A pessoa em questão é a mesma pessoa que escreveu o Evangelho que estamos a ler. Teria sido bom ter mais alguns detalhes sobre o que aconteceu naquele momento. Mas penso que a discrição com que esta chamada é contada nos lembra que há coisas que são difíceis de encapsular numa narrativa.
Se alguém lhe perguntar porque ama alguém, pode responder de muitas maneiras mas no final tem de aceitar que há algo misterioso no âmago desse amor que nenhuma quantidade de raciocínio ou palavras pode captar. Devemos educar-nos para respeitar este núcleo de intimidade que habita dentro de nós e deixar de querer analisar sempre tudo.
O Evangelho prossegue então para nos falar do escândalo causado por Jesus colocar-se à mesa com os pecadores. Como pode um homem justo colocar-se em pé de igualdade com um homem impuro? É o princípio religioso mais difundido no mundo: o puro deve manter-se afastado daquilo que o torna impuro. Jesus traz uma novidade radical:
O amor de Deus não é como de alguma categoria religiosa perdida, pelo contrário, realiza inesperadamente aquilo que outros cuidadosamente evitam: ama o que não é amável e, por isso mesmo, salva-o.
Evangelho de Mateus 9, 9-13
Partindo dali, Jesus viu um homem chamado Mateus, que estava sentado no posto do pagamento das taxas. Disse-lhe: Segue-me. O homem levantou-se e o seguiu. Como Jesus estivesse à mesa na casa desse homem, numerosos publicanos e pecadores vieram e sentaram-se com ele e seus discípulos. Vendo isto, os fariseus disseram aos discípulos: "Por que come vosso mestre com os publicanos e com os pecadores?" Jesus, ouvindo isto, respondeu-lhes: "Não são os que estão bem que precisam de médico, mas sim os doentes. Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero a misericórdia e não o sacrifício (Os 6,6). Eu não vim chamar os justos, mas os pecadores."