O disparo das contas de luz na Europa, que está tirando o sono de famílias inteiras em diversos países, tem atingido também as paróquias e dioceses católicas.
Na Itália, por exemplo, há até quem se pergunte se a Basílica de São Pedro poderia ficar às escuras no próximo Natal.
Segundo matéria do jornal La Repubblica neste último dia 20, o pároco de São Pedro, pe. Agnello Stoia, declarou que, embora a disparada dos custos de energia elétrica seja de fato preocupante, ele conta com colaborações que evitarão problemas para a basílica.
Muitas outras igrejas espalhadas pelo país, no entanto, não contam com a mesma quantidade de benfeitores capazes de ajudá-las a sustentar os custos crescentes de manter-se abertas.
Menos missas?
Uma das indagações recorrentes é se haverá menos missas, já que cada celebração exige luzes acesas, aquecimento no inverno, climatização no verão, equipamentos de som…
A Igreja na Itália não quer cortar celebrações, mas já há paróquias que ficaram sem alternativas.
A diocese de Ravenna, por exemplo, além de ver-se obrigada a reduzir o número das missas diárias, também tem optado por celebrá-las em capelas menores, que exigem menos gastos com aquecimento. Algumas paróquias chegam a pedir que os fiéis reforcem o uso de jaquetas e suéteres no interior das igrejas, já que não será possível manter o uso normal dos aquecedores.
Medidas urgentes
Em Roma, o Vicariato está ajudando paróquias a substituir as velhas caldeiras. Fontes da diocese informaram, segundo o portal Quotidiano.net, que montaram "mesas de diálogo com os gestores públicos" em busca de soluções conjuntas - até porque, nas paróquias, todas as atividades são baseadas no voluntariado e na gratuidade e muitas delas prestam serviços de interesse público independentemente da religião dos beneficiários.
Algumas paróquias, como a de Palmi, em Reggio Calabria, optaram por investir em soluções de longo prazo, como a instalação de painéis solares, mas nem todas conseguem arcar com investimentos desse tipo neste momento. A maioria, para priorizar as missas e as atividades pastorais, está cortando todos os gastos secundários possíveis: a paróquia de San Vero Milis, em Oristano, por exemplo, decidiu sacrificar o uso do campanário e manter permanentemente apagadas as luzes do relógio e dos sinos da igreja.
Cada vez mais padres têm compartilhado fotos das contas de luz nas redes sociais. É o caso, entre vários outros, dos párocos de San Vincenzo em Atessa, na província de Chieti, e de San Pio X em Giugliano, na diocese de Aversa. Este último, o pe. Francesco Riccio, mostrou a conta de julho no valor de 1.022,74 euros - equivalentes a cerca de 5.215 reais.
Obras sociais comprometidas
E não são só as igrejas que estão ameaçadas pela subida brusca e desproporcional das contas de luz e gás.
Também a reconhecida comunidade San Patrignano, dedicada à reabilitação de dependentes químicos, está em perigo de ter de fechar setores inteiros, já que só os seus custos com o gás, em agosto de 2022, chegaram a ser nada menos que dez vezes superiores aos de agosto de 2021. A conta de agosto do ano passado, que já era alta, tinha superado os 70.000 euros, mas a deste ano chegou a exorbitantes e inacreditáveis 730.148,93 euros - valores equivalentes a 3,7 milhões de reais, num único mês.
San Patrignano acolhe gratuitamente cerca de 700 jovens com problemas de dependência química. Além deles, a comunidade tem em torno de 225 colaboradores e voluntários. Seu trabalho, imprescindível, é semelhante ao da Fazenda da Esperança no Brasil.
Hospitais em apuros
Contas milionárias também estão aterrorizando as autoridades de saúde e os gestores dos hospitais locais.
No hospital Cardarelli, em Nápoles, o principal de todo o sul da Itália, só as contas de luz de 2022 devem ultrapassar a soma de 11 milhões de euros, equivalentes a 56,1 milhões de reais, enquanto as contas de gás devem somar mais de 2,5 milhões de euros, correspondentes 12,7 milhões de reais. Nos dois casos, trata-se de totais que aumentaram em mais de 100% em relação a 2021, estourando completamente o orçamento disponível.
A disparada das contas de luz e gás na Europa se deve à irresponsável dependência que grande parte dos países do continente mantêm do fornecimento de gás pela Rússia. Moscou está cortando o suprimento em retaliação às sanções que esses países lhe impuseram devido à guerra de Vladimir Putin contra a Ucrânia.