O Papa nomeia como assistente pessoal de saúde o homem que "salvou a sua vida"
Por Isabella H. de Carvalho e Camille Dalmas - O Papa Francisco nomeou o italiano Massimiliano Strappetti para o cargo de "assistente pessoal de saúde do Santo Padre", anunciou o Gabinete de Imprensa da Santa Sé a 4 de Agosto. O enfermeiro, que até então tinha sido coordenador do Centro de Saúde do Vaticano, tinha-se distinguido durante a operação do cólon no pontífice em Julho de 2021, ao ponto de o papa ter declarado que ele tinha "salvo a sua vida".
Embora o Papa Francisco já tenha um médico pessoal, Roberto Bernabei, em funções desde Fevereiro de 2021, o cargo de assistente pessoal de saúde parece ser novo e complementa a equipe médica encarregada do pontífice. "Ele precisa de uma assistência mais assídua", explicou uma fonte do Vaticano, acrescentando que ao criar esta nova posição, "está a formalizar uma situação que já existia".
O pontífice foi acompanhado por um enfermeiro durante a sua viagem ao Canadá, que completou quase inteiramente enquanto estava sentado numa cadeira de rodas devido a sérias complicações nos joelhos. No início de Julho de 2021, o Papa foi também submetido a uma cirurgia ao cólon, durante a qual foram removidos 33 centímetros do seu intestino.
"Um homem muito experiente"
Numa entrevista à Rádio espanhola COPE, publicada em Setembro de 2021, Francisco tinha explicado o papel especial desempenhado por um enfermeiro durante esta operação. "Ele salvou-me a vida! Ele disse-me: 'Tens de se fazer uma operação'. Houve outras opiniões: 'É melhor com antibióticos…' mas o enfermeiro explicou-o muito bem. É um enfermeiro local, do nosso serviço de saúde, do hospital do Vaticano. Ele está aqui há trinta anos, é um homem muito experiente", explicou o pontífice.
Após a entrevista, a identidade do enfermeiro foi revelada nos meios de comunicação social italianos. O homem de 53 anos trabalhou no departamento de reanimação da Policlínica Gemelli antes de entrar para o Serviço Médico do Vaticano, explica Il Corriere della Sera. O artigo acrescenta ainda que o enfermeiro é ativo no setor do voluntariado e que também assistiu João Paulo II e Bento XVI.
Papa Francisco a jesuítas canadenses: a sinodalidade não se deve perder "no funil de uma única questão"
Por Camille Dalmas - Para o Papa Francisco, o adjetivo "sinodal" não deve ser usado "como se fosse a receita de última hora para a Igreja", disse ele durante um encontro com jesuítas canadenses a 29 de Julho, cujo conteúdo foi publicado no website da revista jesuíta italiana La Civiltà Cattolica a 4 de Agosto. Lamentou o fato de os sínodos serem demasiadas vezes apanhados no "funil de uma única questão", recordando em particular o caso do sínodo sobre a família (2015) que se centrava na controversa questão dos divorciados em nova união.
Como faz em todas as viagens fora de Itália, o pontífice encontrou-se com um grupo de jesuítas durante a sua viagem ao Canadá. O encontro com 15 membros da província canadense teve lugar na cidade do Quebec a 29 de Julho às 9 horas da manhã, na presença do diretor de La Civiltà Cattolica, Padre Antonio Spadaro, pouco antes de o Papa voar para Iqaluit.
"A Igreja é sinodal, ou não é Igreja", insistiu o pontífice, explicando que tinha lançado o Sínodo sobre a sinodalidade para reafirmar esta realidade, redescoberta durante o Concílio Vaticano II. "A Igreja no Ocidente tinha perdido a sua tradição sinodal", sublinhou, dizendo que com a criação do Sínodo dos Bispos por Paulo VI, a Igreja tinha avançado "timidamente" mas tinha melhorado pouco a pouco ao longo dos vários sínodos.
