Não é uma visão comum ver um monge com um hábito e sandálias numa aula de psicanálise tendo discussões acadêmicas sobre as teorias de Freud. Mas quando a pessoa em questão é também um monge de clausura, a situação é ainda mais incomum e curiosa!
Tal foi a situação do Ir. Juan Diego del Niño Jesús durante os seus estudos em psicologia na Universidade Luis Amigó, na Colômbia.
Enquanto contava a sua história a Aleteia, este monge disse nunca ter depositado qualquer confiança na psicologia, mas sentiu que faltava algo no seu apostolado para fortalecer o acompanhamento espiritual e a vocação de almas consoladoras e acolhedoras que caracteriza a sua comunidade, os Irmãos Contemplativos do Carmo.
Da reclusão monástica às salas de aula
"Fiz votos perpétuos como monge porque não senti o chamado ao sacerdócio, e como parte da minha missão ofereço àqueles que vêm ao nosso mosteiro o acompanhamento nas suas necessidades espirituais. Sabia, no entanto, que o queria fazer de forma diferente. Foi então que o Senhor me deu uma inspiração para integrar espiritualidade e psicologia", disse ele.
O Ir. Juan Diego obteve esta inspiração enquanto estava no mosteiro de Santa Teresa de Ávila (Espanha), depois de ter pedido de joelhos esclarecimento para a sua vocação. "Na nossa saída de lá, encontrámos um padre que perguntou: 'Estás a visitar a santa mais humana?' Ela era de fato muito humana, e lá percebi que queria ser um 'monge humano'. Foi aí que me veio à cabeça a psicologia".
Com o apoio do seu prior e da comunidade, encontrou a melhor opção, uma universidade virtual onde só aos sábados é que tinha de assistir pessoalmente às aulas. Nesses dias trocou a oração, o silêncio e a solidão do seu mosteiro por trajetos de metro, estudantes barulhentos, e alguma quantidade de provocação e crítica.
Durante os seus anos de estudo, os seus colegas de turma incluíam vários ateus e pessoas que eram contra a Igreja, mas a maioria das pessoas respeitava-o. Este grande desafio de se juntar ao ritmo que os seus colegas seguiam acabou por ser um feito para o Ir. Juan Diego a nível pessoal e a nível de fé.
Um novo chamado
Ir. Juan Diego del Niño Jesús acaba de se formar após cinco anos de "sacrifício fecundo" que marcaram a sua vida.
"A psicologia na minha vocação religiosa torna-se um chamado dentro do chamado, como Madre Teresa de Calcutá costumava dizer. Com isto posso facilitar processos nas pessoas para que [as pessoas que vêm ter comigo] possam ter um encontro com o Senhor a partir de um lugar saudável na sua vida. Uma pessoa com boa saúde mental estará melhor disposta a encontrar Deus".
Ele traz consigo muitas anedotas da sua passagem pela Universidade Luis Amigó, como quando começou a aprender sobre as teorias da psicanálise de Freud, que tinha uma atitude decididamente ateia, e acabou por estar entre os temas que mais lhe agradaram. Os temas complexos e as atitudes de alguns professores que eram duros com ele nunca o desencorajaram.
"Sempre pensei que estava lá para realizar o sonho de Deus, porque Ele quer que os hospitais para a alma da minha comunidade tenham mais instrumentos de consolação".
O impacto que este passo teve na sua vida é demonstrado constantemente, como quando ouvia um homem de 35 anos que queria entregar-se a Deus mais profundamente, mas que chorava em desespero quando falava do seu pai.
"Compreendi que havia uma grande dor na sua alma, e que ele tinha de curá-la antes de prosseguir na sua relação com Deus". Uma vez que identificou e curou as questões não resolvidas na sua relação com o seu pai, foi capaz de se entregar radicalmente à sua fé".
Paixão pela cozinha
Ir. Juan Diego del Niño Jesús é formado como chef profissional. Herdou a sua paixão pela cozinha da sua avó, a quem ajudava a preparar os jantares de Natal. Isso levou-o a estudar gastronomia. Pensou que o seu futuro estava decidido, até que fez um estágio de cozinha num hotel dirigido pelos Carmelitas Descalços. "Conheci de perto a vida daquela comunidade e senti o chamado de Deus. Compreendi que queria viver um noviciado eterno", disse ele a Aleteia.
E assim há oito anos e meio atrás ele juntou-se aos Irmãos Contemplativos do Carmelo, uma congregação monástica de clausura que estava a surgir naquela altura na Colômbia. Eles não estão totalmente isolados e têm espaços de acolhida, especialmente aos domingos, quando dezenas de pessoas vão à missa e compram produtos feitos pelos religiosos para se sustentarem. Nessa área, a contribuição do Ir. Juan Diego, sendo um chefe de cozinha, é crucial.
Os religiosos têm também alguns dormitórios para oferecer hospitalidade a todos aqueles que desejam fazer retiros espirituais individuais.
Com os conhecimentos adquiridos na universidade, o Ir. Juan Diego reforçará a ajuda que a sua comunidade oferece e obterá mais frutos espirituais, pois sabe que estudou para o serviço das almas.