necessários na busca por um mundo mais justo, a luta contra o machismo começa a surtir resultados práticos em nossa sociedade. Eu, como homem, já participei de diversos grupos de WhatsApp onde circularam áudios, textos ou vídeos de machismo equivalente ao do deputado. Comentários como os dele são normalizados em vestiários, bares e demais rodas masculinas. 

Mudança necessária

E agora vemos que esse tipo de postura está deixando de ser tolerado. A molecagem já custou ao deputado sua namorada, sua candidatura, apoiadores políticos importantes e possivelmente levará à cassação de seu mandato. 

"Ah, mas foi só brincadeira", tantos se apressam em comentar nos sites de notícias. Mas esse tipo de "brincadeira" é justamente o que normaliza uma visão desumanizada da mulher, que lhe subjuga o poder de decisão, tornando-a fantoche dos desejos e anseios masculinos. Esse tipo de "brincadeira" que resulta em estatísticas alarmantes como as que tivemos em 2021, quando o Brasil registrou um estupro a cada 10 minutos e um feminicídio a cada sete horas. 

Esse tipo de "brincadeira" impede que se dê a devida importância a problemas de tal magnitude, e que se enxergue como a violência tem uma relação direta com um desdém e um sentimento de desimportância que culturalmente são direcionados às mulheres. Esse tipo de "brincadeira" reforça a visão da mulher como um ser inferior. 

Respeito e comunhão

Como disse Papa Francisco, ainda em sua fala sobre machismo na Praça de São Pedro em 2015, "a relação [homem-mulher] vê-se assediada por mil formas de sedução enganosa, humilhação e até de violência", o que resulta na "dificuldade de uma aliança plena, capaz de uma relação íntima de comunhão e de respeito das diferenças."

Portanto, neste Dia Internacional das Mulheres, o exercício que cabe a cada homem é identificar em si mesmo traços de misoginia (ódio às mulheres) que tenham sido inconscientemente absorvidos ao longo da vida e trabalhar (seja com terapia, seja pela fé) para corrigi-los. E, na próxima vez que ouvir um colega fazer um comentário machista ou ser minimamente desrespeitoso com uma mulher, cabe chamar-lhe a atenção. Os tempos estão mudando e, neste caso, a mudança é por um mundo melhor. 

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