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“Guardei a fé: um monge face à doença de Charcot”

Enfermeira com crucifixo
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Vanderlei de Lima - publicado em 24/07/22
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A graça veio, no entanto, em vista de um grande bem espiritual: “Depois, dei-me conta que o milagre havia acontecido"

A obra de título acima, publicada pelas Edições Subiaco das monjas beneditinas de Juiz de Fora (MG), traz, em primeira pessoa, a vida de Dom Irineu Rezende Guimarães, OSB. Ele foi, em 2008, aos 51 anos, diagnosticado com ELA (Esclerose Lateral Amiotrófica) ou Doença de Charcot, que é altamente degenerativa e incurável.

Bruna Witcoski, na Apresentação da obra, diz: “Este livro, que atesta a vivência da fé como Presença, nasceu de conversações e meditações partilhadas por dom Irineu e por Roch-Étienne, enfermeiro em um hospital parisiense, cuidador e amigo de dom Irineu. Tais conversações logo tomaram forma, e no papel se gravou o testemunho daquele que percorria o caminho da ‘fé viva’, daquele que voltava à morada interior, à casa do Pai em seu coração sofredor, daquele que vivia essa fé em todas as fibras de seu corpo e em todas as aspirações de sua alma” (p. 11).

Já Dom Joël Chauvelot, OSB, abade de Notre-Dame de Tournay, testemunha a serenidade do monge face à grave enfermidade: “Pela razão mesma de sua fé cristã e da dimensão apostólica de sua vida, procurou dar testemunho junto aos outros – o grupo de pessoas ao seu redor e seus amigos – da presença de Deus no coração mesmo da provação que ele vivia. Ao longo dos dez meses em que esteve hospitalizado, entre janeiro e outubro de 2015, todos os cuidadores que dele se aproximaram foram testemunhas da paz interior que demonstrou até o fim. Quantas pessoas ele continuou a acompanhar com seus conselhos, a encorajar com sua própria coragem, quando ele não podia nada mais fazer por si mesmo, senão rezar e viver um perfeito abandono!” (p. 15-16).

A aceitação da enfermidade não foi, todavia, tranquila. Afinal, um homem que, em pouco tempo, vai de importante escritor a tetraplégico, pede, a exemplo de Cristo (cf. Mt 26,39) e de Paulo (cf. 2Cor 12,7-10), que Deus lhe afaste a terrível provação. É ele mesmo quem confessa: “Por longos anos, pedi a Deus e a numerosos santos que me beneficiassem com um milagre. Eu desejava ardentemente ficar livre dessa doença que me torturava. Tantos sentimentos bem humanos – desencorajamento, negociação, inveja, recusa – matizaram meu caminho. Estando a alguns quilômetros de Lourdes, supliquei durante meses à Virgem Maria obter-me a cura completa de minha doença. Mas nada aconteceu. Minha saúde não cessou seu processo de degradação” (p. 113).

A graça veio, no entanto, em vista de um grande bem espiritual: “Depois, dei-me conta que o milagre havia acontecido. Deus tinha operado em mim uma conversão. Eu aderi pouco a pouco à sua vontade sobre mim. Era colérico, impaciente, profundamente insuportável para muita gente. Sem o querer verdadeiramente, fui me descobrindo menos exigente com os outros, mesmo que o seja ainda por momentos. Irritava-me menos quando as pessoas estavam atrasadas... Eu humanizava esta doença. Em lugar de me afastar de Deus e dos homens, ela me aproximava deles” (idem).

E chega ao auge da mística, ou seja, à íntima união com Deus: “Eu estou como que crucificado. Não posso mexer nem meus pés, nem minhas pernas, nem meus braços. Meu pescoço não carrega mais minha cabeça. Preciso de uma prótese para mantê-la reta. Apesar da máquina que supre os movimentos de meu diafragma enfraquecido, sinto incessantemente uma sensação de asfixia. Pertencer a Cristo é uma graça imensa. O Apóstolo Paulo encoraja-me: Agora eu me regozijo nos meus sofrimentos por vós, e completo na minha carne, o que falta das tribulações de Cristo pelo seu Corpo que é a Igreja” (p. 117; cf. Cl 1,24).

Dom Irineu se ofereceu como vítima expiatória pela paz no mundo: “É para paz no mundo que ofereço meu sofrimento dia após dia. É isto que me dá o desejo de continuar a viver quanto o Senhor quiser” (p. 141; cf. p. 16 e 149).

Possa a sua vida – aqui apresentada em brevíssimos pontos – servir de exemplo a cada um de nós. Afinal, os antigos gregos já diziam que o sofrimento é escola!

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