Recentemente, um surto de ansiedade coletiva que atingiu adolescentes de uma escola no Recife, PE, deixou os pais em estado de alerta. Vinte e seis jovens que estavam na escola precisaram ser atendidos às pressas por profissionais do Samu. Os estudantes relataram sintomas como, tremor, crise de choro, taquicardia e falta de ar.
No interior de São Paulo, outro caso preocupante: nove adolescentes mutilaram os próprios corpos com lâmina de apontador. Eles se esconderam no banheiro da escola e se machucaram depois de relatar "solidão e tristeza". O caso também foi considerado como surto de "ansiedade coletiva".
Os números da ansiedade
Um levantamento feito pela Secretaria Estadual de Educação de São Paulo em 2021 mostra que dois de cada três estudantes do 5.º e 9.º ano do ensino fundamental e da 3.ª série do ensino médio das escolas estaduais apresentam sintomas de depressão e ansiedade.
O estudo ainda revelou que outros 18,8% dos entrevistados se sentem totalmente esgotados e sob pressão, enquanto outros 18% disseram perder o sono por conta das preocupações. Além disso 13,6% dos jovens afirmaram que não têm confiança em si mesmos.
Já um levantamento publicado pela revista científica JAMA Pediatrics mostra que, de janeiro de 2016 a março de 2022, o número de crianças diagnosticadas com ansiedade aumentou 29%.
A importância do diagnóstico precoce
O aumento do número de casos de ansiedade entre crianças e adolescentes levou a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos a recomendar que todas as pessoas entre 8 e 18 anos - mesmo sem sintomas - passem por uma avaliação com um profissional para se saber se elas têm ansiedade ou depressão.
Essa força-tarefa tem o apoio do governo americano, mas não tem poder regulatório. Mesmo assim, os médicos costumam seguir as recomendações da instituição.
"Felizmente, descobrimos que a triagem de crianças mais velhas para ansiedade e depressão é eficaz na identificação dessas condições", disse Martha Kubik à Reuters Martha é membro da força-tarefa e professora da Universidade George Mason.
Para a psicóloga clínica brasileira Thaís Ducini, o diagnóstico precoce da ansiedade infantil é fundamental. "O diagnóstico precoce de um transtorno de ansiedade, por exemplo, pode evitar um futuro diagnóstico por depressão. Como as crianças estão em um processo de desenvolvimento bastante acelerado, quanto antes for identificado e o tratamento começar, menores são as chances de elas levarem isso para a vida adulta", explica a especialista.
O papel dos pais
As pesquisas, portanto, só reforçam o que educadores, psicólogos e psiquiatras há muito vêm dizendo: nós, pais, precisamos prestar mais atenção na saúde mental dos nossos filhos.
Entretanto, a ansiedade dos filhos pode passar despercebida pelos pais. Trata-se de uma condição subjetiva, difícil de ser externada explicitamente pelas crianças. Por outro lado, também há uma certa resistência dos pais em relação ao diagnóstico. "Algumas famílias têm um estilo de vida muito corrido e os pais acabam não prestando atenção nos filhos, o que dificulta. Outra coisa é que muitas famílias reconhecem os sintomas, têm medo do diagnóstico e acabam não indo atrás do tratamento", afirma a psicóloga Thaís Ducini.
A profissional ainda dá dicas de como pais e mães devem voltar o olhar para crianças, de modo a perceber algum transtorno. "É preciso observar como a criança brinca, como ela interage com os colegas, como são as preferências, como estão as rotinas de sono, alimentação. Também é preciso observar se ela tem queixas de dores na barriga, suor excessivo, medo exagerado de alguma coisa, palpitação sem causa clínica aparente. Esses sintomas podem ser indícios de algum grau de ansiedade", explica a psicóloga.
Como sempre, a atenção dos pais e a procura de ajuda especializada farão a diferença na vida dos filhos!