“A situação é preocupante porque depois de um tempo de acalmia, [os terroristas] voltaram novamente a atacar. Esperemos que não seja nada de grave, para que novamente o clima de medo não se instale entre a população.” As palavras são de D. Diamantino Antunes, Bispo de Tete, numa mensagem enviada para a Fundação AIS em Lisboa, face ao avolumar de notícias de novos ataques de grupos armados na região norte de Moçambique, especialmente no distrito de Ancuabe, com diversos mortos, inclusivamente com pessoas decapitadas.
Um desses ataques, à aldeia de Nanduli, foi mesmo confirmado pelo presidente de Moçambique, na segunda-feira, dia 6 de Junho. “Ainda ontem [dia 5] atacaram a aldeia de Nanduli, no distrito de Ancuabe”, disse Filipe Nyusi, assegurando, no entanto, que a situação estaria sob controlo, “não obstante os actos de terrorismo que ainda prevalecem”. Como consequência imediata dos ataques, gerou-se uma nova onda de deslocados, cerca de 2500, segundo dados divulgados entretanto pelas autoridades.
Incidentes
E de fato, tal como disse o presidente moçambicano, os ataques prosseguiram e nos últimos dias houve mesmo incidentes, por exemplo na aldeia de Muaguide, na localidade de Ntutupue e na vila de Napuiliamuite, no distrito de Mecufi. Segundo dados a que a Fundação AIS teve acesso, no caso da vila de Napuiliamuite, os insurgentes, como os terroristas são conhecidos localmente, “raptaram muitos civis e várias casas foram destruídas”.
O ambiente é, efetivamente, de alguma tensão, incluindo na capital de província, a cidade de Pemba. Sinal de que as autoridades militares estão a levar muito a sério esta nova onda de ataques, a polícia moçambicana activou a escolta militar das viaturas que circulam na principal estrada de Moçambique, a EN 1, no troço entre Metuge e Ancuabe, após ter ocorrido mais um incidente grave, já no sábado, dia 11 de Junho, numa aldeia na região e de que resultou a morte a quatro pessoas.
Insegurança
Face a este clima de natural insegurança, o Bispo de Pemba, D. António Juliasse, pediu a diversos missionários que se encontravam nas localidades de Metoro, Mecufi e Mazeze que fossem para “lugares mais seguros”, como uma irmã descreveu numa mensagem enviada também para a Fundação AIS. Não foi uma ordem de retirada, mas sim “uma recomendação”. Ao todo, nestas três missões estariam entre oito a dez religiosos.
No início do mês de Fevereiro, a Fundação AIS dava conta já de uma situação de “tensão muito forte” na vila de Macomia, situada também na província de Cabo Delgado, onde, segundo uma religiosa, “muitas aldeias” foram atacadas, verificando-se ainda “o rapto sistemático de pessoas, principalmente mulheres e mães com suas próprias crianças”, o que contribuiu para o agravamento do sentimento de insegurança entre as populações locais.
Desde que os ataques armados tiveram início, em Outubro de 2017, já morreram mais de três mil pessoas. Como consequência directa da violência terrorista, há ainda cerca de 800 mil deslocados internos. Toda esta situação tornou Moçambique num país prioritário para a Fundação AIS no continente africano, especialmente no que diz respeito ao apoio aos refugiados.
(Com AIS)