A Editora Lignum Vitae, de São Paulo (SP), acaba de lançar a robusta obra – 610 páginas ilustradas – Aqueles sacerdotes misteriosos.
Escrita por Fulton Sheen (1895-1979), exímio pregador, comunicador e sacerdote norte-americano do século XX, traz “uma profunda reflexão sobre o caráter cristológico do ministério sacerdotal” (Prefácio, p. 17) na Igreja Católica. Sheen tornou-se, em 1966, bispo de Rochester e aí exerceu o seu pastoreio até 1969, quando, em razão da idade, renunciou e foi, então, nomeado arcebispo titular de Newport (País de Gales). Em processo de canonização, o Papa Bento XVI o declarou Venerável em 2012. Espera-se, pois, um milagre de Deus, por sua intercessão, para que ele seja beatificado.
Tratando do modo sabiamente equilibrado de ser do arcebispo, o editor d’Aqueles sacerdotes misteriosos escreve: “Em uma época dominada por um falso aggiornamento promovido inclusive por grande parte do clero, D. Fulton Sheen nunca abandonou as verdades imutáveis da Igreja ou a fidelidade para com o Santo Padre, nunca aguou ou adocicou seus discursos para agradar o mundo, jamais deixou de lado a oração e a vida espiritual, tampouco abandonou os sinais externos que nos levam a encontrar verdades simples, mas por vezes esquecidas – como a batina e zelo na celebração dos Sacramentos. Pelo contrário: viveu o verdadeiro aggiornamento desejado por São João XXIII e pelo Concílio Vaticano II, transmitindo a mensagem da Igreja na fidelidade ao Evangelho e na proximidade com o povo de Deus” (p. 11-12).
A obra ora apresentada busca relembrar que Cristo é o verdadeiro e eterno sacerdote da Nova Aliança; os sacerdotes católicos são, portanto, seus ministros. Ora, o sacerdócio de Nosso Senhor está intimamente vinculado ao sacrifício da cruz; assim, não é possível sustentar coerentemente a vida sacerdotal sem viver, de fato, o aspecto sacrificial e vitimal do sacerdócio de Cristo. Os fiéis desejam sacerdotes que vivam em Deus e O transmitam a todos pelo exemplo e pela palavra. Homens que estejam no mundo sem serem mundanos (cf. Jo 15,18-21). Separados do mundo por Deus (cf. Jo 15,16-17; Jr 1,5), mas a ele enviados de volta (Jo 20,21; Mt 28,19; 2Cor 5,20).
Daí a oportuna pergunta e a sábia resposta do Cardeal Robert Sarah, na cerimônia de ordenação de 31 sacerdotes do Opus Dei, em 5 de maio de 2018, em Roma: “Uma vez que somos enviados, que devemos ensinar? Nada mais que a Palavra de Deus, o ensino doutrinal e moral da Igreja, a verdade sobre Deus, sobre Cristo e sobre o homem. Somos sacerdotes unicamente para anunciar Cristo. O homem de hoje pergunta por Cristo ao sacerdote. Sobre as outras coisas – em nível econômico, social ou político – ele pode consultar tantas pessoas competentes nessas matérias. O homem contemporâneo dirige-se ao padre à procura de Cristo. A liturgia da Palavra ensina ao sacerdote que ele é mestre na fé. Nós não criamos a fé, a fé é sempre um dom de Deus, tanto se a entendemos como virtude teologal infusa, como se nos referimos ao conteúdo da doutrina, ou seja, ao que se deve acreditar firmemente, sem hesitações nem confusões”.
Pois bem, o sacerdote que se torna um só com Cristo, sacerdote e vítima, vive, apesar dos percalços humanos que a todos acometem, a alegria santa de cumprir o nobre chamado divino. Já aquele que é padre na igreja, mas fora julga não precisar sê-lo, cai numa triste dicotomia causadora de neuroses. Afinal, “celebrar a Missa no domingo e depois negar a Presença Real na catequese é criar uma autoimagem que é uma completa agonia. Quando ele acha seu ministério um tédio, já devia saber o motivo disso: ou seja, a falta de fé em Cristo. Essa é, contudo, a única coisa que não se encara. Por isso, a psicoterapia clerical é tão difícil. Aqui não estamos tratando de casos anormais, mas apenas daqueles cuja fé esfriou: os estados patológicos resultam de uma falha em guardar a fé em Cristo” (p. 519).
Só nos resta parabenizar a Editora Lignum Vitae por lançar essa preciosa obra prefaciada por Dom Carlos Lema Garcia, bispo auxiliar de São Paulo.
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