O pontífice recordou a sua participação no Sínodo dos Bispos de 2001 como relator geral para substituir o Cardeal americano Edward Egan, Arcebispo de Nova Iorque, que tinha sido forçado a regressar aos Estados Unidos após a tragédia de 11 de Setembro. Explicou que tinha observado uma forma de "pré-selecção do material" recolhido pelos participantes, lamentando uma forma de censura de elementos considerados inadequados. "Não compreendemos o que é um sínodo", disse ele.
Uma liturgia mal manuseada
O pontífice também foi questionado sobre o lugar da liturgia. "Quando há um conflito, a liturgia é sempre mal conduzida", sublinhou, acreditando que "foi hoje estabelecida uma divisão na Igreja". Também deu como exemplo as "monstruosas deformações litúrgicas" observadas na América Latina há 30 anos atrás.
Francisco explicou que queria seguir "a linha adotada por João Paulo II e Bento XVI que tinham admitido o antigo rito e pedido uma verificação posterior". Esta verificação, explicou, "sublinhou a necessidade de disciplinar a questão" - com o Motu proprio 'Traditionis custodes' adotado em 2021 - a fim de evitar que a liturgia se tornasse "uma questão de moda". Pelo contrário, insistiu, a liturgia deve continuar a ser "o louvor público do povo de Deus".
Ideologia, o pior inimigo da unidade
Voltando ao significado da sua "peregrinação penitencial" ao povo indígena do Canadá, o Papa Francisco insistiu que tinha pedido perdão em nome da Igreja. Explicou que se sentia obrigado a clarificar a natureza da sua intervenção apenas quando falava em seu próprio nome.
O Papa prestou também um forte tributo ao episcopado do país. "Foram os bispos que fizeram tudo".
"O episcopado do Canadá tem sido um exemplo de episcopado unido", disse ele, explicando que esta era uma condição indispensável para "enfrentar os desafios". Contudo, o Papa reconheceu que existem também "pessoas que trabalham contra a cura e a reconciliação, tanto na sociedade como na Igreja". Explicou que tinha notado um "pequeno grupo tradicionalista" protestando contra a sua viagem e advertiu contra a ideologia, "o pior inimigo da unidade da Igreja".
O tradicionalismo é um paganismo de pensamento
O pontífice explicou a sua opção de não se encontrar com vítimas de abuso no Canadá por falta de tempo, mas também como uma forma de garantir que a questão dos povos indígenas continue a ser o "tema forte" da viagem. Disse que tinha respondido pessoalmente a várias cartas que o interrogavam sobre este assunto para esclarecer a sua decisão.
Francisco voltou às muitas "alterações" feitas na lei canónica durante o seu pontificado para combater mais eficazmente os abusos, e defendeu esta dinâmica. A lei, insistiu ele, não pode "ser guardada num frigorífico", mas deve acompanhar a vida, seguindo um "desenvolvimento biológico".
Recordou que a escravidão já foi legal e que a posse de armas atómicas não era considerada imoral como é hoje pela Igreja Católica. "A vida moral está a progredir", disse, advertindo contra ver a doutrina da Igreja como "um monólito" que deve ser defendida "sem nuances".
O tradicionalismo é um "paganismo de pensamento" quando defende o "sempre o fizemos desta forma", disse o chefe da Igreja Católica. Insistiu em tomar a origem como "referência", não como um "modelo perpétuo".
Os Jesuítas do Canadá
Finalmente, o Papa Francisco disse aos seus anfitriões que esta era a sua terceira visita ao Canadá. Nos anos 70, como mestre de noviços dos Jesuítas, tinha visitado um padre jesuíta, e regressou em 2008 para o Congresso Eucarístico organizado em Montreal pelo Cardeal Marc Ouellet.
No Canadá, a Companhia de Jesus tem desempenhado um papel histórico na evangelização do país desde o século XVI. Muitos missionários desta ordem caíram como mártires no século XVII, incluindo São João de Brébeuf, que foi um dos primeiros a realizar trabalho antropológico e linguístico entre as populações nativas, particularmente os Hurons. Nos séculos XIX e XX, os jesuítas canadenses foram também encarregados pelo governo da gestão de uma escola residencial.
Existem atualmente cerca de 200 Jesuítas na província canadense, disse Gilles Mongeau, vice-provincial, alguns dias antes da viagem do pontífice ao país.