A Polícia Nacional da Nicarágua declarou, mediante comunicado oficial, que prendeu o bispo dom Rolando Álvarez com o fim de "recuperar a normalidade da cidadania e das famílias de Matagalpa", a cidade-sede da diocese. O bispo estava sendo mantido em cárcere privado pela ditadura de Daniel Ortega desde 4 de agosto: a partir daquela data, dom Rolando e outras oito pessoas permaneceram trancadas na cúria até o dia 19, sob cerco policial.
No dia 19, por volta das 3 horas da madrugada, os agentes invadiram a casa episcopal e levaram o bispo preso juntamente com o restante do grupo, composto por padres, seminaristas e leigos. A alegação apresentada para a invasão foi a de que o grupo estaria desempenhando "atividades desestabilizadoras e provocativas".
A organização nicaraguense Observatório Pró-Transparência e Anticorrupção denuncia que a invasão policial à cúria de Matagalpa viola a Constituição e o Código Processual Penal, que estabelecem que a invasão domiciliar só pode ser feita "entre as seis da manhã e as seis da tarde".
Uma das vozes mais reconhecidas do Observatório é a da pesquisadora e advogada Martha Patricia Molina Montenegro, autora de um minucioso relatório que registra os cerca de 200 ataques sofridos pela Igreja Católica na Nicarágua em menos de 4 anos, sob o atual governo de Ortega - e este levantamento constitui somente a primeira parte de uma série de relatórios que Martha Patricia vem elaborando.
O comunicado da Polícia Nacional sobre a prisão de dom Rolando afirma que os agentes "esperaram durante vários dias, com muita paciência, prudência e senso de responsabilidade, uma comunicação positiva da diocese de Matagalpa, que nunca aconteceu". A nota diz também que as pessoas retiradas da cúria na madrugada do dia 19 "foram transferidas, com respeito e observância de seus direitos, para a cidade de Manágua para investigações legais". Por fim, complementa que "o senhor bispo se mantém em proteção domiciliar nesta capital e pôde encontrar-se com seus familiares".
Ainda segundo a polícia, dom Rolando recebeu a visita do cardeal Leopoldo Brenes, arcebispo de Manágua e vice-presidente da Conferência Episcopal da Nicarágua.
Nesta semana, 25 ex-presidentes da América Latina e um da Espanha condenaram explicitamente a perseguição promovida pela ditadura esquerdista da Nicarágua contra a Igreja Católica na atualidade. Todos os ex-mandatários fazem parte da Iniciativa Democrática da Espanha e das Américas (IDEA), que se apresenta, em seu site oficial, como “um fórum internacional não governamental intregrado por 37 ex-chefes de Estado e de Governo”, entre os quais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, do Brasil. Na declaração em que os ex-presidentes condenam a ditadura nicaraguense, porém, salta aos olhos a ausência de assinatura de qualquer ex-mandatário brasileiro.