Não há paulistano, mesmo que more longe da região do bairro do Bixiga, que desconheça a Festa de Nossa Senhora Achiropita.
Embora seja a maior celebração católica da cidade de São Paulo, o evento se popularizou graças à programação religiosa e ao grande festival paralelamente criado com o intuito de reviver a cultura e as tradições italianas.
Aliás, foi através de fundos arrecadados com a realização dessa festa que iniciou-se, em 1926, a construção da paróquia dedicada à Nossa Senhora Achiropita.
Mas, o que poucos sabem, é que há apenas duas igrejas – em todo o mundo – dedicada à esta devoção mariana.
A origem
Além da Paróquia Nossa Senhora Achiropita, existe a igreja que deu origem a tradição: a Catedral de Maria Santíssima Achiropita, de Rossano, na região italiana da Calábria, no sudoeste do país.
Assim como os paulistanos do Bixiga, os moradores de Cosenza também se orgulham das tradições ligadas à Nossa Senhora Achiropita. Afinal, é na cidade que está devoção nasceu no século VI.
Esta tradição teve origem por volta do ano de 570, quando o monge eremita Efrém vivia em uma caverna perto de Rossano.
Na época, o príncipe Mauricio de Constantinopla, ao fugir pelo mar de uma perseguição política, desembarcou na Calábria.
Ele encontrou Efrém, que o tranquilizou afirmando que deveria retornar à sua pátria, onde não só as coisas seriam corrigidas, mas que também se tornaria imperador.
Entretanto, ele o fez prometer que, caso a previsão se concretizasse, deveria construir uma igreja dedicada à Virgem Maria no local daquela caverna.
Mauricio assentiu o pedido e deu-lhe um anel como penhor. Ele regressou para casa, tornou-se imperador, mas esqueceu de sua promessa.
O pedido de um imperador
Mas, tempo depois, Efrém viajou à Constantinopla com a intenção de devolver o anel. Quando o imperador o viu, imediatamente se lembrou da promessa.
Mauricio então ordenou que um navio com materiais de construção e vários trabalhadores partisse para a Calábria para a construção de uma igreja.
Ele também pediu que a nova igreja tivesse uma imagem da Virgem Maria.
Segundo a tradição, vários artistas tentaram pintar a imagem de Maria, mas nenhum conseguiu finalizar a obra porque o que se criava durante o dia, desaparecia por completo durante a noite.
Porém, um dia, um dos artistas que trabalharam no afresco pediu que um de seus aprendizes vigiasse o local durante a noite para cuidar de seu trabalho.
Em certo momento, o jovem se deparou com uma mulher trajando um manto brilhante que facilmente o convenceu a sair do local. Na manhã seguinte, eles viram que esta mesma mulher estava pintada no interior do templo.
Acheiropoieta: ícones que foram "não feitos pelas mãos"
O afresco de Rossano está entre os ícones que, segundo a tradição católica, surgiram de forma milagrosa, e “não pelas mãos humanas” – expressão que em grego significa Acheiropoieta.
Entre os ícones Acheiropoieta mais conhecidos pelos católicos estão o Véu de Verônica e o Santo Sudário.
Maria Santissima Achiropita
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Já o ícone da Catedral de Maria Santíssima Achiropita representa uma virgem com criança, é de estilo bizantino e sua restauração provavelmente ocorreu entre os séculos VI e VIII.
Ele retrata a Virgem Maria segurando o menino Jesus em seu braço esquerdo. Ela usa um manto vermelho escuro que também cobre sua cabeça.
No colo, a criança aponta a mão direita em direção à mãe, com num gesto de bênção e, em sua mão esquerda, há um pergaminho.
No lado direito da imagem, verticalmente, é possível ler a palavra grega "Theotokos", título grego da Virgem Maria, usado especialmente na Igrejas Católica e Ortodoxa, e que significa mãe de Deus.
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Os últimos estudos realizados a respeito da imagem revelam que o afresco passou por uma restauração, e que a imagem atual sobrepõe mais antiga.
Ele pode ser visto no altar da nave principal da Igreja, dentro de um nicho de mármore. A arquitetura da catedral remonta aos séculos XI e XII e na abóboda central seis afrescos contam a origem do ícone Acheiropoieta.
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