"Houve um tempo em que uma pessoa de 60 anos era considerada "velha", mas, pelo menos no meu círculo, não é assim. Afinal de contas, a idade não está na mente? Quem conversa conosco é o padre jesuíta americano Robert McTeigue, professor de filosofia e teologia. O religioso recorda que, aos 10 anos de idade, decidiu que já não era uma criança. Para provar, doou toda a sua colecção de carrinhos para seu primo mais novo. "Essa foi a minha primeira experiência de estoicismo", ele brinca.
Depois, no seu vigésimo aniversário, sentiu-se "enganado": "Eu tinha acabado de compreender o que era a adolescência, mas aí ela já tinha acabado… Enquanto isso, o meu entusiasmo pelo mundo adulto e a minha confiança na minha capacidade de viver como adulto estavam incompletos".
Só nos seus trinta anos é que o Padre Robert McTeigue aceitou estar no mundo dos adultos como um fato inegável. As responsabilidades eram óbvias, e as possibilidades pareciam não ter fim. Para ele, o ritmo acelerou significativamente nos seus quarenta anos, quando a vida passou a parecer muito séria.
"Eu já andava pelo mundo há tempo suficiente para ter arrependimentos profundos e fracassos dolorosos. No entanto, ainda tinha tempo – pensei – para fazer uma vida melhor para mim. Mas de repente os meus cinquenta anos chegaram "com um estrondo: comecei a lamentar cada vez mais todas as oportunidades perdidas. O tempo parecia estar atrás de mim e não à minha frente… Agora estou definitivamente além da metade do caminho. E pergunto-me: posso esperar viver esta segunda metade da minha vida melhor do que a primeira?"
De fato, e se fosse possível viver melhor a segunda metade da vida do que a primeira? Para isso, aqui estão os conselhos do Padre Robert McTeigue, que se aplica a todos, qualquer que seja a sua idade:
1Listar diariamente as graças recebidas
Aqueles que espontaneamente têm o hábito de cultivar a gratidão todos os dias, cultivam a alegria dentro de si próprios. Pois, na gratidão, há sempre uma mão estendida em direção a outra. Ela afasta o foco do seu próprio ego e para aqueles que o rodeiam. E esta é a chave da felicidade. À noite, num caderno ou diário, tente escrever as graças recebidas durante o dia: uma conversa inspiradora com um amigo(a), o canto dos pássaros que o acordou de manhã, os parabéns do seu patrão… À medida que se vai avançando, o exercício vai-se tornando cada vez mais natural. E você perceberá que a felicidade é uma série de pequenas alegrias diárias. Quando disser "obrigado", tente fazê-lo sinceramente, concentrando toda a sua atenção na gratidão que sente quando o diz.
2LIVRAR-SE DA ILUSÃO DE QUE SE PODE PECAR SEM RISCO
O pecado é um animal selvagem, astuto e nunca satisfeito! Para viver melhor, é essencial livrar-se da ilusão de que se pode pecar sem risco ou sem consequências. De acordo com São Luís de Granada, o primeiro remédio é ter um desejo absoluto de escapar do pecado e de resolver fazer o que for preciso para acabar com ele. É uma questão de continuidade: "Aprenda esta lição com o carpinteiro, que, quando deseja pregar um grande prego, não se contenta com alguns golpes, mas continua a bater até que esteja bem concluído. Você deve imitá-lo se quiser ancorar firmemente esta resolução na sua alma", aconselha ele.
3rezar todos os dias
Rezar todos os dias é aprender a ouvir a voz de Deus e a sentir a sua presença. Uma boa maneira de estar ligado a Ele é ler a Sua Palavra. É como correr para Ele, deixar-se levar nos Seus braços. "Nada temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, és meu. Se tiveres de atravessar a água, estarei contigo. E os rios não te submergirão; se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e a chama não te consumirá". (Isaías 43, 1-3). Isso diz tudo.
4IR CONFESSAR-SE FREQUENTEMENTE
Por que ir à confissão? Se a confissão permanece um grande mistério, o do encontro com Deus na parte mais íntima de cada pessoa, para o santo Cura d'Ars, ela permite-nos sentir alegria e redescobrir "a alma de um filho": "a misericórdia de Deus é uma torrente que varre tudo no seu caminho. Ir frequentemente a confessar-se é deixar-se levar por este imenso amor de Deus.
5ESTAR SEMPRE PERTO DE MARIA
Quando relemos as inúmeras meditações, homilias e discursos do Papa João Paulo II, vemos que ele concluiu quase todos os seus discursos com uma saudação à Mãe de Jesus. Aquele homem, que tinha uma devoção especial a Maria, sempre salientou que existe apenas um mediador entre Deus e o homem, Cristo, e que a Virgem Maria é a melhor maneira de alcançá-Lo.
6PRATICAR O DISCERNIMENTO COMO SANTO INÁCIO NOS ENSINA
Quer seja crente ou não, os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola permitem-nos olhar para os nossos erros e corrigir o nosso comportamento. Por exemplo, o seu "exame particular e diário", destinado a sondar a própria alma. A sua repetição diária pretende afastar a alma do pecado e elevá-la ao amor de Deus. Os exercícios incluem dois exames de consciência a serem feitos todos os dias. A ser praticado o mais frequentemente possível!
7ESTAR PREPARADO PARA PERDOAR
Para não mencionar a sua dimensão moral, os estudos psicológicos e fisiológicos demonstram os efeitos benéficos do perdão. Embora seja um processo que não pode ser forçado (especialmente nos primeiros momentos após a ferida), para viver melhor, tente predispor-se ao perdão lembrando-se dos benefícios diretos para a saúde mental de quem perdoa. O perdão é simplesmente um caminho para a cura.
8NUNCA GUARDAR RANCORES CONTRA OS OUTROS
Os ressentimentos são uma toxina mortal para a alma. Mesmo que seja muito difícil dar o primeiro passo no restabelecimento de uma relação com a pessoa que lhe está a causar dor, pense que o processo de se libertar dela é para a sua própria serenidade. Para viver melhor, é essencial não guardar rancores contra ninguém.
9VIVER EM HARMONIA COM TODOS
Para São Josemaria, a chave para uma vida melhor é viver "em harmonia com todos", mostrando compreensão para com todos: "Tens de ser irmão dos teus semelhantes, tens de pôr amor – como diz São João da Cruz – onde não há amor, para colher o amor", repetiu ele.
10PROCURAR O EQUILÍBRIO CERTO
A vida muitas vezes parece estar demasiado cheia de urgências e, ao mesmo tempo, de coisas supérfluas e de superficialidade. O perigo é perder de vista o que é essencial: a nossa "falta de ser". São Bento deu este conselho surpreendentemente simples para ir sempre ao essencial: "O ser humano precisa de medidas. Ele deve encontrar constantemente um equilíbrio entre excesso e falta". Para esse grande santo, há uma tentação de ir todos numa direção, enquanto que a vida exige um equilíbrio constante nos esforços e nas atividades. Paradoxalmente, o excesso também pode envolver rezar demasiado, jejuar demasiado, corrigir demasiado ou gastar demasiada energia… Enfim, equilíbrio.